"Titane" leva a Palma de Ouro em Cannes
Primeira diretora a vencer o festival em 28 anos, a francesa Julia Ducournau também é a primeira a vencer a competição sozinha
“Eu nunca vi um filme em que um Cadillac engravida uma mulher. E isso acontece em “Titane”. Genialidade e loucura se uniram.”
Assim Spike Lee, o presidente do júri do Festival de Cannes 2021, justificou a escolha do filme de Julia Ducournau para ser o grande vencedor desta edição.
Esta é a primeira vez em 28 anos que uma diretora leva a Palma de Ouro de Melhor Filme. A primeira Palma já concedida a uma mulher foi em 1993 para Jane Campion, que dividiu o prêmio com Chen Kaige, de “Adeus Minha Concubina”.
Sobre a escolha histórica, a diretora austríaca Jessica Haussner, que também integrou o júri, afirmou: “Isso (o fato de ser uma diretora mulher) não foi uma discussão quando estávamos debatendo sobre os filmes”, afirmou a cineasta explicando que, acima de tudo, a qualidade cinematográfica de “Titane” pesou na decisão.
"Espero que meu gênero não tenha influenciado nada na decisão. Ao mesmo tempo, eu pensei muito na Jane Campion nesta noite", comentou Julia quando questionada na coletiva de imprensa após a premiação sobre o fato histórico.
Julia também falou dos desafios de se fazer um cinema livre. "A libertade nunca é algo dado como garantido. É sempre uma batalha conquistar e execer a liberdade."
De toda forma, “Titane” já sairia, mesmo sem a Palma, de Cannes como sendo um dos filmes mais provocativos do festival. Houve relatos de náuseas, palmas efusivas e gente deixando a sala na première do filme.
Julia já chegou em Cannes sob grande expectativa, uma vez que seu filme de estreia “Raw”, entre outros temas, o filme faz do canibalismo um instrumento para falar da condição feminina e da chegada à vida adulta da personagem principal, uma estudante de veterinária.
Desta vez, ela expandiu ainda mais seus limites com um filmes que, segundo ela e seu produtor, não são cinema de gênero, ainda que explorem elementos do terror, suspense e do thriller.
Em Titane, a protagonista é Alexia (Agathe Rousselle, em seu primeiro papel em um longa), uma jovem que sofre ( ou provoca) um acidente de carro na infância e tem uma placa de titânio implantada no cérebro. Depois disso, ela passa a ser apaixonada por carros. E se torna uma serial killer.
Ela trabalha como promotora de carros, faz danças mais do que sexies em volta e em contato com eles. E mais. Ela os deseja e faz sexo com os carros. A crítica especializada tem apontado a cena de sexo e o que vem depois, como consequência do ato em si, uma das ideias mais malucas, ousadas e criativas dos últimos anos no cinema.
Alexia também sai com homens que frequentam os eventos, apaixados por carros e, claro, os ataca. Acaba sendo procurada e, em perigo, abriga-se em um quartel do corpo de bombeiros e conhece o personagem de Vincent Lindon. Esta é só a premissa de “Titane” que, como garantiram vários espectadores ao sair da sessão de estreia, merece ser visto na tela grande.
O filme, a julgar pelos comentários e pelas análises da crítica, une cinema de gênero, sexo, violência, sexo e desafia as convenções do desejo e de gênero.
Na coletiva de imprensa do filme, Julia foi questionada sobre o receio de provocar reações diversas no público, que ou amaria ou odiaria o filme. Ela não se abateu: “Quando a gente faz um filme assim, claro que sabemos que vamos criar uma divisão no público. Para mim, mesmo como espectadora, não é esta a questão pertinente. O importante é tocar as pessoas, seja provocando rejeição ou admiração. Se criamos uma reação nas pessoas, significa que as estamos tocando algo nas pessoas; e isso cria um debate e até mesmo um debate interior. Acho que isso é o mais importante. Se o cinema fosse um mundo de estatutos sobre as coisas, com respostas já prontas, em que todo mundo concorda, seria uma arte morta. É importante que haja discussões e é por isso que fazemos filmes. Contanto que haja reações, que haja vivacidade, estou feliz.”
CONFIRA A LIST COMPLETA DOS PREMIADOS:
Palma de Ouro
Titane - Julia Ducournau
Grande Prêmio do Júri
Hytti Nº 6 - Juho Kuosmanen
Ghahreman - Asghar Farhadi
Prêmio do Júri
Memoria - Apichatpong Weerasethakul (Tailândia)
Ha'Berech (Ahed's Knee) - Nadav Lapid (Israel)
Melhor Diretor
Leos Carax - Annette
Melhor Roteiro
Hamaguchi Ryusuke e Takamasa Oe - Drive My Car
Melhor Ator
Caleb Landry Jones - Nitram
Melhor Atriz
Renate Reinsve - Verdens Verste Menneske
Camera d'Or
Murina - Antoneta Alamat Kusijanovic
Palma de Ouro de curta-metragens
Tian Xia Wu Ya (All The Crows In The World) - Tang Yi
Menção Especial
Céu de Agosto - Jasmin Tenucci