Marcos Mion se inspira em Stallone e na família para fazer 'MMA': 'Processo visceral'
Apresentador retorna aos tempos de ator para fazer um protagonista que descobre ser pai de um garotinho autista de oito anos; Antonio Fagundes, Andréia Horta e o ator mirim Guilherme Tavares também estão no elenco
É normal sentir certo estranhamento quando Marcos Mion aparece na telona do cinema. Afinal, desde sua época na MTV, passando pela Record e chegando no atual momento dele na Rede Globo, Mion é lembrado como apresentador de TV, à frente de programas como Quinta Categoria, Legendários e Caldeirão. Agora, porém, ele volta às suas origens como ator em MMA: Meu Melhor Amigo, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 16, e discute questões como paternidade e autismo.
É isso mesmo: origens. Mion, afinal, tem formação como ator - acabou se afastando, porém, para aproveitar as oportunidades na telinha.
"A arte de atuar foi, de certa forma, a arte que me salvou em muitos momentos da minha vida. Sempre senti uma espécie de dívida com a atuação, já que minha carreira acabou se voltando mais para a comunicação", explica Mion ao Estadão. "Apesar de ter feito teatro, eu sentia falta de criar algo mais significativo, algo que repercutisse, algo que tivesse um peso maior dentro da arte de atuar."
Isso também nasce de uma vontade que Mion tem em criar algo que perdure, que tenha uma história atravessando tempos e pessoas. É algo bem diferente do que acontece na TV.
"Eu sou obcecado pelo meu legado e queria deixar uma mensagem que pudesse durar para sempre, algo que validasse minha carreira artística e, no fundo, minha própria existência", diz. "Embora a televisão permita revisitar programas antigos, ela tem algo de efêmero, como o teatro. É algo semanal; você faz, tem sua repercussão, mas logo é descartado e já passamos para o próximo. O cinema é diferente: é uma arte duradoura, uma obra que fica para sempre. Foi isso que me motivou. Queria criar algo concreto, que ecoasse no tempo".
Criação de 'MMA'
A trama de MMA: Meu Melhor Amigo se confunde com a história do próprio protagonista - que é, afinal, o autor da ideia original. Na trama, Mion é Max Machadada, um lutador de MMA que descobre ser pai de um garotinho de oito anos. Além da surpresa pela revelação, outro elemento: o garotinho está no espectro autista.
Para criar essa história, Mion se inspirou muito na relação que tem com seu filho, Romeu, também no espectro. Romeu tem 19 anos atualmente e foi por conta dele que Mion tornou-se um ativista pela causa autista, sendo uma das poucas figuras públicas brasileiras a falar abertamente sobre o assunto.
"Antes de ler o roteiro, quis conversar com o Mion para entender que tipo de filme ele queria fazer", comenta José Alvarenga Júnior, diretor do longa-metragem, também em entrevista com o Estadão. "Durante a conversa, ele explicou o espírito do projeto: o legado, a importância de contar histórias pouco exploradas e criar conexões humanas profundas. Fiquei muito tocado, especialmente pela relação dele com o filho. Foi emocionante".
O roteiro do projeto foi desenvolvido por Paulo Cursino e, ao chegar a hora de viver de Machadada, Mion se concentrou o máximo que conseguiu. "Quando o projeto entrou na minha vida, bloqueei tudo o mais e mergulhei 100% no personagem. Inclusive, mandei minha família para Miami durante as filmagens porque não queria me desconectar do protagonista", diz. "Foi um processo visceral. Não queria ser 'o Mion apresentador' na tela. Foi um trabalho minucioso com o Alvarenga, que foi como um maestro em cena."
Antonio Fagundes, Andréia Horta e o ator mirim Guilherme Tavares também estão no elenco.
Por fim, vale lembrar que MMA hoje também enfrenta uma outra luta: a acusação de plágio pela cineasta Camila Rizzo pela semelhança do longa com seu curta Headway. Há algumas semanas, Mion teve uma vitória parcial na Justiça. Questionada, a Disney, que distribui o filme, disse que está ciente da situação e acompanhando de perto. "Reforçamos nosso compromisso com a transparência e o respeito a todos os envolvidos, preservando a integridade do projeto e das pessoas associadas a ele", afirmou a empresa por meio de nota.
Mion e Stallone
É difícil não lembrar da saga sobre o personagem Rocky Balboa ao assistir a MMA - e de toda a questão envolvendo família, superação e a vitória nos ringues. Curiosamente, Mion já compartilhou a história de MMA com Sylvester Stallone, quando ambos gravaram um comercial para um banco brasileiro.
"Conversamos sobre o que eu estava prestes a fazer, e ele foi muito generoso, compartilhando dicas de como se preparava para os filmes de luta, como em Rocky. Ele me deu ideias que consegui adaptar ao nosso universo", diz Mion, animado, ao Estadão. "Quando mostrei fotos minhas caracterizado como Max, ele ficou muito empolgado e disse que meu shape estava amazing [incrível]. No final, expliquei qual seria a mensagem do filme e o final da história, e ele foi bem claro ao dizer que 'esse é o tipo de filme que eu gosto de assistir'".