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Esposa de Woody Allen fala pela 1ª vez sobre suposto assédio

Previn concedeu uma entrevista à New York Magazine e falou ainda do relacionamento conturbado com a mãe, a atriz Mia Farrow

17 set 2018 - 13h57
(atualizado às 14h18)
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Após décadas de silêncio, a esposa de Woody Allen, Soon-Yi Previn, falou pela primeira vez sobre as acusações de assédio do marido contra Dylan Farrow e sobre o tratamento que recebeu da mãe, Mia Farrow, durante a infância.

Esposa de Woody Allen, Soon-Yi Previn quebra o silêncio sobre acusações de assédio e criação abusiva da mãe, Mia Farrow
Esposa de Woody Allen, Soon-Yi Previn quebra o silêncio sobre acusações de assédio e criação abusiva da mãe, Mia Farrow
Foto: Jamie McCarthy/Getty Images / AdoroCinema

Em uma entrevista concedida à New York Magazine e publicada na Vulture, Previn defende Allen e alega que Mia Farrow tinha comportamentos abusivos.

Adotada por Mia Farrow e seu então marido Andre Previn em 1978, Soon-Yi começou um relacionamento com Allen em 1991, aos 21 anos. Ela explica que nunca viu no cineasta uma figura paterna, e relata que eles eram como "dois ímãs, muito atraídos um pelo outro." O cineasta revela o seu lado da história: "Eu sou um pária. As pessoas pensam que eu era o pai de Soon-Yi, que eu estuprei e me casei com minha filha menor de idade e 'retardada'."

Soon-Yi relata a sua vida na residência dos Farrow, em descrições que muito diferem do que alegam Mia e Dylan Farrow. "Eu não podia me dar ao luxo de fazer bagunça. Lutei pela sobrevivência desde a infância", conta, explicando que desde sempre sua relação com Farrow era como se elas fossem "óleo e água."

"Mia não foi maternal comigo desde o início. Eu nunca havia tomado um banho sozinha, porque no orfanato havia uma banheira grande e todas nós entrávamos juntas. Então lá estava eu, sozinha, com medo de entrar na água. Então, ao invés de fazer o que você faria com uma criança — sabe, talvez entrar na água junto, colocar alguns brinquedos, colocar o braço para mostrar que não é nada perigoso — ela só me jogou lá dentro."

Além disso, ela também descreve que havia um certo favoritismo. "Era uma hierarquia — ela não tentava esconder, e Fletcher era a estrela, o menino de ouro. Mia sempre valorizou inteligência e visual, cabelos loiros e olhos azuis. Ela tentou me ensinar o alfabeto com blocos de madeira. Se eu não acertasse, às vezes ela os jogava em mim ou no chão. Quem consegue aprender sob essa pressão?"

As descrições de Soon-Yi são semelhantes ao relatado por Moses Farrow, adotado por Mia em 1980 e que também lembra de comportamentos semelhantes da mãe. "É uma lua de mel quando você é adotado, então as veias param de saltar e você passa a ver Mia por quem ela realmente é."

Moses Farrow, filho de Mia Farrow, acusa mãe de abuso psicológico e defende Woody Allen.

Soon-Yi conta que o relacionamento com Allen começou quando ela já estava na Universidade.

"Pelo que eu lembro, eu voltei da Universidade durante algum feriado e ele me mostrou um filme do Bergman, acho que era O Sétimo Selo. Conversamos sobre o filme e eu devo tê-lo impressionado, porque ele me beijou e foi assim que começou."

À época, Allen ainda era casado com Mia, que descobriu sobre os encontros quando encontrou fotos nuas de Previn em meio aos objetos de Allen.

"Eu sabia que eu não tinha saída", recorda. "É claro, ela me deu um tapa. Então ela ligou para todo mundo. Ela não conteve a situação, ela a espalhou como fogo, e então ela estava gritando com Woody. Enquanto isso, Dylan e Satchel [Ronan] eram muito pequenos, com 6 e 4 anos. Eles ouvem a mãe enlouquecida, gritando por horas no meio da noite."

