'Mufasa': Inevitável, mas improvável, filme perde o vigor visual de 'O Rei Leão'
Sem muita novidade e com vontade de chamar a atenção de fãs, filme parece um musical feito pelo National Geographic Channel
Mufasa é um filme inevitável, mas improvável. Afinal, nasce a partir da bilheteria de O Rei Leão, que passou de US$ 1,6 bilhão, mas também tropeça no caminho de qual história seguir. Adaptar O Rei Leão 2, falando sobre os filhos de Simba? Ou recontar a história do filme original sob a perspectiva de Timão e Pumba, como O Rei Leão 3? Nenhum dos dois: a aposta do diretor Barry Jenkins (Moonlight) foi falar sobre a juventude do pai de Simba.
O longa-metragem começa com um pequeno Mufasa sendo separado dos pais. Cai em um rio, após uma tromba d'água, e não é mais visto. Encontra outro leão, a quilômetros dali, e passa a fazer parte de uma família - ou mais ou menos, já que é visto como desgarrado.
De novo há um tom shakespeariano na coisa, de tragédia e famílias dilaceradas, mas que sempre está alguns tons abaixo do filme de 2019. A sensação é de que nada é novidade, ao contrário do choque visual que O Rei Leão causou há cinco anos com seu realismo que era, até então, inédito. O novo filme parece um musical feito pelo National Geographic Channel, com leões cantando.
Jenkins até se esforça, tentando se colocar dentro da produção - o cineasta disse ao Estadão que levou os profissionais que estava acostumado a trabalhar para fazer Mufasa, incluindo diretores de arte e fotografia. O diretor mexe bastante a câmera com imagens que às vezes dão grandes voltas no ar e, em outras, se aproximam bastante do rosto dos animais, ampliando o tom dramático da coisa. Mas isso, claro, não é o bastante para o filme brilhar.
Clichê desgastado
Mais do que o cansaço visual e a falta de algo que Jenkins possa fazer, Mufasa tropeça principalmente no roteiro frágil de Jeff Nathanson (Velocidade Máxima 2). Para começo de conversa, a fragilidade de uma relação entre dois irmãos que não são biológicos é um clichê cansado - já vimos algo similar em 2024, com Transformers One.
O maior erro, porém, é essa necessidade - que nasce a partir do boom de prequels, essas histórias que falam sobre origens de sagas e personagens - de explicar absolutamente tudo. Nathanson acha necessário explicar tudo dentro "do universo de O Rei Leão", desde o cajado de Rafiki, passando pela origem da cicatriz de Scar, até chegar ao absurdo de falar como a pedra símbolo dos filmes, onde Simba é apresentado, ficou daquele jeito.
Explicações demais deixam o filme exageradamente racional. Jenkins tenta fazer com que surja uma ponta de emoção, mas encontra só uma planície vazia, em que apenas observamos a Disney operar mais uma tentativa de criar uma franquia, um universo ou qualquer coisa com esses nomes cheios de neologismos. A emoção que todos viveram em 1999, com a animação, fica mais diluída, restando só a lembrança no fundo da memória.