David Lynch, histórico diretor de 'Veludo Azul' e 'Twin Peaks', morre aos 78 anos
Notícia foi confirmada pela família do cineasta nas redes sociais: 'Há um grande buraco no mundo agora que ele não está mais conosco'
David Lynch, diretor lendário de filmes como Veludo Azul (1987) e criador da série Twin Peaks (1990-1991), morreu aos 78 anos.
A notícia foi confirmada nesta quinta-feira, 16, pela página oficial do diretor no Facebook. "É com profundo pesar que nós, sua família, anunciamos o falecimento do homem e artista, David Lynch. Gostaríamos de ter um pouco de privacidade neste momento. Há um grande buraco no mundo agora que ele não está mais conosco. Mas, como ele diria, "Fique de olho no donut e não no buraco". É um lindo dia com sol dourado e céu azul por todo o caminho", diz o comunicado.
It is with deep regret that we, his family, announce the passing of the man and the artist, David Lynch. We would...
Publicado por David Lynch em Quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
No ano passado, Lynch revelou que havia sido diagnosticado com enfisema pulmonar após uma vida de tabagismo. Na época, relatou que provavelmente não conseguiria mais sair de casa para trabalhar.
O cineasta americano, nascido em 1946 na cidade de Missoula (estado de Montana), foi celebrado por sua visão única e obscura no cinema. Se distinguiu pelo uso intensivo de elementos surrealistas em suas narrativas. Ele explorava sonhos, subconsciente e realidades alternativas, criando histórias que desafiam a lógica linear e convidam à interpretação. Seus filmes muitas vezes deixam perguntas sem resposta, incentivando os espectadores a buscar significados ocultos.
Ele se destacou na década de 1970 com o surreal Eraserhead (1977). Em seguida, lançou O Homem Elefante (1980), indicado a oito prêmios no Oscar.
Em 1984, concebeu a primeira adaptação de Duna, livro de Frank Herbert, e depois foi indicado novamente ao Oscar de Melhor Diretor com Veludo Azul, estrelado por Isabella Rossellini.
Outros trabalhos de destaque de sua carreira foram Cidade dos Sonhos (2002), Coração Selvagem (1990), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, e Estrada Perdida (1997).
Sua obra de maior popularidade, no entanto, foi na televisão. Twin Peaks virou símbolo cultural ao explorar a história de investigação do agente do FBI Dale Cooper e o assassinato da estudante de colegial Laura Palmer na cidade ficcional que batiza a série. O projeto recebeu diversos prêmios, como Emmy e Globo de Ouro.
Em 2008, ele veio ao Brasil pela primeira vez, para divulgar seu livro Em Águas Profundas - Criatividade e Meditação. Na ocasião, deu palestras em São Paulo, Rio, Brasília e Porto Alegre. Na capital paulista, atendeu fãs na Livraria Cultura do Conjunto Nacional e participou do programa Roda Viva, da TV Cultura.
Ele também teve um envolvimento significativo com o mundo da música, um aspecto menos conhecido de sua arte multifacetada. Lynch não apenas compôs trilhas sonoras atmosféricas para seus próprios filmes e séries, criando ambientes sonoros que complementaram suas histórias, mas também se aventurou como músico e compositor. Ele lançou álbuns solo, como Crazy Clown Time e The Big Dream, onde explora territórios musicais que vão do dream pop ao eletrônico experimental.
Lynch ainda demonstrou seu talento na publicidade, dirigindo comerciais para marcas como Calvin Klein, Georgia Coffee, Sony e Armani.
Seu último filme como diretor foi Twin Peaks: The Missing Pieces (2014), compilado de cenas excluídas e inéditas. Em 2016, o cineasta foi tema do documentário David Lynch: A Vida de um Artista.
Em 2017, ele fez sua penúltima participação como ator no longa-metragem Lucky, de John Carroll Lynch. A performance derradeira foi em Os Fabelmans (2022), de Steven Spielberg, interpretando o diretor John Ford.
Em 2019, Lynch lançou sua autobiografia Espaço para Sonhar (Bestseller). No ano seguinte, ganhou um Oscar Honorário pelo conjunto da obra.
Recentemente, Lynch empreendeu um esforço ambicioso para arrecadar 7 bilhões de dólares para a Meditação Transcendental e construir "palácios da paz" ao redor do mundo.
Nos últimos anos, o diretor viralizou na internet, especialmente entre o público mais jovem, ao informar reportes meteorológicos em Los Angeles, onde morava, por meio de pequenos vídeos no X (antigo Twitter) e no Youtube.