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Genial ou perigoso, só se fala em 'Coringa', filme que estreia dia 3 de outubro

Filme estrelado por Joaquin Phoenix estreia mundialmente na quarta-feira, 3 de outubro

1 out 2019 - 08h14
(atualizado em 2/10/2019 às 10h32)
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Nos 80 anos em que faz parte da cultura popular, o Coringa sempre deu jeito de irritar alguém - seja por seu caráter, seja pelo que ele representa ou até pelas justificativas dos atores sobre o que os levou a fazer papel. Mas desta vez o personagem mexeu com os nervos gerais antes mesmo de estrear nesta quinta, 3 - pré-estreias estão previstas para a quarta, 2.

Os holofotes sobre Coringa (Joker) estão testando limites. O filme sobre o incansável inimigo de Batman vem inspirando artigos a favor e contra. Coringa já está sendo considerado o filme que finalmente dará um Oscar a Joaquin Phoenix, mas também já foi chamado de "perigoso", "irresponsável" e até "incentivador ao celibato".

Na semana passada, parentes de vítimas mortas no tiroteio no cinema Aurora em 2012 escreveram ao presidente da Warner Bros. pedindo-lhe que apoie a campanha contra as armas. O estúdio divulgou uma declaração dizendo que o filme não incentivava "nenhum tipo de violência do mundo real".

O filme teve uma estreia triunfal no Festival de Cinema de Veneza e ganhou o prêmio máximo. E, embora as críticas fossem na maioria positivas, ele foi também submetido a um duro escrutínio, deixando os realizadores na defensiva.

O diretor e corroteirista Todd Phillips não foge da discussão. "Se preciso, falarei do filme o dia inteiro", disse ele. Todd apenas gostaria que as pessoas vissem o filme antes de tirar conclusões. "É péssimo quando alguém critica argumentando que 'não preciso assistir para saber o que é'. Fico atônito ao ver como a extrema esquerda se aproxima da extrema direita quando convém a ela." A reação negativa antecipada é ainda mais desconcertante para Phillips porque ele esperava e espera que o filme possibilite discussões sobre armas, violência e tratamento dado a pessoas com distúrbios mentais. "É um filme engraçado? Qual é seu impacto sobre a violência no mundo real?", pergunta o diretor.

O filme mostra como um perturbado homem de meia-idade chamado Arthur Fleck vai aos poucos se tornando o vilão Coringa. Fleck é um palhaço profissional decadente que vive com a mãe em um decrépito apartamento em Gotham e se reporta ocasionalmente a um assistente social. Distribui um cartão às pessoas explicando que suas explosões de riso, incontidas e dolorosas, são consequência de um problema médico. Sua única alegria é assistir à noite ao talk show de Murray Franklin (Robert De Niro).

"Ele é triste e espalha tristeza", disse Philips. "E sabe o que acontece nos filmes em que o mundo é sem simpatia e sem amor? Você tem o vilão que merece."

Em Coringa, o ator tem de ir a lugares difíceis e o filme tem complicações adicionais por seu realismo, embora se passe num mundo ficcional. Para fazer Arthur e o Coringa, Phoenix pesquisou pessoas que ele se recusa a mencionar. Também teve de perder 24 quilos numa dieta extremamente baixa em calorias, sob supervisão de um médico. Com o emagrecimento, ele temia que fosse ficar irritadiço, vulnerável, sempre faminto. Em vez disso, a perda de peso levou a uma "fluidez" que ele não previra.

O cenário também é de certo modo fluido e Phoenix disse que ele e Phillips constantemente descobriam novas características no Coringa e em Arthur. "Parecia haver infinitas maneiras de interpretar cada cena e no fim tudo fazia sentido. Em algumas vezes, eu choro, noutras faço piada, noutras me enfureço, mas tudo se completa", disse ele.

A experiência foi "excitante e surpreendente", mas fazer Arthur/Coringa também se revelou "complicado e desconfortável" para o ator de 44 anos. Quanto à possibilidade de o público eventualmente usar o personagem como inspiração ou desculpa para seus atos, Phoenix acredita que o ônus cabe a cada um. "O público tem que a descobrir a diferença entre certo e errado. Não creio que seja responsabilidade do diretor dar lições de moral. Quem não compreender essa diferença poderá se julgar direito de fazer o que bem entender", disse Phoenix.

Ele e Phillips frisam que Coringa não é um filme para crianças, nem para todos. "Não espero que todo mundo goste", disse Phillips. "Se um filme agrada a todos, geralmente é porque não agradou a ninguém." / Tradução de Roberto Muniz.

Estadão
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