‘Carnaval’ traz debate sobre obsessão pela fama na internet
Nova comédia nacional da Netflix aborda conflitos pessoais na vida de digital influencers, mas desliza ao manter a discussão rasa
Tem de tudo um pouco em Carnaval, novo filme nacional da Netflix.
Tem nostalgia com a representação do carnaval de Salvador.Há pouco mais de um ano de uma vida pandêmica, sem festejar nenhum feriado ou data comemorativa – e sem motivos para celebrar, diga-se de passagem –, poder ver a folia é quase mexer num vespeiro de sensações.
Tem a capital da Bahia como pano de fundo, ponto alto da trama que aproveitou as chances (poucas, é verdade) para mostrar não só a folia, mas explorar rapidamente a culinária, os pontos turísticos, rodas de capoeira e rituais religiosos.E é atual ao mergulhar no mundo das influencers.
No filme de Leandro Neri, Giovana Cordeiro é a influencer digital em ascensão Nina. Pouco depois de descobrir uma traição do namorado em um vídeo que viralizou, Nina decide superar o término em uma viagem para Salvador, trocando uma permuta pela companhia de suas três melhores amigas: Michele, interpretada pela influencer Gkay, Vivi, personagem de Samya Pascotto, e Mayra, interpretada por Bruna Inocencio.
No grupo de amigas, Nina é a única preocupada com a manutenção da sua imagem nas redes sociais e todas são muito distintas entre si, o que torna a dinâmica entre elas interessante (mas nem sempre com gingado). Michele é a amiga engraçada, preocupada em beijar na boca, mas que sempre diz as verdades necessárias à Nina e a coloca no lugar, quando necessário. Vivi é a nerd do grupo, avessa às festas enquanto Mayra é a amiga ‘natureba’, espiritualizada.
Em Salvador, o grupo começa a entrar em conflito ao perceber a importância que Nina dá para o seu trabalho como digital influencer em detrimento das próprias relações: uma das grandes questões do filme. Mas o interessante é como a comédia amplia a problemática para além da questão individual da personagem. O episódio Queda Livre da terceira temporada Black Mirror (Netflix) explorou de maneira visceral os efeitos da transposição da avaliação da sua imagem virtual para a sua realidade, e em menor forma (é claro), o filme Carnaval traz isso. Um exemplo é no trecho em que Nina não consegue uma hospedagem melhor por causa do seu número de seguidores em sua rede social.
Outro acerto do filme foi ao mostrar como a personagem de Giovana acolhe a revelação de um personagem homossexual que até então escondia a sua orientação sexual. Foi inesperado e educativo.
Mas há falhas. É tanta informação que o filme perde a oportunidade de se aprofundar nas questões que levanta e por vezes dá soluções rasas. O ‘cancelamento’ da personagem de Flavia Pavanelli é um belo exemplo. Depois de dar declarações infelizes e sofrer a retaliação de seus seguidores, Luana tem sua redenção admitindo que precisa, sim, de amizades verdadeiras em sua vida para não cometer mais esses erros.
Carnaval estreia dia 02 de junho na Netflix.
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