Hollywood se tornou uma triste fábrica de remakes: vem aí mais um
Hollywood enfrenta uma crise criativa, concentrando-se em remakes e nostalgia como a refilmagem de 'Corra Que a Polícia Vem Aí', em vez de apostar em ideias originais.
Hollywood vive um momento curioso — e, para muitos, preocupante. A indústria que por décadas ditou tendências e lançou obras originais que marcaram gerações parece agora estar em um ciclo interminável de nostalgia. A mais nova evidência disso é o recém-lançado trailer da refilmagem de "Corra Que a Polícia Vem Aí" ("The Naked Gun"), clássico da comédia pastelão que imortalizou Leslie Nielsen no papel do desastrado tenente Frank Drebin. Agora, o personagem volta à vida na pele de Liam Neeson — um nome que, até então, pouco se associava ao humor escrachado.
A escolha de Neeson já levanta sobrancelhas. Conhecido por papéis intensos e por protagonizar franquias de ação como "Busca Implacável", ele parece um peixe fora d’água no universo nonsense que consagrou o original. O trailer, embora tenha seus momentos de humor, evidencia o desafio de reviver uma fórmula que pertenceu a outro tempo — um tempo em que paródias eram mais ingênuas e menos autoconscientes.
Mas esse remake é apenas mais um exemplo de uma tendência maior: a falta de ousadia criativa em Hollywood. Em vez de apostar em roteiros inéditos e arriscar com novas vozes, os grandes estúdios preferem recorrer ao seguro. Refilmagens, reboots, sequências tardias e “universos compartilhados” tornaram-se o padrão. É como se a indústria tivesse entrado no modo automático, relançando antigos sucessos com uma nova camada de verniz — às vezes comedida, às vezes completamente deslocada.
É claro que o apelo comercial dos remakes é inegável. Eles vêm com um público pré-existente, um nome reconhecível e a promessa de “reviver” algo que já funcionou. Mas, em muitos casos, o resultado soa forçado, quase como uma tentativa de capturar algo que o tempo já cristalizou como insubstituível.
No caso de "Corra Que a Polícia Vem Aí", a dúvida que paira no ar é: será que o humor atual consegue dialogar com o espírito debochado dos anos 80 sem parecer uma paródia de si mesmo? E mais importante: será que ainda precisamos dessas refilmagens ou estamos apenas presos a uma zona de conforto cultural?
Enquanto isso, ideias originais — que poderiam se tornar os novos clássicos — continuam engavetadas, esperando por uma chance que talvez nunca venha. Se Hollywood não mudar essa rota, corremos o risco de ver o futuro do cinema preso ao retrovisor.
(*) Rodrigo James é jornalista, criador de conteúdo e publica semanalmente a newsletter MALA com notícias, críticas e pensatas sobre cultura pop e entretenimento.