Gloria Maria é homenageada em cena de "Garota do Momento" que cita lei antirracista
Novela reflete luta contra o preconceito com referência à Lei Afonso Arinos, usada pela primeira vez por Gloria Maria para denunciar racismo
A novela Garota do Momento trouxe à tona questões raciais em uma sequência de cenas impactantes que homenageiam a falecida jornalista Gloria Maria, pioneira na luta contra o racismo no Brasil.
No episódio mais recente, Beatriz (interpretada por Duda Santos) é injustamente acusada de furto durante o evento de lançamento de um novo sabonete de uma perfumaria, local onde buscava informações sobre sua mãe biológica, Clarice (Carol Castro).
A acusação faz parte de uma armadilha orquestrada por Zélia (Letícia Colin), que tem a intenção de prejudicar Beatriz e colocá-la sob suspeita. A personagem Beatriz, vítima de preconceito, aproveita o momento para denunciar o racismo que enfrenta e desabafa para os presentes, criticando duramente a ineficácia da Lei Afonso Arinos, promulgada em 1951.
Em um discurso impactante, ela afirma: "Podem fotografar, podem publicar, porque o que aconteceu aqui hoje é mais um exemplo de como nós, negros, somos tratados por essa sociedade preconceituosa. E é vergonha que a Justiça não faça valer a Lei Afonso Arinos, porque se fizesse esse homem estaria preso, está na lei. Racista. Eu tenho ódio de gente feito você".
A cena destacou o preconceito racial e criticou a sociedade e a Justiça que, muitas vezes, falham em proteger aqueles que sofrem discriminação.
A novela também presta uma homenagem indireta a Gloria Maria, que, em vida, foi uma das primeiras a usar a Lei Afonso Arinos para denunciar racismo, após ser impedida de entrar em um hotel devido à cor de sua pele. Sua história é relembrada através das ações de Beatriz na novela, fortalecendo o impacto do legado da jornalista na luta antirracista.
Gloria Maria, a pioneira na aplicação da Lei Afonso Arinos
Gloria Maria, que sempre falou abertamente sobre o racismo que enfrentou em sua trajetória, foi a primeira pessoa a recorrer à Lei Afonso Arinos para denunciar um caso de discriminação racial. A lei, sancionada em 1951 durante o governo de Getúlio Vargas, foi o primeiro instrumento legal brasileiro a tipificar o preconceito racial como uma contravenção penal, não ainda um crime.
Gloria relatou, em suas redes sociais, como em um episódio nos anos 1970 foi barrada em um hotel por um gerente que afirmou que "negro não podia entrar". Determinada, a jornalista chamou a polícia e levou o caso aos tribunais, embora o gerente tenha se livrado da acusação com uma multa, devido à leveza com que a lei tratava o racismo.
O episódio vivido por Gloria Maria reflete o que Beatriz enfrenta em "Garota do Momento", expondo o quanto a luta por justiça racial é um processo contínuo e desafiador. A Lei Afonso Arinos, apesar de pioneira, tinha limitações, pois considerava o racismo apenas uma contravenção, algo de menor gravidade na época.
Ainda assim, o gesto de Gloria foi um marco para o Brasil, e ela sempre ressaltou o orgulho de ter sido a primeira pessoa a usar a lei para combater o preconceito racial.
Hoje, a novela não só revive esse debate como também reforça o exemplo de Gloria Maria para a sociedade. Seu pioneirismo e coragem continuam a inspirar a luta contra o racismo, tanto na ficção quanto na vida real.
"Garota do Momento" lança uma luz sobre essa história e lembra aos telespectadores a importância da luta por justiça e igualdade, um caminho ainda longo, mas que continua sendo trilhado diariamente.
Djenifer Henz - Supervisionada por Marcelo de Assis