Hollywood vai a Cannes e garante a badalação desta edição
Festival entra na reta final e pode comemorar ano que teve glamour garantido pelos filmes de Sean Penn, Wes Anderson e Paul Verhoeven
Cannes 2021 termina neste final de semana e os filmes mais badalados já tiveram suas pré-estreias concorridas. A trinca Paul Verhoeven, Sean Penn e Wes Anderson levaram para a Croisette o cinema padrão Hollywood e não decepcionaram. Quer dizer, não decepcionaram quem esperava badalação, polêmica e o desfile de famosos. Já a recepção da crítica e também do público variou bem em cada filme.
A começar por um dos mais aguardados filmes do ano, que teve seu lançamento adiado por conta da pandemia: The French Disptach, de Wes Anderson. Além de ter sido o único longa da seleção de Cannes 2020 que ficou para a competição 2021, a trupe de Anderson fez a alegria dos fãs e fotógrafos. Afinal, em uma edição um tanto quanto mais esvaziada (somente de jornalistas, a organização estima que este ano tenha contado com pelo menos mil nomes ausentes; em geral, cerca de 4mil jornalistas de todo o mundo cobrem o evento, não se pode desprezar a presença de nomes como Tilda Swinton, Benicio del Toro, Timothée Chalamet, Bill Murray, Andrian Brody, entre outros.
The French Dispatch recebeu ótimas críticas e pode ser a chance de Anderson levar um prêmio de Melhor Direção nesta edição. O filme, a propósito, é uma homenagem ao jornalismo e, mais especificamente, à revista The New Yorker. The French Dispatch, ou A Cronica Francesa, é uma revista do século passado fundada por Arthur Howitzer Jr., vivido por Bill Murray. E ele deixou instruções bem claras: quando morrer, a revista deverá morrer com ele. Ou seja, tem de ser fechada. É a partir deste incidente que a trama se desenrola mais propriamente e o espectador conhece mais sobre cada um dos núcleos da revista e seus personagens.
Sean Penn de volta a Cannes com sua filha, Dylan Penn
Sean Penn é outro que nunca decepciona. Quer dizer, não em termos de passagem célebre pela Croisette. Já em questão de cinema, seu último filme, A Ultima Fronteira, foi um fiasco em Cannes 2016. Talvez um dos maiores fiascos da história do festival. Desta vez, o ator e diretor volta a Cannes em busca de uma redenção com Flag Day. E trouxe com ele sua filha, Dylan Penn, que estrela o filme baseado no livro de Jennifer Vogel’s no qual a jornalista conta sua história real. Jennifer é filha de um grande falsário norte-americano e tem de encontrar uma forma de fazer as pazes com o passado do pai, que é interpretado pelo próprio Sean Penn. A julgar pela recepção da crítica e os quatro minutos de aplausos respeitosos, mas não muito animados, no final da première, Flag Day redime Sean Penn, mas não muito.
O que tem se comentado é que o grande destaque do filme é, de fato, Dylan, que finalmente mostra maturidade e talento à altura dos pais (ela é filha de Penn e Robin Wright).
Paul Verhoeven causa novamente com Benedetta
Claro que a passagem de Paul Verhoeven por Cannes não iria ser discreta. O diretor que sempre causa e deixou sua marca irônica em sucessos como Instinto Selvagem, Show Girls e Elle, com o qual ele concorreu à Palma em 2016, voltou a Cannes aos 82 anos esbanjando energia e disposição para afrontar o conservadorismo.
O cineasta concorre à Palma este ano uma história, baseada em fatos reais: a de Benedetta, uma freia lésbica que chocou a Itália do século 17, interpretada por Virginie Efira. A propósito, Verhoeven é Holandês e o filme é todo falado em francês, ou seja, um filme europeu, mas o modelo de produção e direção o cineasta estão muito mais próximos de Hollywood que do clássico cinema europeu.
Dito isso, voltamos a Benedetta. Entre sua fé e a crença de que ela é uma escolhida de Deus e a ideia de que não passa de uma falsária, estão fatos como visões que ela tem com Jesus (com direito a erotismo) e um tórrido romance com uma jovem camponesa, Bartolomea, que, depois de ter sido estuprada por vários homens de sua família. é acolhida no convento onde vive Benedetta. Bartolomea é interpretada por Daphne Patakia.
A crítica se dividiu entre a aprovação total das ousadias de Verhoeven e a reprovação de sua mão sempre carregada quando o assunto é violência e sexo. Houve quem comentasse que se tratava de blasfêmia a forma como ele filmou as cenas de sexo entre Bartolomea e Benedetta, com direito a usar uma imagem de Nossa Senhora como acessório erótico.
Sobre isso, o cineasta chamou de puritanismo e apenas disse que filmou o que está no livro e não inventou nada. E defendeu que ele retrata o que as freiras, que perseguidas e jugadas à época, disseram em seus depoimentos. Verhoeven até levou na coletiva de imprensa o livro “Atos Impuros: A Vida de uma Freira Lésbica na Itália da Renascença", da historiadora Judith C. Brown, que inspirou o filme. E leu trechos para a plateia de jornalistas.
“E não se esqueçam que, em geral, quando as pessoas fazem sexo elas tiram a roupa. Eu basicamente fico chocado com o fato de que as pessoas não querem olhar para a realidade da vida. Este puritanismo, na minha opinião, é errado”, rebateu o cineasta quando soube que a imprensa até aplaudiu, na sessão, a cena em que as freiras usam a imagem de Nossa Senhora como acessório erótico.
“Este puritanismo... Eu não acho que é melhor assim. O que a gente tinha nos anos 1970, com a revolução sexual, eu diria, com o todos de top less na praia. Isso acabou. E não acho que isso não é para melhor”