Woody Allen se pronuncia sobre as acusações de abuso sexual de sua filha, Dylan Farrow

No ano seguinte, 1992, Farrow teria ligado para a irmã de Woody Allen, Letty Aronson, alegando: "Ele tirou a minha filha, eu vou tirar a dele", referindo-se a Dylan.

Em resposta, o jornalista Ronan Farrow emitiu um comunicado.

"Devo tudo o que sou a Mia Farrow. Ela é uma mãe devota que passou por um inferno pela família enquanto tentava criar um lar amoroso para nós. Mas isso nunca impediu Woody Allen e seus aliados de plantarem histórias atacando e vilificando minha mãe para desacreditar as alegações de abuso muito críveis contra a minha irmã. Como irmão e filho, sinto raiva da New York Magazine por participar neste tipo de trabalho sujo, escrito por uma admiradora e amiga de longa data de Woody Allen. Como jornalista, estou chocado pela falta de cuidado com os fatos, com a recusa de incluir testemunhas oculares que contradizem as alegações do artigo, e a falha de incluir as respostas completas de minha irmã. Os sobreviventes de abuso merecem mais do que isso."

As entrevistas foram conduzidas por Daphne Merkin, que no próprio texto explica que é amiga de Allen há mais de 40 anos, um ponto que foi criticado também por demais jornalistas nas redes sociais, devido à falta de imparcialidade.

No Twitter, Dylan Farrow também se pronunciou oficialmente:

"Woody Allen me molestou quando eu tinha sete anos de idade, parte de um padrão comportamental documentado e inapropriado, toques abusivos que levaram o juizado a dizer que não havia evidências de que eu fui coagida ou de que aquilo era um ambiente perigoso para eu permanecer na presença de Woody Allen. A autora escreveu sobre sua amizade e seu fascínio por Woody Allen. A ideia de deixar uma amiga de um acusado de abuso escrever um artigo unilateral atacando a credibilidade de sua vítima é nojenta. Quando a New York Magazine fez contato comigo, eles descreveram múltiplas falsidades óbvias. A autora até sugeriu que a minha mãe havia me subornado para mentir com uma boneca que não seria produzida até anos depois. A história ainda inclui fatos fabricados sobre a minha mãe enquanto esquece de mencionar que um promotor encontrou causas prováveis de abuso de Woody Allen, e que ele estava na terapia em virtude da fixação com o meu corpo. Minha mãe nunca me subornou, mas ela permaneceu ao meu lado, mesmo quando Woody Allen fez um inferno na vida dela através de advogados, publicistas e aliados como a autora deste texto. Graças à minha mãe, eu cresci em uma casa incrível, com amor, que ela criou. Tenho uma mensagem para a imprensa e para os aliados de Woody Allen: ninguém está 'me exibindo como uma vítima'  — eu continuo sendo uma mulher adulta fazendo uma alegação crível e que não mudou há duas décadas, apoiada por evidências. Minha única hesitação é a forma como a minha mãe se tornou um alvo como resultado disso, tal é o caso aqui. Vergonha para a New York Magazine."

A porta-voz da New York Magazine, Lauren Starfe, defendeu  o veículo:

"Soon-Yi Previn está contando a sua história pela primeira vez, e nós esperamos que as pessoas guardem o julgamento para depois que tiverem lido o artigo. A relação de Daphne Merkin com Woody Allen é abordada como parte da história, assim como o motivo por que Soon-Yi só está falando agora. Tentamos falar tanto com Mia e com Dylan Farrow em busca de comentários; Dylan optou por falar apenas por representantes. A história é transparente a respeito de ser contada pelo ponto de vista de Soon-Yi."

Veja também:

Esses acusados de abuso ainda têm trabalho:
AdoroCinema
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