Humberto Carrão e Caco Barcellos falam sobre a série 'Rota 66 - A História da Polícia que Mata'
Os dez anos de trabalho investigativo do jornalista relatados na obra são inspiração para a produção do Globoplay
Timidez e generosidade são algumas das semelhanças entre Caco Barcellos e Humberto Carrão decisivas para a escolha do ator que daria vida a um dos jornalistas mais consagrados do país. Na série dramatúrgica Rota 66 - A Polícia que Mata, do Globoplay, disponível a partir desta quinta-feira, 22, na plataforma, Carrão entra em cena para reproduzir os bastidores de um rigoroso trabalho de investigação jornalística, com foco na atuação violenta de uma rede de policiais nas periferias de São Paulo.
Com oito episódios, a trama também mergulha na biografia de Caco Barcellos, imergindo em sua trajetória profissional marcada por um trabalho de pesquisa e imersão aprofundados. Para dar vida ao personagem, Carrão revelou que fez um profundo trabalho de estudo, inclusive acompanhando apurações de Caco para o programa Profissão Repórter, da TV Globo.
"Foram dois dias na companhia do Caco, notando os gestos, os gostos, as ações, as manias e, claro, toda a forma como ele faz o trabalho jornalístico. Fiquei muito atento à forma como ele entrevistava, a relação dele com a câmera e com o entrevistado. Foram dias muito poderosos", contou o ator.
O processo de adaptação da escrita para o audiovisual foi acompanhado de perto por Caco, que esteve presente desde a construção dos roteiros até a edição final. "Tentei colaborar o máximo possível, prestei depoimentos, tive longas conversas com as equipes de criação, produção e direção. Nossos encontros aconteceram em diferentes fases do processo de criação", relembrou, acrescentando ter sido emocionante ver de perto o envolvimento da equipe com o seu trabalho.
Entrevista com Caco Barcellos
Rota 66 traz uma rigorosa investigação sobre a atuação da polícia militar no Estado de São Paulo. Como surgiu o interesse pelo tema e quais foram os principais marcos desses longos anos de investigação?
O interesse nasceu de minha imediata paixão pela reportagem. Tive muita sorte. Meus primeiros passos foram no Folha da Manhã, em Porto Alegre, uma redação cheia de mestres desse gênero do jornalismo. Foi lá que me ensinaram a apurar as notícias longe dos gabinetes da autoridade na época da fase mais dura da Ditadura Militar. Aos poucos aprendi a apurar esses crimes sob a ótica das vítimas, com a ajuda de amigos, parentes e entidades independentes e solidárias.
Como é ver o seu trabalhado adaptado para uma série de dramaturgia? O que você está achando do projeto e qual é a sensação de saber que todos os seus anos de dedicação à investigação ganharão mais projeção, chegando a mais brasileiros?
Espero que exibição no formato de série, desperte grande interesse do público. Minha investigação abrange os primeiros 22 anos de ação violenta da Rota, que foi criada em abril de 1970. Três décadas se passaram, mas quem assistir a serie vai perceber que a brutalidade do passado veio se repetindo até hoje e se multiplicando em todas grandes cidades do país.
Como foi o seu envolvimento na série? Já viu os episódios prontos? O que achou do resultado?
Tentei colaborar o máximo possível sempre que fui solicitado. Prestei depoimentos, tive longas conversas com o produtor Gustavo Mello, com os criadores e roteiristas Teo e Maria e com o diretor Philippe Barcinski, todos sempre cordiais e atenciosos comigo. Esses contatos aconteceram em várias fases do processo de criação. Jamais vou esquecer um encontro emocionante no set de filmagens, onde vi de perto o envolvimento de uma equipe aguerrida e talentosa.
Entrevista com Humberto Carrão
Caco Barcellos é um dos mais consagrados jornalistas investigativos do país. Como foi dar vida a esse papel?
Foi uma grande responsabilidade para mim, como ator, e para todo o elenco, roteiristas e diretores dar conta de adaptar um livro, como o Rota 66, para o audiovisual. A série, ao mesmo tempo, é uma aventura muito bonita, não só pelo Caco ser um grande jornalista, mas também por retratar o 'jornalismo de acompanhamento', que ele tanto faz em suas reportagens. Diria que é quase uma homenagem a forma dele de pensar e fazer o jornalismo
Qual foi o seu maior desafio como ator nessa produção?
O grande desafio é que o Caco Barcellos não é um personagem do livro. O meu personagem foi construído a partir das trocas que tive com ele e também das pesquisas dos roteiristas da série.
Como você se preparou para o papel? Como foi essa troca de experiências com o Caco e processo de imersão em sua história e em seu trabalho?
Tive uma experiência riquíssima. Passei dois dias inteiro na companhia do Caco e pude perceber bem de perto o ar misterioso, por causa da condição vital do trabalho dele. Os gestos, os gostos, as ações, as manias e, claro, toda a forma como ele faz o trabalho jornalístico. Fiquei muito atento à forma como ele entrevistava, a relação dele com a câmera e com o entrevistado. Foram dias muito poderosos.
Mais sobre a produção
A série Rota 66 - A Polícia que Mata foi criada por Maria Camargo e Teodoro Poppovic, tem redação final de Maria Camargo, roteiro de Teodoro Poppovic, Déo Cardoso, Mariah Schwartz, Philippe Barcinski, Felipe Sant'Angelo e Guilherme Freitas, produzido por Gustavo Mello, direção artística de Philippe Barcinski e direção de Philippe Barcinski e Diego Martins.
A produção é da Boutique Filmes, com coprodução Globoplay. Além de Humberto Carrão, tem no elenco Naruna Costa, Lara Tremouroux, Juan Queiroz, Adriano Garib, Rômulo Braga, Gabriel Godoy, Ricardo Gelli, Ailton Graça, Wesley Guimarães, Rafael Lozano, Felipe Oládélè, Ariclenes Barroso, Virgínia Rosa, Magali Biff, Ivy Souza, Bruno Vinícius, Gabriel Wiedemann, Edu Guimarães, Nizo Neto e Maria Manoella.
A série já está no ar, com os dois primeiros episódios disponíveis no Globoplay. Com oito ao total, os novos episódios são publicados às quintas-feiras, sempre com dois inéditos chegando juntos à plataforma.