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Diretor de 'Holy Spider' vai de misógino a feminista em poucos meses

A percepção sobre o filme mudou depois da onda de protestos de mulheres no Irã pelo assassinato da jovem Mahsa Amini.

19 jan 2023 - 05h11
(atualizado às 11h44)
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Foto: Profile Pictures

'Holy Spider' parece feito sob medida para a atual situação do Irã, com as mulheres liderando uma onda de protestos pela morte de Mahsa Amini após sua detenção por usar o hijab de maneira inapropriada, em setembro. Mas o filme dirigido pelo iraniano Ali Abbasi, sobre um assassino em série que matava prostitutas, estreou em maio, no Festival de Cannes, de onde saiu com o prêmio de melhor atriz para Zar Amir-Ebrahimi. O longa, que chega nesta quinta (19), aos cinemas do Brasil e à Mubi dia 10 de março, foi indicado pela Dinamarca – onde vive o diretor iraniano – para uma vaga no Oscar de produção internacional e está entre os semifinalistas.

Abbasi, conhecido por 'Border' (2018), vencedor do prêmio da mostra Um Certo Olhar de Cannes, trabalhou por cerca de 15 anos no projeto de 'Holy Spider'. Sua inspiração é o caso real de Saeed Hanaei – o 'Spider Killer', aranha assassina, que matou 16 mulheres entre 2000 e 2001, a maioria delas trabalhadoras do sexo e/ou viciadas em drogas.

Hanaei acreditava estar "limpando" a cidade de Mashhad, e muita gente o considerava um herói. "Acho que essa onda de fanatismo que estamos vendo é uma reação ao nosso mundo", disse Abbasi. "As coisas estão se transformando e eles se sentem ameaçados. Querem se ater ao preto no branco em um momento de complexidade. Não acho que sejam simplesmente loucos." No filme, é uma mulher, a jornalista fictícia Rahimi (Zar Amir-Ebrahimi), que investiga o caso.

Percepções

O cineasta não poderia prever que 'Holy Spider' chegaria bem nessa hora. "A ideia do filme acabou se misturando com a realidade da sociedade. Se você está falando sobre o apartheid contra as mulheres, isso acontece há muito tempo, e não é um sistema sustentável", adverte. "Uma hora, ia explodir." Na verdade, ele percebeu uma mudança grande das percepções sobre o longa desde que o exibiu em Cannes. "Na época, disseram que o filme era misógino, que eu estava explorando a violência contra as mulheres, que não estava sendo fiel aos fatos."

Mas depois do início dos protestos que levou milhares de pessoas à prisão, sendo algumas condenadas à morte, a visão sobre o filme mudou. "Agora entendem o contexto, a realidade de viver naquela sociedade, como é brutal e como precisávamos mostrar tudo para trazer aquele pântano para a tela. "Nas últimas semanas, o diretor começou a dar entrevistas até para publicações feministas. "Fui de misógino a feminista em poucos meses. Essa foi uma jornada interessante." Ele acredita que o mundo anglófono tem dificuldades de enxergar as nuances possíveis de produções vindas de outros países, mesmo em festivais autorais como Cannes.

Como Hitchcock

Não foram poucos os que o compararam a David Fincher ou Alfred Hitchcock. Também causa estranheza uma obra de um diretor iraniano que não tenha nada a ver com as de outros cineastas do país. "É como se cada região do mundo tivesse sua cápsula Nespresso, na qual você precisa se encaixar", observou.

"De certa forma, muitos cineastas acabam se conformando com determinadas regras. Por exemplo, as mulheres iranianas nunca têm corpos nos filmes, sempre estão enroladas em dez metros de tecidos mesmo quando vão dormir. E essa não é a realidade. Então não sabem o que fazer com alguém como eu."

Por causa do conteúdo de 'Holy Spider', Abbasi teve de filmar na Jordânia. "Não sou uma pessoa corajosa. Mas estou tentando ficar tranquilo. Não vou me trancar no porão por causa da campanha contra que enfrentamos. Acredito que eles têm problemas maiores agora." Apesar de tudo, Ali Abbasi tem esperanças. "Eu acho que, depois dessa revolta, vão haver mudanças."

Estadão
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