'Kill Boksoon': mãe assassina de aluguel é estrela de filme da Netflix
Filme exibido no Festival de Berlim está entre as mais de 30 produções da Coreia do Sul a entrar no catálogo do serviço de streaming este ano
Ser mãe e ter uma carreira é um desafio para qualquer mulher. Mas imagine se seu trabalho é ser assassina de aluguel e com uma filha adolescente em casa? É essa a vida de Gil Boksoon (Jeon Do-yeon) no longa Kill Boksoon, de Byun Sung-hyun (Fazedor de Reis: A Raposa da Eleição, de 2022), que estreia nesta sexta, 31, na Netflix, depois de passar fora de competição no Festival de Berlim. O filme é uma das mais de 30 produções sul-coreanas a serem lançadas pela plataforma de streaming neste ano.
"Desculpe, mas o supermercado já vai fechar", diz a personagem enquanto atira no homem que ela foi contratada para matar. Boksoon transita nessa tensão entre a vida doméstica, em que tem dificuldades de lidar com os problemas da filha Jae-young (Jim Si-A), e a profissional, que pretende largar em breve para ficar mais com a menina. O problema é que ela não vai conseguir se livrar tão facilmente assim do seu trabalho - até porque seu chefe, Cha Min-kyu (Sul Kyung-gu), tem um crush forte por ela.
A ideia para Kill Boksoon surgiu da vontade do cineasta de trabalhar com Jeon Do-yeon, que ganhou o prêmio de melhor atriz em Cannes por Sol Secreto (2007), de Lee Chang-dong. Na verdade, ele nem tinha projeto quando a convidou para um longa. "Mas pensei em tantos papéis diferentes que ela tinha feito e como não havia muitos filmes de ação", disse ele em entrevista com a participação do Estadão, em Seul. "Felizmente, ela achou que era uma boa ideia." Depois, o diretor começou a observá-la atentamente. "Do-yeon é mãe, e me inspirei nas conversas que ela teve com a filha. Então a história partiu dela, de certa maneira."
Nas cenas de ação, quase não foram usados dublês - e dá para perceber. Os atores tiveram de fazer a maior parte das sequências, filmadas com muito estilo, em takes longos. Mas, além de injetar muito humor e diversão nessas cenas, para Byun era preciso ressaltar o drama dentro de cada momento de ação. "Até porque, na minha opinião, nosso elenco tem alguns dos melhores atores que trabalham nessa indústria. Cada sequência tem um conceito único e mostra a personalidade dos personagens."
Uma assassina que quer deixar essa vida e trabalha para um sindicato de matadores faz lembrar outros sucessos, como John Wick. Byun sabe disso, mas quis evitar alguns clichês, como a vingança. "Nesse tipo de filme, a filha acabaria sendo sequestrada, haveria uma grande batalha final. Mas eu quis fazer algo diferente", contou. Boksoon é uma personagem dividida, o que fica evidente até na maneira como é filmada: a face direita aparece quando ela tenta exercer seu papel de mãe, e a esquerda quando exibe sua desenvoltura como assassina. "No fundo, queria fazer uma história de uma mãe e de uma filha que têm um relacionamento cheio de segredos. Queria falar da falta de comunicação." / Mariane Morisawa, Especial para o Estadão