Coprodução brasileira, "Frances Ha" retrata uma jovem pouco convencional
Frances (Greta Gerwig) tem quase 30 anos e não achou seu rumo na vida. Não que ela não saiba o que pretende de seu futuro: quer dançar. Porém, para poder viver de sua arte, a moça precisa passar por percalços, muitos, aliás. Começa com o básico: onde morar? O que comer? Como pagar as contas? Numa sociedade que valoriza o status econômico, é possível ser feliz com pouco?, indaga o filme "Frances Ha".
Segundo o diretor Noah Baumbach ("A Lula e a Baleia") e Greta - ambos autores do roteiro - a resposta à pergunta é que talvez seja possível, mas não é nada fácil. A boa notícia é que não é preciso sacrificar os sonhos para poder viver num mundo onde tudo é mercadoria. No entanto, talvez seja necessário adiar os projetos ou adaptar-se às condições que se encontra. É por esse processo que passa a protagonista.
De tempos em tempos, quando fica mais sem dinheiro do que sua média, Frances precisa mudar de casa. Começa dividindo o apartamento com a melhor amiga, Sophie (Mickey Sumner). Quando esta resolve morar com outra colega num bairro mais caro de Nova York, Frances passa a dividir um outro apartamento com dois amigos que mal conhece (Michael Esper e Adam Driver) e que, por sorte, são gente boa. Quando esse esquema também não dá certo, Frances está novamente em busca de um novo apartamento numa cidade em que o custo da moradia é altíssimo.
É nessa jornada de Frances em busca de um canto para chamar de seu que a atriz e o diretor fazem um estudo de personagem delicado e plausível, de uma moça que parece estar sempre vivendo num limite, sendo cobrada de coisas que, para ela, no fundo, não interessam tanto - desde que ela possa continuar a dançar.
Como aprendiz em uma companhia renomada, ela não tem qualquer destaque ou muitas chances de futuro. Frances está sempre correndo. Em busca de um apartamento, levando sua mudança ou mesmo indo até o caixa eletrônico sacar dinheiro para jantar, uma vez que ela não tem como manter um cartão de crédito.
Baumbach nunca foi um diretor preocupado em criar personagens carismáticos ou mesmo simpáticos. Nicole Kidman, em "Margot e o Casamento", Ben Stiller, em "O Solteirão", Jeff Daniels, em "A lula e a baleia", viviam na tela criaturas arrogantes e, muitas vezes, insuportáveis, criadas pelo diretor.
A beleza de seu cinema pode residir exatamente aí: em buscar o que há de humano em pessoas de quem, normalmente, não gostaríamos. Com Frances é um pouco diferente, pois ela é mais doce do que esses outros personagens. É mais fácil torcer por ela. Muito desse sentimento também se deve à interpretação precisa da atriz.
Coprodução entre Estados Unidos e Brasil, "Frances Ha" é uma produção independente que poderia facilmente cair nos cacoetes do gênero. Mas Baumbach evita as armadilhas e faz um filme generoso e honesto, sobre uma jovem mulher que foge das convenções - assim como o filme escapa da pasteurização pela qual passa o cinema norte-americano.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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