Em 'Código Preto', Steven Soderbergh transforma trama de espionagem em terapia de casal
Filme com Michael Fassbender e Cate Blanchett, em cartaz nos cinemas, conta a história de um espião que precisa investigar sua mulher, suspeita de roubar um importante software do governo
Apesar do mundo viver um vácuo de novos filmes de James Bond, o cinema de espionagem está longe de morrer. Nos últimos anos, agentes especiais e espiões estão lotando telonas e telinhas ao redor do mundo, sempre com propostas curiosas que tentam embarcar na onda do 007 ou reverter completamente as expectativas. Agora, chegou a vez do cineasta Steven Soderbergh dar seus pitacos sobre o complexo mundo da espionagem.
Código Preto, em cartaz nos cinemas, marca a terceira parceria entre o cineasta e o roteirista David Koepp - a primeira foi o interessante Kimi, enquanto a segunda foi o ainda inédito Presença, que deve estrear no Brasil em abril.
No novo filme, a história gira ao redor de George (Michael Fassbender) e Kathryn (Cate Blanchett), casal de agentes do Serviço Secreto de Inteligência cuja missão se complica quando um dispositivo de segurança ultrapassado cai nas mãos erradas. Enquanto George investiga o vazamento para os russos, seu chefe (Pierce Brosnan) o mantém sob vigilância.
O que mais funciona neste thriller-comédia de Soderbergh, porém, é o humor: tudo parece ser uma tiração de sarro com o cinema de espionagem. O roteiro de Koepp pega os principais estereótipos do gênero e os inverte na trama. A relação amorosa dos espiões está longe de ser um Sr. & Sra. Smith, por exemplo. Tudo descamba em uma espécie de terapia de casais, com parceiros se valendo da condição de espião para não revelar tudo.
Aos poucos, assim, Código Preto se revela como um estranho filme de amor, que questiona como um casal pode demonstrar sua afeição e seu carinho. É igualmente estranho e divertido, de um jeito que Soderbergh parece estar dando gargalhadas atrás das câmeras.
Pena, porém, que Koepp pareça ter tido uma grande ideia de filme, mas não uma boa compreensão de como encerrar as coisas. Por mais inebriante que seja ver Blanchett (TÁR) e Fassbender (Shame) interagindo na tela, o roteiro pesa a mão no didatismo bem no final, querendo explicar tudo mastigado. Fica cansativo e, principalmente, frustrante. Parece que a cereja do bolo não veio, apesar do esforço do diretor em tecer um bom trabalho.
Código Preto, dessa forma, mostra que os caminhos da espionagem não possuem limites. James Bond continua habitando em nossa mente enquanto cineastas brincam com suas fórmulas, ideias, conceitos e personagens. Não é um novo Sexo, Mentiras e Videotape ou Magic Mike de Soderbergh, o cineasta das joias improváveis. Mas, pelo menos, dá para dar boas risadas ao lado do americano - e esperar, ansioso, pelo próximo filme mês que vem.
