Desencantada e a importância de julgar um filme pelo que ele é
Continuação de Encantada tem sofrido duras críticas, mas será que o "hate" não está além do que o filme se propôs a ser?
Encantada se destacou em 2007 por dar vida à uma nova princesa da Disney, enquanto também ironizava todo excesso de magia e delicadeza que é marca do estúdio desde 1937, quando lançou Branca de Neve e os Sete Anões. Passados 15 anos, Giselle de Andalasia retorna em Desencantada, para novamente brincar com o mundo dos contos de fadas, mas a recepção da crítica não tem sido muito calorosa.
E aí entramos na questão central dessa conversa: faz sentido criticar duramente um filme despretensioso, feito para o streaming, realizado mais pela vontade da equipe e do elenco do que por uma necessidade do estúdio ou por alguma pretensão artística elevada? Não estou falando sobre gostar ou não do filme, essa é uma rota livre, mas de entender dentro da análise crítica qual o sentido de cobrar sempre o mesmo para obras com propostas diferentes. Nessa conta também entra a expectativa, já que o longa original se destacava justamente pela abordagem inusitada em um gênero que costuma bater sempre na mesma tecla. A continuação, por outro lado, escolhe uma trama coerente, mas confortável, muito mais preocupada com seus elos emocionais do que em estabelecer um novo paradigma para a fantasia.
Não estou culpando os críticos, que fique bem claro, apenas proponho que a gente repense certos hábitos da cobertura de entretenimento que culminam em uma valorização excessiva da opinião negativa, como se essa fosse naturalmente mais honesta, inteligente e correta. Entender o lugar de cada coisa é fundamental principalmente em uma época de intensa produção de conteúdo para as plataformas de streaming. Isso quer dizer que se deve abandonar o senso crítico e aceitar qualquer obra, por mais genérica que seja? Mais uma vez, claro que não. O problema é não somar os fatores que formam uma opinião pessoal ao contexto daquilo que está sendo avaliado. Dessa forma, corre-se o risco de cobrar a profundidade de Bergman de um desenho de palitinho (relação meramente ilustrativa, já que desenhos de palitinho podem ser extremamente profundos como na animação indicada ao Oscar O Menino e O Mundo).
Toda uma conversa séria para falar sobre um filme muito simples, para você ver como essa questão de dar opinião é muito mais complexa do que a internet faz parecer. Uma conversa que está apenas começando nesta coluna (em breve vamos falar sobre Wandinha, a nova série da Netflix que adapta A Família Addams, e prometo colocar muita lenha nessa fogueira). Por enquanto deixo aqui a nossa Análise Honesta de Desencantada, em que falamos um pouco mais sobre o longa, sua falta de pretensão (e como isso nos agradou):