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Segredos do Vaticano: leia comparação de 'Conclave' no cinema e na literatura

Filme de Edward Berger, em cartaz nos cinemas brasileiros, é candidato ao Oscar e adapta thriller papal do escritor Robert Harris; obras exploram temas como fé, conspiração e poder

25 jan 2025 - 09h14
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Um dos filmes mais comentados da temporada de premiações é Conclave, de Edward Berger (Nada de Novo no Front), que está em cartaz nos cinemas brasileiros. O longa-metragem é adaptado do livro homônimo de Robert Harris - publicado originalmente em 2016 e traduzido no Brasil pela Alfaguara (272 págs.; R$ 54,77).

'Conclave', protagonizado por Ralph Fiennes, adapta livro homônimo de Robert Harris
'Conclave', protagonizado por Ralph Fiennes, adapta livro homônimo de Robert Harris
Foto: Divulgação/Focus Features / Estadão

A história se concentra nas complexidades e na política em torno da eleição de um papa, bem como em toda a ação de bastidores entre os cardeais que tal evento requer.

É claro que as adaptações cinematográficas geralmente adotam mudanças para se adequar melhor ao seu meio, e Conclave não é exceção, mas o roteirista Peter Straughan demonstra grande respeito pelo material original e, mais do que isso, é capaz de acrescentar novas camadas e elevar o patamar do trabalho concebido pelo escritor inglês. Ele já fizera algo parecido na ótima versão de O Espião Que Sabia Demais, clássico de John Le Carré transportado para as telonas em 2011.

Indicado ao Oscar 2025 em oito categorias (incluindo Melhor Filme), o longa reformula elementos do livro de forma sutil, incluindo nomes de personagens, nacionalidades e até mesmo a estrutura de algumas passagens, sem deixar de replicar os momentos chave, como o final fantástico e surpreendente deste contagiante thriller papal.

No livro, o nome do personagem principal é Cardeal Lomeli, de origem italiana, enquanto no filme ele é chamado de Cardeal Lawrence, alteração motivada pela escalação do britânico Ralph Fiennes (Harry Potter, O Paciente Inglês) para o papel. Protagonista complexo, o decano tem orgulho da sua solidão e, mesmo frágil pela idade, se vê como um "guerreiro dentro de um castelo medieval".

Mudança similar ocorre com o Cardeal Bellini, interpretado pelo americano Stanley Tucci (Um Olhar no Paraíso, O Diabo Veste Prada) nas telonas. A decisão de americanizá-lo se deve provavelmente a uma tentativa de ressaltar a natureza global da Igreja Católica no século 21, ainda mais por se tratar de uma figura cuja mentalidade é mais progressista e liberal, ao contrário do conservador Cardeal Tedesco, vivido por Sergio Castellitto. Outros destaques no elenco são John Lithgow como o Cardeal Tremblay, canadense moderado, e Isabella Rossellini, como a freira Agnes, que recebe destaque maior no longa.

Ambas as obras iniciam da mesma maneira: com a morte do Supremo Pontífice e a jornada árdua de Lawrence/Lomeli para organizar o Conclave (do latim cum clavis: "com chave") com cardeais de todas as partes do mundo. A partir daí, a narrativa é muito similar, capaz de transportar o leitor/telespectador para dentro daquele universo sagrado, mas recheado de intrigas, ambições, pecados e egos.

Fé, conspiração e poder

Apesar da precisão de Harris para abordar as particularidades do Vaticano, ele faz questão de deixar claro logo nas primeiras páginas que, embora tenha usado os títulos reais (arcebispo de Milão, decano do Colégio dos Cardeais e assim por diante), não têm a intenção de se assemelhar às pessoas que ocupam os cargos na vida real. "Da mesma maneira, a despeito de algumas semelhanças superficiais, o Santo Padre falecido em Conclave de modo algum pretende ser um retrato do papa atual", reforça.

No livro, há muito contexto histórico e informações que podem não ser tão fáceis de digerir. Algumas delas, no entanto, são curiosas. Por exemplo: a preocupação excessiva dos cardeais para que o embalsamento do corpo de um papa seja bem feito. O tema atormenta o pontificado desde o ocorrido com Pio XII, cujo cadáver explodiu como uma bomba em frente à arquibasílica de São João de Latrão, em 1958.

O filme, por outro lado, evita esse tipo de digressão e vai direto ao ponto para desenrolar a trama em duas horas, de maneira ágil como os melhores suspenses investigativos devem ser. Tudo transcorre de maneira simples: o papa morre, os cardeais se reúnem na Capela Sistina, há a primeira votação, a segunda votação, a terceira votação, e assim por diante, até a fumaça branca emanar pela chaminé. Cada estágio é acompanhado por alguma nova reviravolta ou mistério.

"Os homens perigosos, os que têm que ser detidos, são aqueles que, de fato, desejam ser papas", dispara um dos cardeais em determinado momento. Essa frase representa bem o cerne de Conclave e revela muito sobre a hipocrisia enraizada dentro da Igreja Católica, afinal, por mais que você almeje chegar ao Reino dos Céus, jamais deixará de ser um pecador.

Outras adaptações de Robert Harris

Além de Conclave, outros livros do autor best-seller de 67 anos já foram adaptados para o audiovisual: Enigma (2001), com Kate Winslet; O Segredo (2005), com Daniel Craig, e Munique - No Limite da Guerra (2021), da Netflix; além dos mais conhecidos O Escritor Fantasma (2010) e O Oficial e o Espião (2019), os quais Harris coescreveu o roteiro com o cineasta Roman Polanski.

Capa do livro 'Conclave', de Robert Harris
Capa do livro 'Conclave', de Robert Harris
Foto: Divulgação/Editora Alfaguara / Estadão
No livro, o nome do personagem principal é Cardeal Lomeli, de origem italiana, enquanto no filme ele é chamado de Cardeal Lawrence, alteração motivada pela escalação do britânico Ralph Fiennes para o papel
No livro, o nome do personagem principal é Cardeal Lomeli, de origem italiana, enquanto no filme ele é chamado de Cardeal Lawrence, alteração motivada pela escalação do britânico Ralph Fiennes para o papel
Foto: Divulgação / Focus Features via AP / Estadão
'Conclave', protagonizado por Ralph Fiennes, adapta livro homônimo de Robert Harris
'Conclave', protagonizado por Ralph Fiennes, adapta livro homônimo de Robert Harris
Foto: Divulgação/Focus Features / Estadão
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