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'Men: Faces do Medo' mostra os fantasmas da relação abusiva

Estrelado por Jessie Buckley, filme de Alex Garland mistura fantasia e drama para falar sobre problemas dolorosamente reais

8 set 2022 - 11h34
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Logo na primeira cena de Men: Faces do Medo, Harper (Jessie Buckley) vê um homem caindo de uma altura considerável - um prédio, talvez? Ela está sangrando pelo nariz e esse homem, ainda que não tenha sua identidade revelada logo de cara, parece ter alguma conexão com a personagem. Dá para sentir pelo olhar. A partir daí, acompanhamos essa mulher em uma jornada, física e emocional, que envolve diretamente esse acontecimento.

Dirigido por Alex Garland (de Ex-Machina e Aniquilação), o longa-metragem traz todos os elementos que esse cineasta mostrou em suas outras produções: uma ambientação que se equilibra entre o drama e a fantasia, cenários que provocam e instigam, personagens estranhos e, acima de tudo, algum tipo de comentário. Mas, enquanto na maioria das suas produções falou sobre ciência, tecnologia e ser humano, aqui fala sobre abalos emocionais.

Cena do filme 'Men: Faces do Medo', de Alex Garland Foto: Kevin Baker

Harper, afinal, passou por um processo complicado. Teve um relacionamento abusivo, sofreu. Buckley, que se tornou a diva dos cineastas complicados (vide Estou Pensando em Acabar com Tudo), trafega tranquilamente nesse mar revolto, segura de sua atuação. Já o diretor coloca elementos para fazer com que o público quebre a cabeça. São atores que se repetem em cena, que tomam atitudes imprevisíveis, que flertam com a ficção não-realista.

Ideia de 'Men: Faces do Medo'

É uma ideia, segundo Garland, que nasceu há muito tempo. "Escrevi esse roteiro há mais de 15 anos", conta o diretor, em entrevista ao site Collider. "Acho que escrevi o primeiro rascunho entre Sunshine: Alerta Solar e Não me Abandone Jamais, que já faz muito tempo. Teve uma, duas, pelo menos três e talvez quatro versões completamente diferentes antes desta, que é a quarta ou a quinta. Muitas vezes retrabalho e eles mudam com o tempo".

Seria surpreendente, e até mesmo estranho, que esse roteiro tivesse sido escrito há tanto tempo assim da forma que chegou às telas. Afinal, claramente Men: Faces do Medo é fruto de uma Hollywood que passou não só a entender o que é um relacionamento abusivo, como a condenar com movimentos como o Me Too e o Time's Up. É fruto de um novo momento, que só poderia acontecer realmente a partir de uma perspectiva contemporânea.

No visual, enquanto isso, Garland e o diretor de fotografia Rob Hardy (também de Aniquilação e Ex-Machina) brincam com os sentidos, alternando as cores inteligentemente entre passado e presente. "É um esquema de cores muito simples, de vermelho e verde. Usamos o vermelho em lugares muito seletivos e depois cronometramos nossas filmagens", diz. "Empurramos [as gravações] para literalmente o último dia em que poderíamos começar a filmar. Estávamos esperando a primavera chegar e as folhas ficarem verdes".

Significados

Apesar da clareza de cores e sobre o que é a história, Men: Faces do Medo está longe de ser simples. Termina deixando um ponto de interrogação na cabeça, como foi no caso de Aniquilação - bem diferente de Ex-Machina, que é claro em suas intenções e na trama que está contando. Mostra que Garland, cada vez mais, está buscando um cinema-cabeça, que deixa as ideias e histórias no ar para, depois, fazer com que o espectador fique refletindo.

Segundo ele, não houve pressão da produtora A24 em criar uma história clara, com começo, meio e fim. "No início da minha vida cinematográfica, eu estava sob muita pressão o tempo todo para explicar de todos os tipos de áreas diferentes", disse o diretor à Collider. "Gosto de filmes nos quais você, como um espectador, tem que participar. Nem tudo é fornecido para você. Isso significa não responder a todas as perguntas em alguns aspectos, não dar tudo de bandeja. A A24 me deu apoio, a cada passo ao longo do caminho; [da] pré-produção até a edição. E é um filme bastante desafiador, então sou grato por isso".

Apesar de estar grato, Garland também indica que está cansado. Logo depois de Men: Faces de um Medo, o cineasta já caiu de cabeça nas gravações do filme Civil War, com Kirsten Dunst e Wagner Moura. Depois disso? "Estou pensando em parar de dirigir por um tempo. Eu fiz um monte de coisas consecutivas e preciso de uma pausa indeterminada", disse à Collider. A ideia, segundo ele, é escrever para que outros dirijam. Para nós, do lado do público, tudo bem. Afinal, podemos não ter mais filmes dirigidos por Garland, mas suas ideias e as duras reflexões que nascem de suas histórias ficarão aí por bastante tempo.

Relações abusivas no teatro

Estadão
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