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Maria Callas é ode à eternidade de uma voz em seus últimos dias; RS já viu

O novo longa de Pablo Larraín, de Jackie e Spencer, chega aos cinemas brasileiros reimaginando a lendária artista nos seus últimos dias

16 jan 2025 - 16h08
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Maria Callas é ode à eternidade de uma voz em seus últimos dias; leia a crítica
Maria Callas é ode à eternidade de uma voz em seus últimos dias; leia a crítica
Foto: Divulgação/Diamond Films Brasil / Rolling Stone Brasil

Encerrando a sua trilogia composta por Jackie (2016) e Spencer (2021), Pablo Larraín lança, a partir desta quinta-feira, dia 16 de janeiro, Maria Callas, cinebiografia da da cantora de ópera greco-americana, estrelada por Angelina Jolie (Eternos).

As histórias retratam três figuras femininas históricas e suas complexas interações com o poder, a fama e a dor pessoal. Cada obra traz abordagens profundamente subjetivas, centradas na psicologia e nos conflitos internos dessas personagens, sem se limitar em oferecer uma visão biográfica tradicional digna de qualquer página de Wikipédia. Ao invés disso, Larraín se rende à beleza estética do cinema, dos delírios de suas protagonistas e da liberdade de um autor que possui uma assinatura bem clara — gostem dela ou não.

A obras da trilogia das divas, como alguns a chamam, compartilham algumas características centrais: a busca pela subjetividade das personagens históricas, o distanciamento das convenções de biografias tradicionais e a exploração das complexas dinâmicas entre a vida pública e privada das mulheres retratadas.

Larraín rejeita uma leitura simplista de suas figuras biográficas, preferindo traçar retratos multifacetados, nos quais a identidade da personagem é questionada e fragmentada. As atuações de Natalie Portman (Jackie), Kristen Stewart (Spencer) e Angelina Jolie (Maria Callas), todas marcadas por sua intensidade emocional, são elementos centrais, que ajudam a transmitir essa complexidade, sendo acompanhadas por direções de arte e cinematografia que elevam ainda mais o tom contemplativo e, por vezes, surreal de seus filmes.

Apesar das similaridades, cada obra lida com temas distintos, como o luto e a reconstrução da identidade em Jackie, o sofrimento e a busca por autonomia em Spencer e a perda da grandeza e a solidão em Maria Callas. Larraín, ao longo da trilogia, constrói uma narrativa mais emocional do que factual, o que muitas vezes gera uma experiência sensorial e introspectiva para o espectador, que se vê diante não apenas das figuras públicas que esses ícones representaram, mas de suas lutas internas e suas fragilidades humanas.

Maria Callas, que encerra a trilogia, é o retrato de uma mulher imortalizada pela grandeza de sua voz e pelo brilho de sua presença no palco, mas que, nos últimos dias de sua vida, se vê perdida em um mundo de opulência vazia e decadente. O longa é uma ode intimista às memórias e devaneios de Maria Callas. A escolha de Larraín é ousada ao transformar a biografia da soprano em um estudo psicológico denso, repleto de simbolismos e contrastes, em que o luxo exterior é constantemente confrontado com a fragilidade interna da artista.

A fotografia de Edward Lachman (As Virgens Suicidas) captura a atmosfera de isolamento de Maria Callas sempre com planos abertos e tons pastéis, que evocam a decadência e a memória de um passado glorioso, agora desvanecido, em seus últimos dias. O uso das cenas em preto e branco para retratar o passado da cantora pode ser interpretado como um aceno a uma Maria Callas que ficou na história e nas lembranças.

Angelina Jolie encarna uma Callas delicada, multifacetada e carregada de nuances. Outra atriz daria conta da personagem? É bem díficil responder, mas a escolha pela atriz se mostra acertada. Jolie mergulha na personagem com uma intensidade que há muito não se via em sua carreira; muitas vezes ela resgata a humanidade de Callas, afastando-se da figura mítica e trazendo à tona a mulher frágil e atormentada pelas expectativas que a cercam.

O grande trunfo do roteiro de Maria Callasestá no fato de que Larraín escolhe explorar o mito de Maria Callas não através dos fatos de sua vida, mas pela reconstrução de sua psique e dos ecos de sua existência. Esse formato desafiador oferece uma visão mais humana e menos idealizada da cantora, sem cair na armadilha da glorificação.

Em última análise, Maria Callas é um filme visualmente deslumbrante, que vai além da superfície. Larraín e Jolie fazem um trabalho poderoso ao reconstruir a história da diva. A proposta de capturar a grandeza e a tragédia de Callas nessa busca particular pela complexidade psicológica e a mistura de fantasia com realidade podem não agradar a todos, mas ao menos garantem que Maria Callas seja uma obra que se distancia do comum e entre em sintonia com os demais filmes da trilogia.

Especial de cinema da Rolling Stone Brasil

O cinema é tema do novo especial impresso da Rolling Stone Brasil. Em uma revista dedicada aos amantes da sétima arte, entrevistamos Francis Ford Coppola, que chega aos 85 anos em meio ao lançamento de seu novo filme, Megalópolis, empreitada ousada e milionária financiada por ele próprio.

Inabalável diante das reações controversas à novidade, que demorou cerca de 40 anos para sair do papel, o cineasta defende a ousadia de ser criativo da indústria do cinema e abre, em bom português, a influência do Brasil em seu novo filme: "Alegria".

O especial ainda traz conversas com Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello sobre Ainda Estou Aqui, um bate-papo sobre trilhas sonoras com o maestro João Carlos Martins, uma lista exclusiva com os 100 melhores filmes da história (50 nacionais, 50 internacionais), outra lista com as 101 maiores trilhas da história do cinema, um esquenta para o Oscar 2025 e o radar de lançamentos de Globoplay, Globo Filmes, O2 Play e O2 Filmes para os próximos meses.

O especial de cinema da Rolling Stone Brasil já está nas bancas de jornal, mas também pode ser comprado na loja da editora Perfil por R$ 29,90. Confira:

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