Estupro ou cinema? 'Último Tango' escandaliza Paris mais uma vez
A lendária Cinemateca Francesa, em Paris, cancelou uma exibição do filme Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci, após grupos de defesa dos direitos das mulheres protestarem contra a famosa cena de estupro simulada, gravada sem o consentimento da atriz Maria Schneider.
O filme, concluído em 1972, seria exibido no domingo como parte de uma retrospectiva dedicada ao ator Marlon Brando. A trama acompanha a relação entre um americano viúvo, vivido por Brando, e uma jovem parisiense, interpretada por Schneider.
A cena controversa envolvia uma simulação de estupro, mas Schneider, que tinha 19 anos na época, revelou posteriormente que se sentiu violada, pois não foi informada ou preparada para o ocorrido. Suas acusações, feitas originalmente nos anos 1970, foram ignoradas durante décadas. Segundo a atriz, a experiência destruiu sua vida, levando-a ao abuso de drogas por anos.
Bertolucci admitiu posteriormente que a atriz não havia sido informada previamente da cena, mas defendeu sua decisão como uma escolha artística para capturar uma reação realista.
A exibição do filme gerou forte oposição de figuras públicas como Judith Godrèche, atriz e uma das líderes do movimento #MeToo na França. Com o cancelamento da sessão, a Cinémathèque responde a pressões sociais e debates em torno da representação de violência contra mulheres no cinema, especialmente em tempos de crescente conscientização promovida pelos movimentos feministas e pelo #MeToo.