'Alien: Romulus' é o maior acerto da franquia desde 'Aliens: O Resgate', de 1986; saiba por que
Filme do uruguaio Fede Alvarez tem referências como 'Blade Runner' e 'Jurassic Park', mas sem deixar de ser original. Estrelado por Cailee Spaeny, longa é destaque entre as estreias da semana
A primeira meia hora de Alien: Romulus, filme que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 15, pode confundir. Um desavisado pode pensar que está assistindo a um filme da franquia errada - afinal, a fotografia de Galo Olivares e a direção do uruguaio Fede Alvarez gritam por Blade Runner. A história começa numa colônia de trabalho, em um futuro distópico, em que a escuridão tomou conta: não há esperança e androides se confundem com humanos.
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É ali que está Rain (Cailee Spaeny), jovem que sonha em fugir do mundo de trabalho forçado para encontrar uma nova casa. A oportunidade surge, enfim, quando ela e seu androide (David Jonsson) embarcam com amigos em uma missão que parece não ter muitos riscos: embarcar em uma nave à deriva e seguir viagem até o planeta-oásis.
Mas, ainda que pareça, Alien: Romulus não é Blade Runner - duas franquias, aliás, criadas pela mente de Ridley Scott. Acabam aqui as discussões existenciais, e esse aspecto futurista sem esperança, para cairmos dentro de uma nave sem escapatória. Rain, o robô Andy e seus amigos pensam que a nave em que estão embarcando é a oportunidade. Mas, como é de praxe nos filmes de Alien, não é assim que funciona: a nave é o berço do caos.
Gato e rato sofisticado
Pode parecer mais do mesmo, principalmente para os que se lembram bem da história de O Oitavo Passageiro, Aliens e até de filmes que imitam essas tramas, como Vida. Mas, por mais que Alvarez realmente beba da fonte dos filmes originais, há algo de realmente criativo por aqui: não só a estética da produção está preocupada em criar um ambiente opressor, que amplifica a escuridão, como a trama quer atingir aquilo que todos gostam: diversão.
Dentro da nave, que é dividida em duas áreas chamadas de Remo e Romulus, xenomorfos aguardam o momento ideal para voltar à vida e atacar. Ignorantes da situação, os jovens desconhecem o problema que os cerca. Mas nós, espectadores, sabemos que cada passo é um passo em direção à morte. Alvarez, que já tinha mostrado habilidade nessa diversão mórbida em A Morte do Demônio e O Homem nas Trevas, se diverte junto com nós.
Na superfície, Romulus não deixa de ser um filme de gato e rato, em que esses humanos e um androide tentam simplesmente viver e sobreviver enquanto criaturas entram no caminho. Mas, conforme avança, vemos que é um jogo de gato e rato mais sofisticado: assim como a primeira meia hora traz Blade Runner, há ecos de outros grandes filmes aqui. Uma cena em que os personagens tentam passar por uma sala lotada de criaturas lembra o que Spielberg fez em Jurassic Park, com crianças tentando sobreviver ao Velociraptor.
Alvarez se inspira em clássicos e cria algo que, mesmo lembrando coisas que já vimos, sabe como ter sua própria identidade. Muito disso também recai em Spaeny: a atriz, que está no grande ano de sua carreira com Priscilla, Guerra Civil e agora Romulus, sabe como administrar o peso de uma protagonista de Alien. É cedo para dizer que é tão boa quanto a Ripley de Sigourney Weaver, mas chega perto. É uma atuação que mescla determinação, medo e desespero em iguais medidas, colocando verdade mesmo em cenas absurdas.
Um final absurdo
Absurdo, aliás, é algo que Alvarez parece não ter medo. Ele, ao lado do outro roteirista, Rodo Sayagues, sente os limites de uma franquia como Alien na meia hora final. Não tem medo do ridículo e, apesar de decisões criativas que podem afastar parte do público, mostra ousadia. A franquia sempre flertou com símbolos sexuais - o formato fálico do xenomorfo, por exemplo. Em Romulus, vemos o resultado desses símbolos na simbiose perfeita.
Alien: Romulus, assim, se torna o melhor filme da franquia desde Aliens: O Resgate, de 1986. Se afasta da bobagem cômica de Alien vs. Predador, assim como também não quer ser tão cabeça - e chato - como Prometheus ou Covenant. Não quer criar universos de forma forçada, não se preocupa em ser um filme em função de uma mitologia. Quer contar uma boa história e se divertir. E é assim, sem se preocupar, que acerta em cheio, enfim.