Massacre da floresta de Shakahola: o caso da seita de jejum no Quênia
Seita que incentivava os seguidores a jejuar para "conhecer Jesus" resultou em dezenas de mortos - eis os detalhes!
Nos últimos dias, uma notícia chocante ganhou as manchetes do mundo todo: a seita de jejum no Quênia. Conhecido como o "Massacre da floresta de Shakahola", o caso do pastor evangélico que incentivava seus seguidores a jejuar para "conhecer Jesus" resultou na morte de dezenas de pessoas — e os números continuam subindo. Mas, afinal, quem era o líder da seita? Qual era a sua missão? Como o massacre aconteceu? HFTV responde!
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EX-TAXISTA, PASTOR E CRIMINOSO
Conhecido como o pastor Paul Mackenzie Nthenge, o líder da Igreja Internacional das Boas Novas, que ele mesmo fundou em 2003, é um ex-taxista cuja pregação extrema o levou à prisão antes mesmo do polêmico caso. Acusado de ter levado seus seguidores a morrerem — literalmente — de fome no leste do Quênia, Nthenge está atualmente sob custódia da polícia.
O site da organização de Paul diz que ela foi "criada em 17 de agosto de 2003 pelo seguidor de Deus PN Mackenzie". Com filiais em várias regiões do país, a Igreja conta com mais de 3.000 membros, inclusive, mil deles somente na cidade costeira de Malindi.
Com ideias chocantes e absurdas, Paul lançou um canal no Youtube em 2017 com o objetivo de compartilhar seus sermões em sua igreja, sempre alertando seus fiéis sobre práticas "demoníacas", como usar perucas, fazer transações digitais sem dinheiro vivo e até mesmo estudar.
MENSAGEM DOS ÚLTIMOS TEMPOS
Responsável por um programa intitulado "Mensagem dos Últimos Tempos", que oferecia "ensinamentos, pregações e profecias sobre o final dos tempos, comumente chamados escatologia". Ele dizia que sua missão era "levar o evangelho do nosso senhor Jesus Cristo livre do engano e do intelecto do homem".
Além disso, a Igreja Internacional das Boas Novas diz que "a missão deste ministério é nutrir os fiéis de forma holística em todas as áreas da espiritualidade cristã, enquanto nos preparamos para a segunda vinda de Jesus Cristo através do ensino e da evangelização".
OS CRIMES ANTES DO MASSACRE
O líder da seita foi preso pela primeira vez este ano, por promover a não escolarização das crianças, afirmando que a educação não era algo reconhecido pela Bíblia. Ele também foi preso no mês passado "após ser vinculado à morte de duas crianças que, supõem-se, teriam morrido de fome por instruções deste criminoso", como apontado pelo chefe da polícia do Quênia, no entanto, pagou uma fiança de 100.000 xelins quenianos (cerca de R$ 3,7 mil) e foi liberado.
Também listados como suspeitos da morte das crianças estão Isaac Ngala e Emily Kaunga, os pais dos menores. Segundo documentos judiciais, os dois, a conselho de Mackenzie, teriam matado de fome e sufocado os filhos Seth Hinzano e Evabra Dito.
O MASSACRE DA FLORESTA DE SHAKAHOLA
Dezenas de corpos foram encontrados na floresta de Shakahola nos últimos dias. Segundo informações divulgadas pelo ministro do Interior do Quênia, nesta terça-feira (25), o número de mortos já somam 89. Já o número de sobreviventes encontrados — bem debilitados — até agora é de 34. Todos eles seriam membros da igreja fundada por Paul Mackenzie Nthenge.
O número de vítimas, que inclui diversas crianças, é provisório. Afinal, segundo a Cruz Vermelha do país, 212 pessoas foram registradas como desaparecidas. Os investigadores trabalham em uma floresta de 325 hectares, que fica próxima da cidade costeira de Malindi, em busca de valas comuns. "A maioria dos corpos exumados é de crianças", disse um legista à AFP. Segundo a fonte, foram encontradas valas com até seis pessoas.
"A cada dia que passa, há uma chance muito grande de que outras pessoas morram", disse Hussein Khalid, diretor-executivo da ONG Haki África, que alertou a polícia sobre as ações do líder do grupo. "O horror que vimos nos últimos quatro dias é traumático. Nada te prepara para ver covas rasas com crianças dentro", acrescentou.
As mortes são o resultado da "lavagem cerebral" feita por Paul em seus seguidores, que promovia o jejum entre seus os fiéis como uma forma para "conhecer Jesus". Além disso, segundo a imprensa local, o líder da seita também incentivava pais a matarem seus filhos em nome de Deus.
O QUE PAUL MACKENZIE NTHENGE DIZ SOBRE O CASO?
Pai de sete filhos, Paul diz estar chocado com as acusações e afirma que esse é o ensinamento básico de seu tipo de cristianismo. Ele também afirmou que parou de pregar em 2019.
"Estou chocado com as acusações feitas a mim. Fechei minha igreja em Malindi em agosto de 2019 e é importante que as pessoas aceitem isso. Até vendi os equipamentos lá e as cadeiras também. Se uma pessoa costumava adorar comigo naquela época, deveria fazê-lo por conta própria agora e não em meu nome. Siga a Cristo e não o pastor Mackenzie", disse ele em entrevista recente.
Preso há dez dias, ainda há seguidores de Paul que seguem escondidos jejuando, segundo a polícia. Além disso, uma fonte policial afirmou que Nthenge iniciou uma greve de fome e que "está orando e jejuando" enquanto permanece preso. Segundo a imprensa local, alguns seguidores do pastor também foram detidos.
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