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Como tecnologia de impressão 3D ajudou a criar bonecos de 'Pinóquio', de Guillermo del Toro

Animação que está disponível na Netflix usou o recurso para aprimorar as características do personagem na tela

5 jan 2023 - 15h10
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THE NEW YORK TIMES - Desde seus primeiros estágios de desenvolvimento, há mais de 15 anos, Pinóquio de Guillermo del Toro foi concebido como uma produção em stop-motion. O diretor explicou: "Ficou claro para mim que o filme precisava ser feito em stop-motion para contar a história de um boneco que vive em um mundo habitado por outros bonecos que pensam que não são bonecos".

Ele também sabia que os principais membros do elenco deveriam ser construídos pelo estúdio britânico Mackinnon and Saunders. "Eles são os melhores do mundo", disse ele em uma recente entrevista por videochamada. "Os papéis principais do filme precisavam ser fabricados por eles". Como disse a produtora Lisa Henson: "Eles fazem coisas que outros construtores não têm paciência nem experiência para fazer".

Pinóquio de Guillermo del Toro é o exemplo mais recente da eflorescência da animação stop-motion. Durante décadas, a técnica foi ofuscada pela animação desenhada e, mais tarde, pelas imagens geradas por computador. Mas as novas tecnologias permitiram aos artistas criar performances vívidas que rivalizam com outras mídias.

Artistas e técnicos da Mackinnon and Saunders levaram a tecnologia stop-motion a uma direção totalmente nova para A Noiva Cadáver (2005), inventando sistemas de engrenagens minúsculas que cabem dentro da cabeça dos bonecos. Os animadores ajustavam as engrenagens entre os quadros para criar expressões sutis: Victor, o noivo da personagem-título, podia levantar a sobrancelha ou a ponta do lábio no início de um sorriso. Essa técnica também deu vida a O Fantástico Sr. Raposo (2009) e Frankenweenie (2012).

"Tim Burton e Guillermo del Toro nos trazem a história e nos dão espaço para dizer: 'O que podemos fazer com esses personagens? Vamos encontrar algo novo para fazer'", disse Ian Mackinnon, um dos fundadores da empresa.

Ele comparou a mecânica dentro das cabeças das marionetes aos componentes de um relógio suíço. "Essas cabeças não são muito maiores do que uma bola de pingue-pongue ou uma noz", disse ele, explicando que o animador move as engrenagens colocando uma pequena ferramenta na orelha do personagem ou no topo de sua cabeça. "As engrenagens estão ligadas à pele de silicone do boneco, permitindo que o animador crie as nuances que você vê na tela grande do cinema", disse ele.

A introdução de cabeças com engrenagens foi parte de uma série de ondas de inovação em stop-motion que trouxeram visuais que nunca foram possíveis para a tela. Nick Park e os artistas da British Aardman Animations esculpiram novas sutilezas na animação de argila em Creature Comforts (1989) e The Wrong Trousers (1993). Enquanto isso, O Estranho Mundo de Jack (1993) da Disney apresentou a nova tecnologia de restituição facial. Uma biblioteca de expressões tridimensionais foi esculpida e moldada para cada personagem; um animador tirava uma seção do rosto e a substituía por uma ligeiramente diferente entre as exposições. Depois o Laika Studios, com sede em Portland, Oregon, levou essa técnica ainda mais longe, usando impressão 3D para criar rostos, começando com Coraline (2009).

Para Pinóquio, que estreou na Netflix alguns meses depois que a Disney lançou a versão parcialmente animada da história de Robert Zemeckis, a maioria dos bonecos foi construída na ShadowMachine em Portland, onde a maior parte do filme foi filmada. Pavio, o menino humano com quem Pinóquio faz amizade no filme, "tem fios nos cantos da boca que estão ligados a um sistema de engrenagens", explicou Georgina Hayns, ex-aluna de Mackinnon e Saunders que foi diretora de fabricação de personagens na ShadowMachine. "Se você gira a engrenagem dentro da orelha no sentido horário, ela puxa a linha superior e cria um sorriso. Se você gira no sentido anti-horário, ela puxa uma linha inferior, o que produz uma cara fechada. É realmente incrível".

Esse foi o resultado de um processo que começou em 2008, quando a equipe de Mackinnon e Saunders fez alguns dos primeiros protótipos. "Quando a Netflix deu luz verde para o filme em 2018, estávamos prontos, só esperando", disse Mackinnon. "Se tivéssemos tentado fazer Pinóquio dez ou quinze anos atrás, a tecnologia não estaria disponível".

Embora cabeças mecânicas sejam usadas para a maioria dos personagens principais do filme, o próprio Pinóquio foi animado com rostos de reposição. Como ele tem que parecer feito de madeira, precisava ter uma superfície dura, disse o supervisor de animação Brian Leif Hansen, explicando que 3 mil rostos foram impressos. "Suas expressões são mal-humoradas; os rostos mecânicos parecem mais suaves e fluidos que o Pinóquio. Ele é construído de forma diferente e animado de uma maneira diferente, para ser diferente".

O personagem é o primeiro boneco de metal impresso em 3D, disse Hansen. Por ser magro, "a única maneira de deixá-lo forte o suficiente foi imprimir em metal. Ele é um carinha forte, muito difícil de quebrar. Os animadores adoraram mexer com ele".

O estúdio já fez bonecos tão grandes quanto os marcianos em "tamanho real" de Marte Ataca (1996), mas a maioria dos bonecos de stop-motion são do tamanho de bonecas Barbie: Pinóquio tem 24 centímetros de altura. As criações sofisticadas permitiram que del Toro e seu codiretor, Mark Gustafson, conseguissem as atuações de que precisavam. Eles buscaram inspiração nos filmes de Hayao Miyazaki, cujos personagens pensam, param e mudam de ideia enquanto se movem.

"Tive um momento de iluminação assistindo a Meu Amigo Totoro, quando o pai tenta calçar o sapato: ele erra duas vezes, aí acerta na terceira tentativa", explicou del Toro. "Miyazaki diz que se você animar o ordinário, será extraordinário. Então optamos por mostrar erros como este, porque queríamos dar vida aos personagens".

Ele estimou que 35 cenas tiveram de ser refeitas porque "dissemos: 'O personagem está se movendo, mas não vejo o personagem pensando nem sentindo'. Os pequenos gestos falhos ou hesitações antes de um movimento dizem: 'Este personagem está vivo'".

Gustafson disse que os gestos falhos eram especialmente difíceis "porque a intenção tem de ser visível. Na verdade, não é um erro. Acho que nossos cérebros estão programados para reconhecer quando um gesto é falso, de algum jeito, então trabalhamos muito para fazer com que essas coisas parecessem o mais natural possível".

Os artistas podem alterar ou retrabalhar a animação gerada por computador e 2D durante a produção, mas, quando os animadores stop-motion começam a mover um boneco, precisam continuar até o final da cena - ou começar tudo de novo. Eles não podem alterar o que já filmaram, assim como um ator não pode parar no meio do caminho, dar uns passos para trás e atravessar o set de um jeito diferente.

"Stop-motion é a forma de arte em animação que é mais análoga ao live-action, porque você está fazendo um movimento real, do ponto A ao ponto B", disse del Toro. "Você não pode editar. Você está lidando com cenários de verdade e adereços de verdade, iluminados por luz de verdade. Stop-motion é para o live-action o que Ginger Rogers é para Fred Astaire: fazemos os mesmos passos, de trás para frente, de salto alto". / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Estadão
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