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Em "Até o Fim", Robert Redford atua só em aventura com clima de terror

6 mar 2014 - 13h17
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Numa época em que o excesso da comunicação é a lei, "Até o Fim" vai na contramão, reduzindo-se a um minimalismo verbal, concentrando-se no esforço físico de seu protagonista -interpretado com vigor e empenho por Robert Redford, do alto de seus 77 anos.

Num barco perdido no meio do oceano Índico, entre a Indonésia e Madagáscar, pouco sabemos sobre ele. É um homem sem passado, nome ou família. O que se conhece sobre ele é apenas seu presente.

Em seu segundo longa, J. C. Chandor, também vai na contramão de sua estreia - "Margin Call - O Dia Depois de Amanhã" - no qual imperavam os excessos (de personagens, diálogos, astros de Hollywood), mas fazia um retrato preciso da cadeia alimentar canibalística do mercado financeiro. Aqui, apenas um ator, meia dúzia de falas consigo mesmo, e muita água.

Sem qualquer parafernália com quem contracenar - como uma bola de vôlei em "Náufrago", um tigre em "A Vida de Pi", ou George Clooney em "Gravidade"- a força do filme está em Redford, seu esforço físico, seu olhar de desespero pela vida. Ele passa pouco mais de hora e meia flutuando na água e tentando manter-se vivo. Enfim, essa é uma meditação sobre a vida e a morte - e a necessidade de saber abraçar uma das duas quando preciso for.

Nos créditos, é conhecido apenas como Our Man (Nosso Homem). Como é interpretado por Redford com toda seriedade e dignidade, é impossível não tomar partido dele. Seu sofrimento é o nosso, sua luta pela vida, a nossa. A dimensão existencial de sua jornada solitária é mais "O Velho e o Mar", de Ernest Hemingway, do que "Robinson Crusoe", de Dafoe - ou seja, é mais metafísica sem deixar de lado um quê de comentário social.

Quem é esse homem? Ele está nos detalhes. É casado (usa aliança), é rico e instruído, sabe lidar com o barco sem precisar de ajuda. Nosso homem também é o sujeito contemporâneo consumista - repare-se na quantidade de bens de consumo espelhados pelo pequeno perímetro da embarcação. O fato de que seu desastre comece por conta de sapatos de criança também é revelador.

Ainda assim, há algo de alegórico, pois não há nada de mais assustador do que um pequeno barco pequeno e solitário num oceano hostil: a grandiosidade da natureza ameaçando engolir ao homem. Esse é um filme de terror.

Produções recentes como "Até o Fim" e "Gravidade", em suas solidões existenciais, nos lembram de nossas fragilidades e da falsa segurança das tecnologias. O fim de qualquer possibilidade de comunicação é a sentença de morte dos personagens - o retorno ao básico da sobrevivência, a possibilidade de vida.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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