Cauã Reymond interpreta imperador em 'A Viagem de Pedro'
Longa da diretora Laís Bodanzky retrata o retorno do ex-imperador Dom Pedro I para Portugal, em 1831
Em uma sessão no vão livre do Masp, um dos principais cartões postais de São Paulo, a diretora Laís Bodanzky estreou seu primeiro longa histórico, A Viagem de Pedro, que conta a história da travessia do ex-imperador Dom Pedro I de volta para Portugal. Estrelado por Cauã Reymond, o filme fez parte da programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e deve chegar aos cinemas em 2022.
Em 1831, nove anos após a proclamação da independência, Dom Pedro I fugia do Brasil, onde era ameaçado pela população, para guerrear com seu irmão e tentar colocar sua filha no trono de Portugal. O filme é um recorte dessa longa viagem de barco, em um momento em que o ex-imperador vivia uma crise emocional e física.
"Me atraiu muito esse período da vida do Dom Pedro porque ele estava vivendo um momento de muita angústia, tristeza e dúvida, sendo expulso do Brasil e se preparando para uma guerra, entre um mundo e outro, sem pertencer a nenhum lugar. Eu quis mostrar quem era esse Pedro por trás do imperador", explica Laís.
Segundo a diretora, mais do que trazer luz aos fatos históricos, o filme é uma experiência sensorial que convida o espectador a fazer também essa travessia e a entender o drama psicológico pelo qual o personagem estava passando - em luto pela morte de sua mulher, a imperatriz Leopoldina; longe de seus filhos; desprezado por brasileiros e portugueses e se preparando para enfrentar as tropas de seu irmão.
Ao assistir ao filme, temos a impressão de que estamos dentro da cabeça de Pedro, um homem que vive uma crise de identidade e é tomado pela culpa. Ao mesmo tempo em que é assombrado por flashes de seu passado, com cenas de violência contra Leopoldina e o esforço de manter uma imagem pública 'homem do povo', ele é perturbado por alucinações e tem conversas imaginárias com seu irmão.
Para escrever o roteiro, Laís se debruçou sobre livros históricos que retratam o período, mas também sobre obras que estão fora da 'história oficial'. A ideia da diretora era mostrar, também, quem eram os escravizados que fizeram essa viagem junto com o ex-imperador - homens e mulheres que trabalhavam para manter a sociedade da época e que foram relegados ao esquecimento histórico.
"Os escravizados compunham uma população imensa do Brasil naquela época. De onde eles vieram? Quem eram eles? Que língua eles falavam? Queria tentar mostrar por meio dessa viagem o que era o Brasil daquele período. Só olhamos para aqueles que viraram estátua, e esquecemos que, para eles estarem ali, muita gente foi oprimida. Não dá para falar dessa figura, considerada por muitos um herói, sem falar dessa população", conta.
Para a diretora, o filme dialoga com os tempos atuais ao questionar o papel dessas figuras históricas. "Vimos recentemente em todo o mundo a derrubada de estátuas de opressores que foram alçados a esse lugar de herói. Herói por que? Herói para quem? O filme traz esse questionamento", comenta.
O Terra conversou com a cineasta Laís Bodanzky sobre as inspirações e a pesquisa para escrever o roteiro, as mensagens que o filme traz para o Brasil contemporâneo e a situação do cinema nacional. Confira a entrevista no vídeo!