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'Mother and Child' traz melancólica história sobre a maternidade

10 mai 2010 - 07h29
(atualizado às 08h45)
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O laço entre mãe e filho pode ser primordial, mas está longe de ser simples. Essa é a premissa e a conclusão de Mother and Child, o drama denso e reflexivo - ainda que também irregular - de Rodrigo Garcia sobre a angústia maternal e a nostalgia filial.

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Mother and Daughter teria sido um título mais preciso, já que as continuidades e complexidades das vidas e relacionamentos das mulheres são o que mais interessam Garcia. Seus filmes anteriores, Coisas que Você Pode Dizer Só de Olhar para Ela e Questão de Vida, demonstraram a sinceridade desse fascínio, e também um lado sentimental silencioso, às vezes quase imperceptível, uma tendência de ver a condição da mulher como sagrada e fundamentalmente trágica.

Nesse aspecto, o título do novo filme é adequado, já que Mother and Child inevitavelmente evoca a iconografia rica da Natividade e de Pietà do catolicismo romano. A freira generosa e solícita (interpretada por Cherry Jones) que une vários fios da narrativa é um emblema óbvio dessa tradição. Não que temas religiosos sejam enfatizados - vários personagens expressam sua falta de fé -, mas eles rondam os mistérios e milagres diários que Garcia encontra na maternidade.

Existem algumas duplas intactas de mãe e filha na Los Angeles de Garcia, uma cidade calma e melancólica. Uma mulher de idade chamada Nora (Eileen Ryan) vive com sua filha única Karen (Annette Bening), uma fisioterapeuta frágil e amarga que inveja a amizade calorosa de sua mãe com a empregada, que também tem uma filha. Karen se ressente por causa dessa criança, que a faz lembrar o bebê que deu à luz e entregou para adoção. É óbvio - pelo menos para o público - que esse bebê, nascido quando Karen tinha apenas 14, cresceu e se tornou Elizabeth (Naomi Watts), uma advogada que também vive em Los Angeles e suspeita que sua mãe esteja por aí.

Elizabeth é ambiciosa e distante, e usa sua sexualidade como uma forma de atrair as pessoas e puni-las por ter sido abandonada quando bebê. Ela seduz seu novo chefe, Paul (Samuel L. Jackson), que fica intoxicado e aterrorizado com o autocontrole de Elizabeth. Aparentemente por pura maldade, ela também vai para a cama com um vizinho, cuja esposa grávida é alegre e extrovertida - tudo que Elizabeth está determinada a nunca ser.

Enquanto isso, Lucy (Kerry Washington), que não consegue engravidar, procura um bebê para adotar, e encontra uma possível mãe em Ray (Shareeka Epps), uma jovem cética e de língua afiada que lembra uma Juno mais cruel e que tenta não seguir os passos de sua mãe, que foi mãe solteira. Já a mãe de Lucy (S. Epatha Merkerson) dá apoio e aborrecimento à filha em medidas iguais. A sogra de Lucy é um problema totalmente à parte e uma das poucas personagens do filme que beira à caricatura.

Há mais no filme, mas já podemos ter uma ideia do esboço irregular de uma novela nesse emaranhado de mágoa a decepção. Um dos produtores executivos de Mother and Child é Alejandro Gonzalez Iñárritu, que dirigiu 21 Gramas e Babel e, portanto, é praticamente um especialista em melodramas metafísicos. Para seu crédito, Garcia não força seus personagens a passar pelo mecanismo do determinismo cósmico da maneira que Iñárritu faz, mas o clima e a estrutura dessa história de muitas ramificações, na qual aparentes estranhos acabam, por obra do acaso, tendo um impacto transformador nas vidas uns dos outros, vão provavelmente nos parecer familiares.

Mesmo assim, o tom e o ritmo são incomuns. Esse é um filme relaxado e tranquilo que, sobretudo, se dedica a explorar as emoções e dilemas de seus personagens. Seu comedimento e a paciência de suas cenas prendem a atenção por entrarem em conflito com o tumulto emocional que borbulha sob a superfície. Quando paramos para pensar, algumas dessas mulheres - em particular, Karen e Elizabeth, cujas vidas foram definidas por sua separação precoce - vivem num estado de constantes extremos.

A noção de que a adoção seja algo próximo de uma catástrofe - um rompimento da ordem natural - pode desconsertar ou afastar os espectadores cujas experiências sugerem o contrário. Mas os membros do elenco e a direção graciosa que Garcia faz de seus esforços fornecem nuances que podem não estar nas páginas de seu roteiro. Se você precisa de razões para assistir a Mother and Child, leia os nomes entre parênteses desta crítica (e acrescente Jimmy Smits, como um colega de trabalho bondoso de Karen que gentilmente tenta penetrar sua armadura). Você pode não confiar totalmente em Mother and Child - seus pontos fracos e limites pouco claros entregam o jogo -, mas você pode acreditar em praticamente todos no filme.

Amy Traduções

Annette Bening interpreta uma mulher amarga que deu sua filha à adoção em 'Mother and Child'
Annette Bening interpreta uma mulher amarga que deu sua filha à adoção em 'Mother and Child'
Foto: Divulgação
The New York Times
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