'Coisa Mais Linda': as primeiras impressões da 2ª temporada
Embates raciais, feminicídio, afeto negro, sororidade, machismo, feminismo, segunda temporada da série da Netflix traz importantes debates
ATENÇÃO, O TEXTO CONTÉM SPOILERS.
A beleza do Rio de Janeiro, embalado pela bossa nova e pelo samba serviram de contraste para o chocante fim da primeira temporada de Coisa Mais Linda. Um gancho triste que será rapidamente respondido com o retorno da série original da Netflix, na próxima sexta-feira, 19, para a sua segunda temporada com mais sete novos episódios. O Terra assistiu ao quatro primeiro episódios, confira a seguir as primeiras impressões.
Sororidade. A palavra que movimentou as redes sociais por causa de Manu Gavassi, durante sua participação no Big Brother Brasil, reality show da TV Globo, pode ser também o substantivo que resume o melhor da série. Coisa Mais Linda conta a história de mulheres, em um período – fim dos anos 1950, início dos anos 1960, em que a palavra feminismo não era usada, apesar de aplicada. E independente da problemática apresentada, Malu (Maria Casadevall), Theresa (Mel Lisboa), Adélia ( Pathy DeJesus), Lígia (Fernanda Vasconcellos), na primeira temporada, e Ivone (Larissa Nunes), na segunda temporada, mostram que a união desse grupo é um dos pontos fortes dessa história.
Para a retomada da temporada, o telespectador logo descobre o desfecho de Lígia. E a série acerta em trazer o feminicídio para o debate, principalmente pelo período em que vivemos. De acordo com dados divulgados em junho deste ano, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, casos de feminicídio subiram 22,2% em março e abril em dados coletados junto a 12 Estados brasileiros. E a morte do personagem afeta cada uma de suas amigas de uma maneira particular.
Para Theresa, ampliando a discussão em tratar a violência doméstica como uma responsabilidade civil, em meio a dor da própria personagem. O que é muito rico para quem está assistindo. Já para Malu, o efeito dessa perda fica claro com o retorno do ex-marido Pedro (Kiko Bertholini). Por mais que ela esteja mais forte, mais decidida, por um breve período, a morte de sua amiga a impacta em uma espécie de inércia autoprovocada, e ela fica sem saber o que fazer. Mas logo ela retoma o seu propósito e, para a segunda a temporada, Malu procura cada vez mais o seu espaço profissional, mesmo que para isso tenha que enfrentar o machismo dentro de casa, no ambiente de trabalho e na política.
Outro acerto em Coisa Mais Linda foi com Ivone, personagem de Larissa Nunes. A irmã de Adélia ganha mais espaço e engrossa os “embates” raciais com Malu. Para quem acompanhou a primeira temporada sabe que uma das cenas mais emblemáticas se passou entre as personagens de Maria Casadevall e Pathy DeJesus, quando Adélia deixa claro os privilégios brancos que Malu possui. Espere mais desse trio.
Outro belo encontro, que já tinha sido iniciado na primeira temporada, foi entre Theresa e Adélia. No que podemos chamar de “maternidade” dividida da Conceição, nasce também uma discussão interessante de respeito de raízes, diferenças culturais, raciais e, porque não, feminismo. Fica a torcida para que nos três episódios restantes o afeto negro seja mais explorado na série, que ganha muito com as cenas do Ícaro Silva (Capitão), Val Perré (Duque), Eliana Pittman (Elza) e Sarah Vitória (Conceição).
Vale a pena assistir?
Vestida de roupa de época, algumas polêmicas poderiam até se distanciar de 2020. Mas não é necessário ir muito longe para perceber o racismo e o machismo que se vive hoje em dia. Coisa Mais Linda tem certa leveza, principalmente quando se pensa nos temas que trata. Mas se olharmos bem, as feridas dos anos 1950, 1960 só estão com roupas novas. E esse é um dos motivos para assistir à série.
A primeira temporada acertou muito em trazer um grupo diferente de mulheres para enfrentar o machismo da época, que perdura. E plantou uma semente interessante para a segunda temporada que, espero eu, saiba colher. Desde a cena entre Malu e Adélia que evidencia o abismo entre o feminismo negro e o branco, Coisa Mais Linda faz um serviço social se explorar mais desse tema, além de continuar a explorar o feminismo, o machismo nos ambientes familiares e de trabalho.