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Helena Bonham-Carter e Millie Bobby Brown apostam na amizade entre mãe e filha em 'Enola Holmes'

No filme estrelado e produzido pela atriz de 'Stranger Things', Millie precisou mudar de sotaque e acredita que a quarentena a ajudou a se conhecer melhor

18 set 2020 - 05h10
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Quando o rostinho com cabelos raspados apareceu na série Stranger Things, em 2016, se inaugurava um futuro brilhante para Millie Bobby Brown, então com 12 anos. Agora, aos 16, muita coisa mudou. Até o seu sotaque. Na próxima quarta, 23, estreia Enola Holmes, novo filme da Netflix, estrelado pela atriz.

Na verdade, ela também lança o filme como produtora, trabalho que executa pela primeira vez. Trata-se de algo "assustador", segunda ela, embora reconheça que múltiplas funções são bastante comuns na carreira artística.

Na trama, ela interpreta a personagem-título, irmã do famoso detetive Sherlock Holmes, vivido por Henry Cavill. A menina é filha de Eudoria, interpretação misteriosa e divertida de Helena Bonham-Carter. As duas atrizes falaram a jornalistas em uma coletiva virtual, da qual o Estadão foi o único veículo brasileiro a participar.

É bom se preparar para muitos segredos, e uma quantidade imensa de cenas de ação. Desde criança, Enola foi criada pela mãe, que deu a ela um treinamento especial: luta física, história, política, conhecimentos em botânica, agilidade e como se virar em um mundo comandado por homens. "É uma história que oferece uma perspectiva feminina para jovens garotas. Ao se voltar para Sherlock, verá que havia um domínio masculino, com suas opiniões. Já as mulheres não tinham a mesma oportunidade", conta Millie.

Um dia - e como esperado - o treinamento de Enola se torna necessário, e a garota decide tomar as rédeas da própria vida, indo morar na Londres de 1884. Na saga de seis livros da autora Nancy Springer, que inspirou o filme, a política seguia ocupada por homens, e o futuro das meninas era estudar em colégios internos para se tornarem donas de casa. Poucas e corajosas mulheres, entre elas a mãe de Enola, buscavam maneiras de ter acesso ao voto, mesmo que pela rebeldia.

Enquanto busca sua independência, Enola conhece o jovem Lord Tewksbury, um herdeiro político que precisou sair às pressas de sua casa, após a morte do pai. "Ele é um anti-herói", conta o ator Louis Partridge na coletiva. "O filme não glamouriza o fato de ele ser um lord. De alguma maneira, ele também precisa encontrar seu caminho." E, para chegar lá, a dupla enfrenta saltos de trens em movimentos, embates físicos, corridas e escaladas.

Com talento nato para ser detetive, Enola tem uma estratégia discreta e um tanto divertida: disfarces. No longa, ela vai de viúva a jornaleiro, passando por dama de companhia. Ao perceber uma oportunidade, a menina oferece dinheiro para trocar de roupa com alguém da rua. Durante a produção, a atriz passou alguns meses convivendo com a moda do fim do século 19, repleto de vestidos longos e espartilhos.

Outra coisa que mudou foi o sotaque da atriz. Em Stranger Things, Millie interpreta Eleven, uma personagem norte-americana. Após três temporadas da série da Netflix, a atriz, que é britânica, precisou reaprender a falar como uma local. Mas nada se compara à atuação de Millie com Helena. A conexão entre mãe e filha é um ruído para os irmãos Sherlock e Mycroft (Sam Clafin). Os marmanjos não intuem e subestimam a força das duas. "Elas têm um jeito de se comunicar, de trocar informações, e a prioridade era que Enola aprendesse a se cuidar", explica Helena.

No entanto, a situação de Lord Tewksbury vai mudar a rota da jovem detetive. Para a atriz da série The Crown, trata-se de uma difícil missão que também se estende para a vida real, com sua filha Nell, de 12 anos, fruto da relação com o cineasta Tim Burton. "É o que tento fazer com ela. O que minha mãe fez comigo. Você sempre pode ajudar as pessoas. É incrível, mas apenas se não comprometer a sua própria segurança. Sei que é controverso, mas é interessante."

Millie também não esconde as semelhanças com Enola. "Somos muito conectadas com nossas mães, e voltadas para a família. A busca da personagem também me guia. Tenho 16 anos e, quando você tira um tempo para si, acaba se conhecendo mais. A quarentena serviu um pouco para isso."

Para Louis, contracenar com a atriz e produtora foi uma dupla jornada interessante, que também fez nascer uma amizade. Ele brinca que foi difícil tratá-la como sua chefe: "Deve ser porque eu sou alguns meses mais velho que a Millie. Inclusive, passei meu aniversário com ela".

Potencial franquia, longa enfrenta briga por direitos autorais

Uma batalha pelos sentimentos de Sherlock Holmes começou este ano quando os herdeiros e proprietários da obra de Arthur Conan Doyle, o criador do personagem, processaram a Netflix por suposta violação de direitos autorais em Enola Holmes.

A ação também é dirigida a Nancy Springer, autora dos livros que inspiraram o filme. Desde 2014, foi determinado judicialmente que as obras de Doyle escritas até 1923 são de domínio público.

No entanto, no documento defende-se que o detetive só expressou sentimentos por mulheres nos últimos 10 livros, todos estes com direitos de propriedade ainda retidos. O argumento é de que Springer copiou emoções inéditas de obras protegidas.

De acordo com o processo no tribunal federal do Novo México, nos EUA, "Holmes ficou mais caloroso. Ele conseguiu estabelecer uma amizade. Podia expressar emoções. Ele começou a respeitar as mulheres". A Netflix não quis comentar o caso.

Estadão
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