‘Dom’ entrega drama emocionante sobre vício e afeto
Baseado em história real do criminoso Pedro Dom, nova série original Prime Video traz atuação brilhante de elenco e narrativa cativante
Abordar uma temática já tão explorada em diferentes obras carrega sempre um desafio maior de se destacar com algo novo. Seja uma técnica inovadora, um recorte de história inédito, uma narrativa original. Trabalhar com histórias sobre o vício de drogas tem esse peso. Talvez por isso o diretor e showrunner Breno Silveira (Entre Irmãs, Dois Filhos de Francisco, Gonzaga: de Pai para Filho) tenha levado 12 anos para acatar o pedido de Victor Lomba, amadurecer a ideia de levar a vida de seu filho Pedro Dom para as telas.
A espera valeu a pena. Na série nacional original Prime Video, que estreia nesta sexta-feira, 04, Gabriel Leone é Pedro Dom. Um jovem de classe média do Rio de Janeiro, viciado em cocaína desde a infância, que acaba virando líder de uma quadrilha que assaltava edifícios de luxo. Flavio Tolezani interpreta Victor Dantas, o seu pai. O personagem enfrenta as drogas desde a década de 1970. Primeiro trabalhando no serviço de inteligência da polícia, e depois dentro de casa, na tentativa de resgatar o filho do vício.
Dom começa com um cold open arrebatador, que é impossível não ser fisgado. Em uma sequência explosiva, cheia de emoção, os atores Gabriel Leone e Flávio Tolezani demonstram uma total sincronia e entrega aos personagens. A grata surpresa é que esse nível de entrega e qualidade é mantido em todos os episódios, e com todo o elenco.
A partir de então, a série se desenvolve em duas linhas narrativas que se entrelaçam. Nos anos 1970, e tendo, portanto, a ditadura como pano de fundo, a partir da juventude de Victor. Nesse período é possível acompanhar não só a trajetória profissional do personagem até o serviço de inteligência da polícia no combate às drogas, mas também testemunhar a introdução da cocaína nas comunidades e favelas cariocas e a evolução do narcotráfico na América Latina. Dos anos 1980 até os anos 2000, a trama é mais focada em Pedro Dantas, ou Pedro Dom. Os anos que se seguem mostram desde a infância e o início do seu vício, passando por suas diversas internações em clínicas de reabilitação e terminando em sua ascensão como líder de uma quadrilha.
Entre flashbacks, a trama é amarrada de tal forma que a montagem parece ter sido pensada milimetricamente. Um destaque vai para a sequência que mostra Pedro Dom sendo preso em uma fundação para menores infratores ao mesmo tempo em que, anos mais tarde, é acolhido pelo pai após uma overdose. O grande trunfo da série é de fato o seu enfoque afetivo. Não só as atuações de pai e filho deixaram transparecer as feridas abertas do vício, mas quando a família entrava para a equação, o resultado final era só mais emoção. Aqui vale ressaltar também o lindo trabalho de evolução dos personagens.
E ainda que não fosse o objetivo principal, o enredo ganhou camadas interessantes ao tratar a temática em plano macro. Serviu para ilustrar didaticamente o quão complexo é a questão do vício no Brasil.
Forte presença feminina
Parte do elenco do Morro das Tabajaras, Isabella Santoni e Raquel Villar integram a quadrilha de Pedro Dom dando vida às personagens Viviane e Jasmim. Com atuações igualmente brilhantes, os seus enredos completam o intricado quadro do que significa possuir um vício.
De um lado Viviane, branca, de classe média. Do outro, Jasmim. Moradora de uma comunidade, órfã e vítima de um relacionamento abusivo. Ambas vítimas. Para dar vida às personagens, Isabella e Raquel mergulharam na cena musical funk da época e Santoni fez aulas de pole dance. O resultado é uma Isabella que nunca vimos antes em cena. Dom não seria a mesma série sem elas.
Dom estreia nesta sexta-feira, 04, na Amazon Prime Video.