Stallone, Statham e Ayer se juntam em 'Resgate Implacável': 'Reconfortante como comida caseira'
No filme, David Ayer dirige Jason Statham em roteiro de Sylvester Stallone, que não esconde sua nostalgia pelo cinema de ação clássico dos anos 1980
Foi nos anos 2010 que Sylvester Stallone se encantou pelo livro Levon's Trade, de Chuck Dixon. Não é surpresa: o romance é uma mistura de Rambo com Busca Implacável - combinação que resume a carreira do astro. Inicialmente, ele planejava adaptar a obra para a TV, mas o projeto hibernou. Até que, em 2023, a ideia ressurgiu, mas com nova proposta: um filme estrelado por Jason Statham, dirigido por David Ayer e roteirizado por Stallone.
Resgate Implacável, em cartaz nos cinemas brasileiros, é daqueles filmes cuja premissa revela sua trajetória completa. Traz a história de um trabalhador da construção civil (Statham) que parte em busca dos sequestradores da filha de seu chefe. É a clássica narrativa de vingança, onde o protagonista aparentemente comum revela habilidades quase sobre-humanas. Em poucas palavras: é cheio de tiro, porrada e bomba.
"Fiquei empolgado com a história", revela David Ayer em entrevista ao Estadão. O diretor, conhecido tanto pelo fracasso de Esquadrão Suicida quanto pelo sucesso de , enxergou potencial no projeto. "É uma trama simples, um gênero familiar, algo que já vimos antes. Mas vi uma verdadeira oportunidade de me divertir e fazer algo diferente."
Na prática, porém, Resgate Implacável surpreende pouco - distanciando-se da ambição de Ayer de criar algo inovador. Segundo trabalho colaborativo entre o diretor e Statham, o filme entrega exatamente o prometido: uma narrativa de vingança, de busca obstinada, de justiça pelas próprias mãos. Uma obra que carrega o DNA de Sylvester Stallone em cada cena.
Ayer confessa que recebeu com entusiasmo o roteiro de Stallone - embora tenha colaborado com ajustes posteriores. "Ele encontrou uma estrutura sólida e criou um roteiro excelente para Jason", afirma. "Quando entrei no projeto, adicionei elementos familiares e aprofundei os personagens. Queria construir algo específico para Jason. Havia trabalhado com ele antes e compreendia seus ritmos e habilidades. Foi a colaboração perfeita."
Durante o processo criativo, Ayer e Stallone mantiveram diálogo. O diretor conta que, como produtor, o ator veterano tinha uma visão clara sobre a essência de Resgate Implacável. "Foi um sonho trabalhar com ele, porque ele escreveu Rocky. Sua trajetória como roteirista é incrível - ele acreditou tanto no seu roteiro que acabou se tornando um fenômeno cultural", diz o norte-americano. "Trabalhar com alguém com essa história foi extremamente gratificante".
Paixão pelos anos 1980
Ao assistir a Resgate Implacável, é inevitável pensar nos filmes de ação que dominavam as prateleiras de locadoras nos anos 1980 e 1990, às vezes lançados diretamente em VHS.
Ayer não esconde essa influência. E considera Statham o parceiro ideal justamente por ser uma "enciclopédia do cinema de ação" e por realizar suas próprias cenas perigosas, dispensando dublês mesmo com risco. Com essa dinâmica, o cineasta - já estabelecido no gênero de ação - mantém-se aberto a novos aprendizados.
"A cada filme aprendo mais, é um processo incrível", reflete sobre a evolução do cinema de ação. "Eu costumo dizer que você não sabe como fazer um filme até terminá-lo. É sempre uma descoberta. Trabalhar com Jason me ensinou muito sobre filmar cenas de ação, porque ele faz suas próprias acrobacias e conhece profundamente o gênero. Ele é uma enciclopédia viva da ação. Às vezes diz coisas como: 'não quero fazer isso porque já foi feito em 1979'. Ele está sempre impulsionando a criatividade e buscando mais qualidade."
No entanto, quando a conversa se aprofunda, Ayer admite - com um sorriso franco durante o momento mais descontraído do papo - que sua inspiração vem do passado do gênero.
"Sempre haverá filmes de ação", afirma, contemplando simultaneamente o futuro e o passado do gênero. "Vejo duas tendências atualmente. Uma é a ação mais exótica e intensa, muito coreografada e técnica. A outra é a ação mais realista, emocional e clássica. É nesse segundo estilo que me encaixo. Sou profundamente inspirado pelos filmes de ação dos anos 80 e 90. Eles têm algo reconfortante, como comida caseira. É disso que eu gosto."
