"Eu precisava acreditar que era possível", diz Corey Hawkins sobre interpretar médico negro
Ator protagonizou o terror 'A Última Viagem de Demeter', dando vida a um médico formado em Cambridge no século XIX
O longa A Última Viagem de Demeter, que estreou na última quinta-feira, 24, nos cinemas brasileiros, é um exercício de imaginação. O norueguês André Øvredal, que comanda o leme de mais uma adaptação do clássico Drácula, lançado em 1897 e escrito por Bram Stoker, brinca de esticar um único capítulo do livro, expandindo os "Diários do Capitão".
Ao invés de dar ao capitão Elliott (Liam Cunningham) o protagonismo, o roteiro elege o médico Clemens (Corey Hawkins) como fio condutor da história. Um pouco cético, como o seu personagem, Hawkins só topou participar do desafio depois de atestar o que podia ser possível, mesmo em uma história de vampiro.
"Eu fiz muita pesquisa. Eu precisava acreditar que era possível, saber que era possível, então fizemos muita pesquisa sobre um estudante negro em Cambridge", afirmou o ator, em entrevista exclusiva ao Terra, antes da greve dos atores, que começou em julho de 2023.
"Naquela época [século XIX], existiam médicos americanos negros estudando em Cambridge, ou em outras universidades na Inglaterra. Não eram muitos, mas eles estavam lá. [...] Isso me fascinou, era algo com qual eu podia trabalhar, e adicionamos o elemento sobrenatural", conta.
Segundo o ator, seu personagem é um homem da ciência, não de meio-termo. Mas nessa viagem, em que a tripulação precisa levar uma carga misteriosa da Romênia até a Inglaterra, não parece haver uma explicação para tudo.
O que parece apenas um mau agouro, se torna um terror maior: animais aparecem mutilados, homens começam a desaparecer. Quando Drácula finalmente se revela, a viagem torna-se um verdadeiro inferno.
O ator Liam Cunningham, que dá vida ao capitão da embarcação e responsável por escrever os diários, é um dos personagens que sofre a maior quantidade de reveses.
"Uma das coisas que eu mais gostei é que eles não são super-heróis, são trabalhadores, provavelmente analfabetos. Não existem militares treinados no navio. Eu gosto da ideia de serem seres humanos, e que você pode se conectar com eles", disse o ator, que também conversou com o Terra antes da greve.
Besta imparável, não conde sedutor
O filme tem flutuações. A inspiração clara em clássicos como Alien, O Oitavo Passageiro (1979) ou O Enigma de Outro Mundo (1982), filmes que mostram um grupo isolado obrigado a combater uma entidade maligna, resvala na caracterização do grande vilão. Drácula está muito mais próximo de uma besta imparável, do que do conde sedutor e perigoso.
O resultado é divertido quando o diretor explora os ângulos escuros do navio, mas fica à deriva e empolga pouco. Sobra a boa vontade dos atores com os seus papeis.
Perguntado se ele imagina como seriam as continuações, as perspectivas de Corey Hawkins são otimistas. "Se ele conseguir superar essa viajem, as possibilidades com Clemens são infinitas", conclui.