Academia do Oscar se recusou a apoiar cineasta detido por israelenses, diz codiretor
Yuval Abraham critica o silêncio da Academia dos EUA diante da agressão a Hamdan Ballal, codiretor de 'Sem Chão', filme vencedor do Oscar de Melhor Documentário
O codiretor israelense Yuval Abraham, responsável pelo documentário vencedor do Oscar 2025, Sem Chão, expressou sua indignação com a recusa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos em se posicionar publicamente sobre o ataque sofrido por Hamdan Ballal, cineasta palestino e também codiretor do filme. Ballal foi espancado por colonos israelenses na Cisjordânia e posteriormente detido pelo exército de Israel. O incidente gerou uma mobilização internacional.
Em uma postagem no X (antigo Twitter), Abraham lamentou a atitude da Academia, que não emitiu nenhum comunicado de apoio a Ballal durante o período em que ele foi espancado e torturado. "A Academia dos Estados Unidos, que nos concedeu um Oscar há três semanas, se recusou a apoiar publicamente Hamdan Ballal enquanto ele era espancado e torturado por soldados e colonos israelenses", escreveu o cineasta.
Sadly, the US Academy, which awarded us an Oscar three weeks ago, declined to publicly support Hamdan Ballal while he was beaten and tortured by Israeli soldiers and settlers.
The European Academy voiced support, as did countless other award groups and festivals. Several US…
— Yuval Abraham ???? ????? (@yuval_abraham) March 26, 2025
Abraham destacou que a Academia Europeia expressou solidariedade, assim como várias outras premiações e festivais. Contudo, a pressão de membros da Academia dos EUA, especialmente da categoria de documentários, não foi suficiente para que a entidade tomasse uma posição pública.
"Nos disseram que, como outros palestinos também foram agredidos durante o ataque dos colonos, isso poderia ser considerado não relacionado ao filme, e por isso não viram necessidade de responder", afirmou Abraham.
O ataque a Hamdan Ballal aconteceu em sua vila natal, Susya, localizada na Cisjordânia. De acordo com relatos, o cineasta foi agredido na última segunda-feira, 24, por um grupo de aproximadamente 20 colonos mascarados, muitos deles adolescentes armados com pedras, paus e facas. A violência foi tão intensa que Ballal sofreu ferimentos graves na cabeça e no estômago. A situação piorou quando soldados israelenses invadiram a ambulância que havia sido chamada para socorrê-lo, levando-o sob custódia militar. A partir desse momento, o cineasta ficou desaparecido até ser libertado pelo exército israelense na terça-feira seguinte ao ataque.
A mobilização para a libertação de Ballal começou com um post de Abraham, que alertou sobre a situação de emergência do colega cineasta e pediu apoio imediato. Além de seu trabalho como cineasta, Hamdan Ballal é conhecido por sua atuação na defesa dos direitos humanos, especialmente na documentação de incidentes relacionados à ocupação israelense e nas iniciativas de apoio à comunidade palestina em situações de violência e repressão.
Abraham ainda sugeriu que a Academia poderia reverter sua decisão e emitir uma declaração condenando o ataque a Ballal e à comunidade de Masafer Yatta. "Não é tarde demais para mudar essa posição. Mesmo agora, emitir uma declaração condenando o ataque a Hamdan e à comunidade de Masafer Yatta enviaria uma mensagem significativa e serviria como um impedimento para o futuro", concluiu.
