'Derrapada' leva literatura inglesa pop de Nick Hornby ao cenário do Rio de Janeiro
Filme brasileiro inspirado em romance 'Slam', do inglês Nick Hornby, tem Nanda Costa no elenco e conta a história de um casal que precisa enfrentar uma gravidez fora de hora
Alicia (Heslaine Vieira) e Samuca (Matheus Costa) vivem o melhor da adolescência: a paixão. Eles se conheceram na sala de aula e estreitaram laços durante uma ocupação da escola. Os dois amam como se não houvesse amanhã, se não tivessem mais provas e se o vestibular fosse um fantasma distante. Até que ela engravida e tudo muda. Essa é a história de Derrapada, filme que estreou nesta quinta-feira, 22.
Nanda Costa interpreta Melina, a jovem mãe de Samuca, que engravidou quando era adolescente. Dirigido por Pedro Amorim (Mato Sem Cachorro), o longa é um "coming of age", filme de amadurecimento, que fala sobre dois jovens passando por essa prova de fogo em que a vida é colocada em marcha de espera.
De maneira contraditória, tudo acontece rápido demais, mas, ao mesmo tempo, parece ficar em suspenso. Ela passa a se preocupar com a faculdade. Ele deixa o skate, sua outra paixão, de lado. "Tratamos desse assunto de forma direta e verdadeira, não de forma fantasiosa", diz Pedro ao Estadão.
A trama é adaptada do livro Slam, do escritor inglês Nick Hornby, mas ganhou um tratamento especial e bastante brasileiro. O subúrbio britânico vira Madureira, no Rio de Janeiro. O contexto dos personagens se transforma. E Alicia passa pela maior mudança.
"No livro, a Alicia só queria ser modelo. Era uma loirinha de olhos azuis, patricinha", contextualiza o diretor. "A gente também quis colocar um pano de fundo forte, no caso a ocupação das escolas em 2016, para fortalecer a personagem, com ideais fortes".
O resultado é um filme politizado, com muitos comentários sobre sociedade e os relacionamentos. Mas tudo aparece de forma despojada, do jeito que as pessoas dessa idade entendem. Se vale de animações, da linguagem do skate e, curiosamente, brinca até com a música clássica - As Quatro Estações, de Vivaldi, embala um dos momentos mais emblemáticos do longa-metragem.
"Uma das inspirações é Boyhood", diz Pedro Amorim, citando o filme de Richard Linklater. "Mostramos as agruras do jovem de subúrbio. É importante ter essa janela para que a gente consiga falar sobre isso sem juízo de valor. Deslizes acontecem na vida de qualquer um".
Derrapada é uma janela para a realidade
Dá para enxergar Alicia e Samuca em amigos, parentes, conhecidos. O próprio Pedro Amorim colocou muito de sua experiência na história. Afinal, ele, que era skatista como Samuca, engravidou sua então namorada aos 16 anos, mas fizeram um aborto. "Esse filme me interessou em saber o que teria acontecido com a minha vida se eu tivesse tido esse filho", explica o cineasta.
Outra pessoa que é prova de como essas histórias estão fincadas na história do País é Nanda Costa. Na vida real, a atriz vê sua personagem como sendo sua mãe. Afinal, ela engravidou de Nanda na adolescência, quando tinha 16 anos. A atriz é hoje mãe de duas meninas.
"A Melina foi tudo que eu tive medo de ser quando era jovem. Tinha medo de engravidar, de repetir o erro da minha mãe. Eu morria de medo de ser mãe adolescente", conta Nanda Costa ao Estadão. "Depois, me tornei mãe aos 35 anos, que foi a idade que minha avó se tornou avó. A vida imita a arte, a arte imita a vida. Por isso é importante falar sobre isso".