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Pessoas e cinemas que já morreram reaparecem vivos em 'Retratos fantasmas', de Kleber Mendonça FIlho

Cineasta conversou com o 'Estadão' sobre o que o motivou a fazer um documentário sobre as transformações que aconteceram no Recife - da sua casa aos cinemas

22 ago 2023 - 14h39
(atualizado às 16h06)
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É possível entender um pouco de Kleber Mendonça Filho em cada um de seus filmes. Como é natural, muito do que ele pensa, vive e fala está retratado em suas histórias, como O Som ao Redor, Aquarius e Bacurau. No entanto, nenhum filme é tão pessoal e particular quanto Retratos Fantasmas, documentário do cineasta que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 24.

Retratos Fantasmas
Retratos Fantasmas
Foto: João Carlos Lacerda/Divulgação / Estadão

O filme começa causando um estranhamento. Durante cerca de meia hora, Kleber nos mostra seu apartamento de infância. Vemos momentos do passado, que ficaram guardados ao longo dos anos - décadas! - em fitas nascidas a partir de uma câmera de VHS que a mãe do cineasta comprou, ainda nos 1990, a muito custo. "Era uma câmera cara", diz ele em conversa com o Estadão, em São Paulo, em uma agenda apertada de entrevistas.

Neste primeiro momento, conhecemos detalhes do apartamento, da vida do jovem Kleber e, principalmente, do entorno. Ele, a mãe, os amigos e o cachorro do vizinho estão ali, vivos na memória daquelas fitas para sempre. São fantasmas. A mãe não mais vive. O cachorro se foi. Kleber está mais velho. Os amigos também. Eles resistiram ao tempo. "Diferente do que acontece com outras pessoas, as fitas não mofaram. Tive cuidado. As fitas sobreviveram muito tempo", contextualiza ele, que as digitalizou nos anos 2000.

Depois desse primeiro momento em que analisa seu entorno, e as transformações que o tempo causaram em sua vida e na rua ao seu redor - retratada, inclusive, em vários filmes do cineasta ao longo dos anos -, Kleber parte para a cidade. Afinal, mais do que filmar aquilo que os olhos viam de sua janela, o cineasta saiu pelo Recife filmando tudo o que via.

Futuras ruínas

"Comecei a filmar muitas coisas. Cidade, amigos… Foi a época que a gente viu a cidade de um jeito muito bom. Cara, a gente gostava da nossa cidade. A gente filmava muita coisa", diz. Nessas andanças com a câmera na mão, começou a filmar uma paixão que existia desde sempre: os cinemas. Segundo ele, já naquela época, existiam três tipos de cinemas de rua: as ruínas, os fechados e os que Kleber tinha certeza de que iam fechar em breve.

O resultado disso são as outras duas partes de Retratos Fantasmas, que sai do micro e parte para o macro, analisando as transformações da cidade em que viveu e como isso afetou invariavelmente os cinemas de rua. As pessoas desocuparam esses espaços e logo partiram para os shoppings.

A fita da câmera VHS, assim, era a maneira que ele via de eternizar esses espaços e de mostrar sua visão do que estava acontecendo. "O melhor ponto de partida para uma história é você. A grande questão é, e me faço essa pergunta o tempo todo, se alguém vai se importar com isso. Essa é a grande questão", diz ele, rindo.

Estadão
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