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'Mundo Estranho', nova animação da Disney, 'tem um gosto especial', apontam dubladores brasileiros

Diretor de dublagem Robson Kumode e Caio Freire e Marcelo Campos, que dão voz a Ethan e Searcher, falam sobre bastidores, desafios e pioneirismo do filme

30 nov 2022 - 06h10
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"Ele fala sobre como a gente tenta colonizar o outro para que ele seja um espelho da gente". É assim que Robson Kumode descreve Mundo Estranho, animação dos estúdios Disney que chegou aos cinemas na última quinta, 25.

Ele é responsável pela direção da dublagem nacional do longa, uma tarefa que envolve muita responsabilidade, já que os brasileiros costumam preferir a versão nacional à original quando se trata de animações.

"Esse é um filme que traz uma proposta de reflexão sobre como a gente pode ouvir e valorizar os outros em suas diversidades, pluralidades e existências", diz Kumode. "Talvez ele seja o mais especial que eu tenha dirigido porque ele me coloca nesse lugar de pensamento".

Mundo Estranho acompanha Os Clades, uma família lendária de exploradores que, no entanto, está dividida. Searcher decide que não quer seguir os passos do pai, Jaeger, e vira um fazendeiro.

Anos depois, ele é surpreendido ao perceber que seu filho, o adolescente Ethan, quer seguir os passos do avô e se tonar um grande aventureiro.

Pioneirismo

O papel transformador de Ethan é claro não só na trama, mas também fora dela. Ele é o primeiro personagem abertamente gay de uma animação da Disney, além de ter sido criado em uma família multirracial.

Para Caio Freire, que teve a missão de dublá-lo na versão brasileira, isso, na verdade, não muda muita coisa, porque a orientação sexual do personagem é tratada como algo natural e não é, em quase nenhum momento, assunto durante o longa.

"Eu entendo a potência que esse personagem tem, a bandeira que ele traz e [a importância] de dar vida a isso em português", diz. "Mas as próprias pessoas ao verem isso, que podem pensar 'nossa, será que o filme fala sobre isso?' e não fala, eles vão ver que é isso, ser LGBT é normal".

A história, como eles destacam, fala muito mais sobre a relação entre a família e as escolhas individuais. "O drama é o legado. O drama é que o Ethan não quer ser fazendeiro", completa Caio.

Desafios

"Por formar essa polêmica e fazer barulho, eu gostei, como dublador, de ter participado disso", revela Marcelo Campos, que dublou Searcher. "O restante é a nossa responsabilidade de dar o melhor de si e estar aberto para dar voz para aquele personagem".

Segundo ele, esse é um dos desafios da dublagem: se afastar do seu "eu" e entender que o personagem é uma pessoa completamente nova e diferente ali naquela situação.

Para Campos, é comum que dubladores acabem adquirindo vícios e levando traços de sua própria personalidade para os personagens, mas isso foi algo que ele tentou evitar em Mundo Estranho.

"Minha cabeça indo para o estúdio era 'esvazia, seja a água da esponja que vai se moldar o que está lá. Não vou impor o meu jeito de falar. Vou tentar ser criativo para não me repetir'", explica.

Esse cuidado se deve não só à sua experiência - ele já está há mais de 30 anos no ramo -, mas também ao carinho que a equipe adquiriu com o filme e sua história.

"O processo de dublagem é esse: localizar um filme e engolir, digerir e reimprimir esse filme. É o que a gente fez", diz Robson Kumode. "Então eu acho que esse filme é maravilhoso por isso. Para mim, ele tem um gosto especial".

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

Estadão
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