Bong Joon-ho solto demais? Mickey 17 é grandioso, mas frustrante
O diretor troca o suspense refinado por uma abordagem mais escrachada, resultando em um sci-fi ambicioso, mas que pode dividir o público.
Não espere um Parasita 2, muito menos um Memórias de um Assassino (2003) em Mickey 17. Aquela sutileza e maestria na hora de criar um suspense vira algo muito mais explicito. Dessa forma, BongJoon-ho faz um filme que tem potencial de dividir a audiência — afinal, é complicado aceitar filmes com uma abordagem mais caricata.
Nessa nova produção, acompanhamos uma ficção cientifica que gira em torno de Mickey (Robert Pattinson, The Batman), um homem mediano e deveras conformado. Após criar uma dívida enorme com um agiota cruel do planeta no qual vive, ele e seu amigo Timo (Steven Yeun, A Treta) resolvem embarcar em uma viagem de colonização comandada por Kenneth Marshall (Mark Ruffalo, Pobres Criaturas), político de caráter duvidoso e eleitores fanáticos.
Por não ser o homem mais talentoso que existe, o personagem vira um prescindível — uma pessoa que serve para testes, missões arriscadas e que morre em prol do sucesso da habitação de novos planetas (basicamente um ratinho de laboratório um pouco maior e humano).
Dado todas essas informações imprescindíveis para entender a trama e críticas propostas, preciso dizer aquele clássico: "Filmes são produtos individuais, portanto, não tem por que fazer comparações com o livro". Não só eu, como o próprio diretor levou isso à risca com o livro de Edward Ashton, Mickey7. Na obra, a origem dos personagens é bem diferente e as respectivas personalidades não são as mesmas que vimos aqui.
O uso de "17" ao invés de "7" também fomenta a premissa de uma obra recheada de momentos exorbitantes. O contra disso está no roteiro expositivo, que, com 2 horas e 19 minutos, fica quase insuportável ver os personagens explicando em diálogos tudo que sentem, pensam e fazem. Fora o humor, muito irônico e cinistas, mas, na maior parte do tempo, não tem sucesso em tirar risadas.
Os aspectos bem executados de Mickey 17ficam por conta das cenas de ação, criação desse mundo sci-fi e atuações. Esse combo de êxitos torna o longa tão bom quanto os outros do gênero. Robert Pattinson, por exemplo, entrega diversos "Mickeys" diferentes, onde modula a própria voz e corpo, trazendo uma "alma" para as versões 17 e 18 (as protagonistas)
Enquanto isso, Steven Yeun, Mark Ruffalo e Toni Collette (Mafia Mamma) atuam como se estivessem se divertido. Isso traz um ar gostoso para o filme e dá para
sentir que ficaram à vontade naqueles personagens unilaterais. Já Naomi Ackie (Pisque Duas Vezes), devo dizer que, quanto mais vejo ela atuando, mais amo essa mulher. Sua personagem é uma das poucas pessoas que gosta de verdade do Mickey e isso é muito especial; ela é uma atriz que traz muita verdade e sensualidade para seus papéis — vale a pena se ligar em produções com o nome dela envolvido.
No fim, Mickey 17 é uma viagem interessante, com a cara de um Bong Joon-ho "soltinho", mas que te deixa com um gosto amargo por não ser o que se espera do diretor.
O filme já está em cartaz nos cinemas brasileiros.
Especial de cinema da Rolling Stone Brasil
O cinema é tema do novo especial impresso da Rolling Stone Brasil. Em uma revista dedicada aos amantes da sétima arte, entrevistamos Francis Ford Coppola, que chega aos 85 anos em meio ao lançamento de seu novo filme, Megalópolis, empreitada ousada e milionária financiada por ele próprio.
Inabalável diante das reações controversas à novidade, que demorou cerca de 40 anos para sair do papel, o cineasta defende a ousadia de ser criativo da indústria do cinema e abre, em bom português, a influência do Brasil em seu novo filme: "Alegria".
O especial ainda traz conversas com Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello sobre Ainda Estou Aqui, um bate-papo sobre trilhas sonoras com o maestro João Carlos Martins, uma lista exclusiva com os 100 melhores filmes da história (50 nacionais, 50 internacionais), outra lista com as 101 maiores trilhas da história do cinema, um esquenta para o Oscar 2025 e o radar de lançamentos de Globoplay, Globo Filmes, O2 Play e O2 Filmes para os próximos meses.
O especial de cinema da Rolling Stone Brasil já está nas bancas de jornal, mas também pode ser comprado na loja da editora Perfil por R$ 29,90. Confira:
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