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Morre Jean-Luc Godard, cineasta dos filmes políticos e radicais

Diretor franco-suíço, autor de clássicos como 'Acossado', estava com 91 anos

13 set 2022 - 07h07
(atualizado às 08h32)
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 Jean-Luc Godard
Jean-Luc Godard
Foto: Vincent Kessler / Reuters

O cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard morreu nesta terça-feira, 13, aos 91 anos. Não foi informada a causa da morte. A notícia foi confirmada pelo jornal francês Liberation, a partir de informações da família.

"O cineasta Jean-Luc Godard faleceu em 13 de setembro de 2022, anunciam sua esposa Anne-Marie Miéville e seus produtores. Não haverá cerimônia. Jean-Luc Godard faleceu pacificamente em casa, cercado por seus entes queridos. Ele será cremado", indica o breve comunicado transmitido à agência de notícias France Presse.

Conhecido por uma filmografia radical e politicamente ativa, Godard esteve entre os diretores mais aclamados de sua geração com filmes clássicos como Acossado (À bout de souffle), que o lançou para o cenário mundial em 1960. O filme conta a história de uma jovem americana em Paris, interpretada pela atriz Jean Seberg, e seu caso pouco produtivo com um jovem rebelde em fuga, interpretado por Jean-Paul Belmondo.

Esse filme, que marcou sua estreia cinematográfica, revolucionou o cinema popular e logo colocou Godard como um diretores mais vitais e provocadores do mundo. Afinal, ele reescreveu regras para câmera, som e narrativa. Ao longo da carreira, soube também ser controverso, como quando seu longa Je Vous Salue, Marie (1985) foi rejeitado pelo Papa João Paulo II - o filme chegou a ser proibido no Brasil. Mas Godard também fez uma série de filmes com carga política e experimental, que intrigavam seus fãs e críticos.

Nascido em uma rica família franco-suíça em 3 de dezembro de 1930, em Paris, Godard cresceu em Nyon, na Suíça, estudou etnologia na Sorbonne, na capital da França, onde foi cada vez mais atraído pela cena cultural que floresceu no Quartier Latin, berço de cineclubes nascidos após a Segunda Guerra Mundial.

Tornou-se amigo de futuros diretores de renome como François Truffaut, Jacques Rivette e Eric Rohmer e, em 1950, fundou a Gazette du Cinema. Em 1952, Godard começou a escrever para a prestigiosa revista de cinema Cahiers du Cinema.

Depois de trabalhar em dois filmes de Rivette e Rohmer em 1951, Godard tentou dirigir seu primeiro longa enquanto viajava pelas Américas do Norte e do Sul com seu pai, mas nunca o terminou. De volta à Europa, conseguiu um emprego na Suíça como operário da construção em um projeto de barragem. Ele usou o dinheiro para financiar seu primeiro filme completo, Operation Béton, de 1958, um documentário de 20 minutos sobre a construção de uma barragem.

De volta a Paris, Godard trabalhou como porta-voz de uma agência de artistas e fez seu primeiro curta de ficção, Todos os Rapazes se Chamam Patrick, lançado em 1959. Inquieto, continuou a aprimorar sua escrita. Mas foi com Acossado que Godard deu o novo tom para a estética cinematográfica francesa, rejeitando o estilo convencional de narração, usando cortes frequentes que alternavam discussões filosóficas com cenas de ação. O cineasta combinou referências a filmes de mafiosos de Hollywood com literatura e artes visuais.

Godard se casou em 1961 com a modelo e atriz dinamarquesa Anna Karina, que participou de uma série de seus filmes ao longo do resto da década, todos considerados marcos da Nouvelle Vague. Destacam-se Viver a Vida (1962), Alphaville (1965) e O Demônio das Onze Horas (1965), também estrelado por Belmondo e que, segundo rumores, teria sido filmado sem um roteiro.

O cineasta participou também, ao longo da carreira, em projetos de filmes coletivos, contribuindo com cenas para Os Sete Pecados Capitais (1962) ao lado de diretores como Claude Chabrol e Roger Vadim. Também trabalhou com Ugo Gregoretti, Pier Paolo Pasolini e Roberto Rossellini no filme italiano Rogopag - Relações Humanas (1963), em que Godard contribuiu com o retrato de um mundo pós-apocalipse perturbador.

Godard, que mais tarde ganharia reputação por suas visões políticas intransigentes de esquerda, confrontou as autoridades francesas em 1960, quando fez O Pequeno Soldado. Repleto de referências à guerra colonial da França na Argélia, só foi lançado em 1963, um ano após o término do conflito.

O cineasta politizava cada vez mais seu trabalho. Em Week End à Francesa (1967), seus personagens satirizam a hipocrisia da sociedade burguesa ao mesmo tempo em que demonstram a futilidade cômica da violenta guerra de classes. O longa foi lançado um ano antes de a revolta popular contra o establishment abalar a França, culminando nos icônicos, mas de curta duração, distúrbios estudantis de maio de 1968.

O diretor, que ao longo do tempo ganhou reputação por suas fortes convicções políticas de esquerda, mostrou sua simpatia por várias formas de socialismo em filmes rodados entre o início dos anos 1970 e o início dos 1990. Em dezembro de 2007, Godard foi reconhecido com um prêmio pelo conjunto da obra do European Film Academia.

Sua defesa ao longo da vida da causa palestina também lhe rendeu repetidas acusações de antissemitismo, apesar de sua insistência de que simpatizava com o povo judeu e sua situação na Europa ocupada pelos nazistas.

Godard criticou Hollywood em várias ocasiões ao longo dos anos. Em novembro de 2010, ficou em casa na Suíça em vez de viajar para Hollywood para receber um Oscar honorário. Embora a Academia tenha recebido algumas reclamações sobre Godard ter sido selecionado para receber o prêmio, o então presidente da entidade, Tom Sherak, disse que o diretor foi reconhecido apenas "por suas contribuições para o cinema na era New Wave".

Em 2010, Godard lançou Filme Socialismo, longa em três capítulos exibido pela primeira vez no Festival de Cinema de Cannes. Intelectual irrequieto, ele testou as modernas formas de se fazer cinema em Adeus à Linguagem (2014) e no documentário Imagem e Palavra (2018), rodado em 3D.

Godard passou seus últimos anos morando em Rolle, na Suíça, perto de onde cresceu, às margens do Lago Genebra. / Com agências internacionais

Estadão
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