Francis Ford Coppola no Brasil: 'O cinema de hoje é como fast food'
Diretor está no país para lançamento de seu épico de fantasia 'Megalópolis'
O cineasta Francis Ford Coppola está no Brasil para o lançamento de seu novo filme, "Megalópolis", e opinou sobre o estado atual da indústria criativa de Hollywood em conversa com a imprensa nesta segunda-feira (28), em São Paulo.
Aos 85 anos, o realizador responsável por clássicos como "O Poderoso Chefão", "Apocalypse Now" e "A Conversação" financiou o seu ambicioso épico com dinheiro do próprio bolso, algo que tem se tornado cada vez mais recorrente com diretores veteranos – o próprio Martin Scorsese fez o mesmo com seu ótimo "O Irlandês". Sem cerimônias, Coppola abriu o jogo quando questionado sobre o que pensa da produção de filmes contemporâneos, apontando para um sistema que está no fim com a falta de ideias originais.
"Megalópolis" é um projeto passional no qual Coppola trabalha, entre idas e vindas, desde os anos 80. O filme é ambientado na cidade fictícia de Nova Roma, e acompanha o embate entre o visionário utópico Cesar Catilina (Adam Driver), que deseja implementar uma nova versão melhorada da metrópole, e o pragmático prefeito Franklyn Cicero (Giancarlo Esposito). Exibido ao público pela primeira vez no Festival de Cannes, no início deste ano, o filme gerou reações mistas. Nos Estados Unidos, está sendo considerado um fracasso de bilheterias (que custou nada menos de US$ 120 milhões do bolso do diretor).
"Eu faço o filme para mim e para os colegas que eu amo, não estou interessado nisso", afirmou Coppola, quando questionado sobre como lida com as críticas e rejeições ao seu trabalho. "Eu sei que, com o tempo, o que é considerado arte 'avant-garde' permanece. O passado se torna o plano de fundo do futuro. O que eu quero dizer é: se você quiser comprar um quadro, você não quer um quadro da Academia Francesa, você quer um Matisse. E todos achavam que Matisse era terrível na época."
Coppola, então, aproveita para emendar uma crítica aos blockbusters contemporâneos, comparando-os a comida de fast food.
"As coisas que são muito novas são julgadas de forma muito dura por um tempo, e depois as pessoas começam a entender e isso muda. Os filmes hoje são como fast food. As companhias gastam milhares de dólares para criar uma batata frita viciante, e eles fazem o mesmo com os filmes. Eles querem que os filmes sejam como Coca-Cola, que você continua tomando, mas não é arte."
Francis Ford Coppola
'O sistema de Hollywood está morrendo'
Ainda nesta seara, Coppola liga esta ausência de originalidade à lógica de funcionamento do sistema de estúdios de Hollywood, lamentando o que considera o fim deste ecossistema atual. Sem o apoio das grandes companhias produtoras de cinema, o diretor afirma que o fato de os estúdios "tentarem determinar o que o público assiste" é um grande problema.
"O sistema de Hollywood está morrendo, porque as pessoas comandando as companhias cinematográficas controlam o que as pessoas pensam por meio de 'trilhos de trem'. Eu os chamo assim porque é o que eles controlam. CinemaScore, Rotten Tomatoes... todas essas coisas determinam se as pessoas vão ou não ao cinema, e todas as tradições estão morrendo", determina.
Francis Ford Coppola
Mesmo assim, Coppola afirma que vê um caminho adiante.
"As pessoas que gerenciam os estúdios têm um único trabalho, que é garantir que eles paguem suas dívidas. A boa notícia é que isso vai morrer, mas vai renascer de alguma forma. Eu acredito que essa instituição que eu amo, que me criou, mas não me quer mais, vai renascer", completou.
"Megalópolis" chega aos cinemas de todo o Brasil nesta quinta, dia 31.