Itamaraty afirma que não censurou filme sobre Chico Buarque
A empresa JMB Producciones informou ao diretor de cinema Miguel Faria Junior que uma decisão da embaixada brasileira em Montevidéu queria censurar o filme Chico: Artista Brasileiro, previsto para ser exibido no Festival Cine de Brasil 2019, que será realizado em outubro, no Uruguai. A produtora enviou uma carta ao diretor na noite dessa quinta-feira, 12, dizendo que havia recebido uma mensagem segundo a qual a embaixada solicitava a retirada do filme da programação, sem maiores explicações. Procurado pelo Estado, Miguel Faria disse que, no final desta sexta, 13, depois da repercussão da notícia, o filme havia sido convidado não só para ser exibido na programação, mas também encerrar o festival.
A JMB se baseou em uma ligação com a voz de uma mulher falando em nome da embaixada, dizendo que o filme deveria ser retirado. O Itamaraty enviou uma nota ao Estado que não responde se a mulher da ligação trabalha ou não no Ministério das Relações Exteriores, mas afirma o seguinte: "Informada sobre a lista dos filmes, a embaixada (brasileira) limitou-se a indicar sugestões. A seleção dos filmes é de responsabilidade dos produtores do evento. Na divisão de tarefas, foi solicitado à embaixada que contribuísse com coquetel de abertura e divulgação do evento no Uruguai." Miguel Faria diz ao Estado que, depois da divulgação das notícias na internet, ele recebeu uma mensagem de que o filme seria convidado a encerrar a programação do festival.
A carta em espanhol enviada a Miguel Faria Junior pela produtora JMB diz assim:
"Querido Miguel,
Quero informar como as coisas estão indo para a estreia, finalmente, de CHICO no Uruguai. Juntamente com nosso parceiro ENEC, que além de distribuidores, são expositores, planejávamos estrear o filme no Brazil Film Festival 2019, que acontece em outubro e, entre outros, é patrocinado pela Embaixada do Brasil em Montevidéu. Hoje de manhã, recebo uma mensagem surpreendente do expositor dizendo que eles foram chamados da embaixada para "pedir a eles" que NÃO mostrassem o filme de CHICO naquele festival. Embora seja lógico devido à situação política no Brasil, no Uruguai é muito sério que a exibição de um filme seja censurada, pois neste caso a JMB Filmes de Uruguay é a distribuidora e esse ato afeta nossos interesses. Em anexo, uma cópia da mensagem oficial da ENEC (proprietária parceira da sala ALFA / BETA) comunicando-a e um anexo de áudio de uma chamada de mulher, supomos que do Brasil, que notifica a decisão da embaixada do Brasil no Uruguai."
A íntegra na nota enviada pelo Itamaraty diz o seguinte:
"No inicío de agosto, a embaixada do Brasil em Montevidéu foi contatada pela produtora cultural Inffinito, que pretendia retomar festival de cinema em conjunto com o cinema local Life organizando sua 8a edição. A Inffinito solicitou à embaixada uma carta de apoio para trazer a produção cinematográfica do Brasil ao Uruguai, pedido que foi atendido no dia 12/08. A Inffinito concorreu em edital do FSA/Ancine e teve resultado positivo para captação de recursos para o festival. A Inffinito enviou à Embaixada lista preliminar de filmes que estavam sendo considerados pela curadoria do festival. Informada sobre a lista dos filmes, a embaixada limitou-se a indicar sugestões. A seleção dos filmes é de responsabilidade dos produtores do evento. Na divisão de tarefas, foi solicitado à embaixada que contribuísse com coquetel de abertura e divulgação do evento no Uruguai."
E o diretor Miguel Faria Junior, procurado pelo Estado, diz o seguinte: "Eu fiquei chocado quando recebi a notícia da retirada do filme. Chocado mas não surpreso. Esses sinais estão sendo emitidos há muitos meses. Agora pela tarde, depois das notícias divulgadas, recebi a informação de que seremos convidados para encerrar o festival com o filme. Não sei o que responder."