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'Borderlands' até se esforça, mas é um dos grandes desastres do cinema do ano

Apesar da tentativa do diretor Eli Roth de recriar o universo do videogame, filme mais se parece com uma paródia barata de ficção científica

16 ago 2024 - 17h10
(atualizado às 17h21)
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Improvável. Esse é o adjetivo que mais se encaixa com tudo ao redor de Borderlands, adaptação cinematográfica do videogame de sucesso e que está em cartaz nos cinemas. Afinal, este é mais um projeto que estava rondando Hollywood havia anos, mas que nunca se concretizava. Parecia um mito, uma lenda. Até que, do nada, tudo andou.

Kevin Hart (Roland), Cate Blanchett (Lilith), Jamie Lee Curtis (Tannis), Ariana Greenblatt (Tiny Tina) e Florian Munteanu (Krieg) em 'Borderlands'.
Kevin Hart (Roland), Cate Blanchett (Lilith), Jamie Lee Curtis (Tannis), Ariana Greenblatt (Tiny Tina) e Florian Munteanu (Krieg) em 'Borderlands'.
Foto: Katalin Vermes/Lionsgate/Divulgação / Estadão

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O longa é uma tradicional space opera ("ópera espacial"), que segue a essência do game: Lilith (Cate Blanchett) é uma caçadora de recompensas contratada por um poderoso para ir à um planeta às margens da galáxia e resgatar sua filha perdida. Mas, chegando lá, as coisas ficam imprevisíveis: a menina não parece estar interessada em retornar ao pai e, ao seu redor, estão figuras como um soldado baixinho (Kevin Hart) e um psicopata (Florian Munteanu).

Em busca de uma identidade

É um filme simples, na essência, mas que envolve algo extremamente complexo: criar uma identidade própria. As primeiras conversas sobre Borderlands começaram em 2015, quando o cineasta e roteirista Leigh Whannell (O Homem Invisível, Upgrade) abraçou o projeto. As primeiras conversas começaram a pipocar, só que o projeto logo desandou. Eli Roth, um diretor mais lembrado por seus trabalhos no cinema de terror, acabou sendo a opção final.

Mas, de novo, a escolha por Roth esbarra nesse problema essencial de criar uma identidade. O jogo de Borderlands toma de inspiração inúmeros filmes que trafegam nesse universo da ficção científica - de Star Wars a Mad Max. Para se tornar um filme, é essencial que o cineasta se afaste um pouco dessas influências diretas e tenha algo a dizer.

Kevin Hart (Roland), Cate Blanchett (Lilith), Jamie Lee Curtis (Tannis), Ariana Greenblatt (Tiny Tina) e Florian Munteanu (Krieg) em 'Borderlands'.
Kevin Hart (Roland), Cate Blanchett (Lilith), Jamie Lee Curtis (Tannis), Ariana Greenblatt (Tiny Tina) e Florian Munteanu (Krieg) em 'Borderlands'.
Foto: Katalin Vermes/Lionsgate/Divulgação / Estadão

Roth parece não conseguir. Borderlands às vezes lembra uma colagem de filmes de ficção científica que não deram certo, como O Destino de Júpiter e Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, enquanto em outros parece um filme feito por fãs querendo imitar Star Wars e até Alita, bom filme que se saiu bem de bilheteria em 2019. Difícil pensar em algo, dentro do filme, que tenha uma cara própria, uma identidade, algo que o torne, de pronto, identificável.

E é aí que voltamos ao adjetivo inicial: improvável. Não só o projeto, que parecia relutar em vir à vida, mas tudo que o envolve. Roth tem uma mão muito pesada para o horror e não sabe criar uma aventura, como já tinha mostrado no esquisito O Mistério do Relógio na Parede. E o elenco é espantoso: as oscarizadas Blanchett (Blue Jasmine) e Jamie Lee Curtis (Halloween), Jack Black e Kevin Hart (ambos em Jumanji), Edgar Ramírez (Jungle Cruise).

Pode chamar a atenção em um primeiro momento, mas depois só causa estranheza. Há um claro desconforto em partes dos atores ali presentes, principalmente Blanchett - a inusitada presença dela, aliás, faz Borderlands parecer uma daquelas piadas em que um filme faz uma esquete do que Hollywood se transformou. Tudo é artificial, estranho, desconfortável.

'Borderlands' leva o jogo de videogame para o cinema, e fracassa
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Foto: Katalin Vermes/Lionsgate/Divulgação / Estadão

Borderlands foge do propósito em ser divertido - algo que parece simples, mas que é mais complexo do que colocar piadinhas com Jack Black como um robô. Estranho, o filme não consegue passar a barreira do desconforto e sequer compreender com quem está falando.

Crianças? Violento demais. Adolescentes? Não vão se conectar com atores e história. Adultos? Bobinho demais. É um filme sem propósito, sem caminho, sem rumo. E isso é a pior coisa que pode acontecer com uma história. E, assim, Borderlands recai na antiga maldição de filmes baseados em videogames, sem nunca fazer jus à história que faz tanto sucesso nos consoles. Será que não é melhor procurar novas ideias em outros lugares?

Estadão
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