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Filme 'O Debate' discute política em meio à história de um casal

Primeiro longa de Caio Blat, com Paulo Betti e Débora Bloch, se passa em redação de TV e destaca importante papel da imprensa na democracia

25 ago 2022 - 05h10
(atualizado às 15h09)
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'O Debate' é protagonizado por Debora Bloch, Paulo Betti e conta com direção de Caio Blat
'O Debate' é protagonizado por Debora Bloch, Paulo Betti e conta com direção de Caio Blat
Foto: Ricardo Brajterman

Caio Blat é o primeiro a admitir: "Vou parar de importunar meus diretores. Vivia dando sugestões nos sets". Consciente, ou inconscientemente, ele se preparava para o grande salto - tornar-se diretor.

Sua estreia no longa ocorre com O Debate. O filme entra em cartaz nesta quinta, 25. "Trabalhamos em regime de urgência. A ideia era estrear o filme ainda em agosto, coincidindo com o início da propaganda eleitoral, para tentar interferir no processo." O Debate baseia-se na peça de Guel Arraes e Jorge Furtado, que assinam o roteiro. "O filme já estava sendo rodado e o roteiro mudava para que a gente pudesse incorporar falas e situações da vida real."

Processo eleitoral

Por vida real entenda-se o processo eleitoral. O filme se passa à sombra do último debate entre presidenciáveis.

O próprio Caio faz o mediador. Aparece num estúdio de TV, anunciando os blocos. Cada um deles corresponde a um momento na vida do casal interpretado por Débora Bloch e Paulo Betti. São jornalistas, ele começa o filme como chefe dela. A relação se desgasta. E embora o debate, propriamente dito, nunca apareça, ambos comentam o tempo todo os candidatos.

'O Debate' estreia nesta quinta-feira (25) nos cinemas
'O Debate' estreia nesta quinta-feira (25) nos cinemas
Foto: Divulgação

Pelas dicas, fica claro que são os dois que hoje polarizam a disputa. Na segunda, 22, Jair Bolsonaro iniciou a série de entrevistas do Jornal Nacional com os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas. Nesta quinta, 25, quando o filme chegar às salas, será a vez do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O repórter destaca a coincidência. Caio o corrige: "Trabalhamos muito, e rapidamente, para chegar ao que você pensa que é coincidência. Não sabíamos as datas, a ordem das entrevistas nem quem iria participar, mas o conceito sempre foi fazer um filme que ajudasse na discussão de ideias e dos grandes problemas que estão afligindo o Brasil".

Bergman

Uma boa maneira de definir O Debate é dizendo que o filme filtra O Mercado de Notícias, que Jorge Furtado realizou a partir da peça de Ben Jonson, e pelas Cenas de Um Casamento, de Ingmar Bergman. O papel da imprensa na democracia está no centro de tudo, permeando a discussão, mas a história é a do casal.

Caio destaca o que não é coincidência. "Quem conhece a obra de Bergman vai identificar, porque temos uma cena de diálogo do casal que homenageia o filme dele."

Rodado e editado rapidamente, mas com muita preparação prévia, O Debate se ressentiu de algumas dificuldades. "Filmamos entre as variantes Delta e a Ômicron. Os atores inicialmente escolhidos positivaram na covid e foi preciso buscar outros", Furtado assinala. "Felizmente, o Betti todo mundo sabe que é um ser político. A Débora entrou e surpreendeu a gente, porque já estava, como cidadã, preparada para toda essa discussão."

Ensaios

Como é um filme com muitos planos-sequência, Caio ensaiou com o fotógrafo Gustavo Hadba ainda sem o elenco, com figurantes que sinalizavam as marcações de onde a câmera deveria estar.

O diretor faz um agradecimento especial a Guel Arraes. "No primeiro dia, filmamos uma cena que não estava dando certo. Ela truncava sempre na mesma hora. O Guel, que nesse dia estava com a gente no set, se deu conta de que a cena parava com o Paulo (Betti) de costas, e a gente podia cortar, dublando o som. Pode parecer pouco, mas foi muito importante. O filme fluiu a partir daí", explica o diretor.

Guel e Furtado elogiam o ator que virou diretor. "O Caio fez um grande trabalho com os atores. Agora é esperar pela repercussão."

Caio Blat aprendeu muito com seus diretores e faz uma estreia sólida

Longa marca estreia de Caio Blat na direção
Longa marca estreia de Caio Blat na direção
Foto: Divulgação

O primeiro longa Caio Blat não esquece. Bem antes de Luiz Fernando Carvalho gritar "Ação!" no set de Lavoura Arcaica, que adaptou do romance de Raduan Nassar, ele já estava fisgado pelo cinema. "Tivemos uma preparação longa e o Luiz é muito meticuloso. Eu olhava, observava, e dizia para mim mesmo que era o que queria fazer."

Passados mais de 20 anos - Lavoura é de 2001 -, Caio está lançando seu primeiro longa nos cinemas, O Debate. Não vacila quando o repórter pergunta o que mais retém da experiência. "Dirigir exige muito preparo, todas as etapas são importantes, mas meu maior prazer é o trabalho com os atores."

Paulo Betti e Débora Bloch. O filme conta a história desse casal de jornalistas, cuja ligação está por um fio. Em vez de contar linearmente, o roteiro escrito por Guel Arraes e Jorge Furtado - a partir da peça deles - seleciona cenas de um casamento que vão sendo encaixadas nos blocos que o próprio Caio Blat, como mediador, vai chamando no debate decisivo entre os presidenciáveis na disputa de 2022. Eles não são nomeados, mas você vai identificá-los. As características de ambos, destacadas nas discussões do casal, são mais do que evidentes.

O papel da imprensa

O Ibope pode ou não pode, deve ou não deve ser divulgado? E na última cena - apurados 70% dos votos, quem está na frente?

Você tem de ver o filme. Vale a pena. Caio Blat faz uma estreia sólida. Aprendeu muito com seus diretores. Foram muitos, não dá para citar todos. Helvécio Ratton, Hector Babenco, José Eduardo Belmonte, Cláudio Assis, Júlia Rezende e um grande etc. Ele diz que chegava a ser chato nos sets, querendo dar sugestões. Tinha de fazer o próprio longa.

O interessante é que o trio criador de O Debate está junto em outro projeto, mas dessa vez Caio interpreta, Furtado e Guel escrevem e o segundo dirige. Uma transposição - transcriação? - de Grande Sertão: Veredas no meio das comunidades, com seus problemas de desigualdade, de polícia, de drogas e violência. Quando Guel o chamou para o filme, Caio vacilou. Já havia Guimarães Rosa - esse Guimarães - no teatro, com Bia Lessa. "Achei que estaria me repetindo, mas o roteiro aponta para outra coisa." Essa outra coisa nós, o público, somente vamos descobrir em 2023. A partir desta quinta, em pleno processo eleitoral, o que interessa é O Debate.

Estadão
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