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Biografia de Eder Jofre emocionou Festival de Gramado em 2018

Boxeador, que morreu neste domingo, 2, teve sua vida retratada no filme '10 Segundos para Vencer'

2 out 2022 - 13h17
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Eder Jofre morreu neste domingo, 2, aos 86 anos ( para relembrar sua trajetória). Diagnosticado com uma doença neurológica degenerativa há cerca de sete anos, vinha em situação delicada de saúde desde 4 de março deste ano, quando foi internado por conta de uma pneumonia. A vida do maior peso galo do boxe em todos os tempos foi tema da cinebiografia 10 Segundos para Vencer, lançada em 2018.

O crítico Luiz Zanin Oricchio acompanhou a estreia do longa no Festival de Gramado em 24 de agosto de 2018 e fez uma análise ao Estadão. Confira a íntegra abaixo:

Entre jabs, esquivas e uppercuts, chegou à tela do Palácio dos Festivais o até agora mais emocionante concorrente de Gramado - 10 Segundos para Vencer, cinebiografia do nosso super campeão de boxe, Éder Jofre. O filme é dirigido por José Alvarenga Jr. Daniel de Oliveira interpreta Eder adulto e Osmar Prado, em trabalho incrível, encarna o pai do pugilista e seu treinador, Kid Jofre.

Deve-se dizer que 10 Segundos para Vencer é aquele tipo dois em um - pelo menos. É filme sobre pugilismo como nenhum outro feito até agora no Brasil (nos Estados Unidos há toda uma coleção de obras-primas sobre o esporte, como Punhos de Campeão e Touro Indomável, por exemplo). Mas é, também e talvez acima de tudo, um filme sobre o relacionamento entre pai e filho.

O filme acerta também na recriação de clima, na São Paulo da Zona Leste nos anos 40 e 50, quando o argentino Kid Jofre mantinha sua Academia de Boxe e depositava todas suas fichas no talento de um irmão de sua mulher, Zumbanão (Ricardo Zelli), forte como touro, porém brigão, mulherengo e incontrolável. Com essa carreira promissora indo pelo ralo, sobra o jovem Éder, então dividido entre o boxe e um curso de desenhista no Liceu de Artes e Ofícios.

Em tom naturalista e com boa carpintaria clássica, Dez Segundos para Vencer percorre a trajetória de Éder, das primeiras vitórias ao desafio da primeira luta nos Estados Unidos, contra o então segundo do ranking, o mexicano Elóy Sanchez. Outras lutas clássicas são reconstituídas, como as com Joe Medel e José Legrá.

A trajetória profissional de Éder se estende de 1957 a 1976 e foi a mais estupenda de um boxeador brasileiro. Campeão do mundo em duas categorias - Galo e Pena - Éder é considerado, por especialistas, um dos dez maiores pugilistas de todos os tempos. Está no Hall da Fama, nos Estados Unidos, Meca da modalidade.

Eder projetou-se numa época em que tudo no Brasil parecia ir de vento em popa. No intervalo de poucos anos, entre o final dos anos 50 e começo dos 60, nos tornamos campeões mundiais de boxe, futebol e tênis, construímos uma nova capital no meio do nada, surgiu uma música moderna e internacional como a bossa nova, um novo teatro agitava a cena e o Cinema Novo despontava. Éramos reis, nesse tempo de otimismo e Éder era um dos nossos ídolos maiores, nosso herói positivo. A depressão viria logo depois.

O filme se concentra nessa realização de sonho, partilhado entre pai e filho. O sacrifício do sucesso, a dedicação fanática à vida esportiva, com o suplício do corpo que precisa emagrecer sem perder o vigor, a família sempre em segundo plano - tudo isso é mostrado, com vigor e inteligência. E o resultado, no ringue, vem sob a forma de lutas reconstituídas com realismo e verossimilhança, graças às imagens de Lula Carvalho, um bamba.

Daniel de Oliveira, Osmar Pradoe EderJofrena pré-estreia de '10 Segundos Para Vencer"
Daniel de Oliveira, Osmar Pradoe EderJofrena pré-estreia de '10 Segundos Para Vencer"
Foto: JF Diorio/Estadão / Estadão

O ritmo do filme é empolgante e não se volta apenas aos fãs da nobre arte. É uma obra sobre o núcleo familiar e seus problemas, sobre o desafio da gente pobre de abrir caminhos com seus próprios punhos (no caso, de maneira literal). E, como dissemos, sobre a relação entre pai e filho. Daniel de Oliveira decerto está ótimo como o rapaz cheio de energia, ambição mas também cercado de dúvidas quanto ao seguimento da carreira e consequente sacrifício da vida familiar. É artista dedicado e adquiriu corpo e maneiras de pugilista.

Já Osmar Prado, como Kid Jofre, é simplesmente magnífico. A meu ver, a maior interpretação masculina deste festival. Duro e obstinado, este capo familiar persegue seu objetivo com mão de ferro, e impõe sua disciplina aos outros. No entanto, a grandeza do ator está em fazer respirar o disfarçado afeto que inspira sua dureza e lhe dá sentido.

Belíssimo e emocionante filme.

Estadão
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