Netflix defende nova série dos autores de Game of Thrones de acusações de comunismo
A Netflix rebateu a pressão de cinco senadores americanos que lhe enviaram um pedido para que desistisse da produção da nova série dos criadores de "Game of Thrones". A ação política reproduziu os mesmos argumentos da infame Lista Negra, que deixou centenas de roteiristas desempregados e proibidos de trabalhar em Hollywood há meio século atrás: histeria contra a ameaça comunista.
Os senadores do Partido Republicano, o mesmo do presidente Trump, não gostaram de saber que a Netflix pretendia transformar a trilogia iniciada pelo best-seller sci-fi "O Problema Dos Três Corpos" em série, porque seu autor, Liou Cixin, é chinês e propaga a "perigosa propaganda" do Partido Comunista.
O projeto de adaptação de "O Problema Dos Três Corpos" está sendo sendo desenvolvido por David Benioff e D.B. Weiss, criadores da série "Games of Thrones", em parceria com Alexander Woo, showrunner de "The Terror", o cineasta Rian Johnson, que dirigiu "Guerra nas Estrelas: O Último Jedi", e com a empresa de entretenimento Plan B, de Brad Pitt.
Embora os senadores não tenham acusado este quinteto, eles reclamam que o autor chinês é comunista e destacam, em seu pedido de censura, uma entrevista que ele concedeu à revista The New Yorker em junho.
Liu rebateu a uma pergunta do New Yorker sobre o destino da minoria muçulmana uigur, alvo de detenções em massa em campos de concentração na China, questionando o repórter se "ele preferia que essas pessoas estivessem por aí matando os outros em ataques terroristas".
Em seu recente lançamento "Mulan", a Disney também agradeceu as autoridades chinesas da região em que as detenções em massa ocorreram - e onde a adaptação da fábula chinesa foi filmada.
Os senadores não acusaram a Disney de defender o comunismo chinês, mas enviaram uma carta ao chefe de conteúdo da Netflix, Ted Sarandos, denunciando Liu por "repetir como um mantra a perigosa propaganda" do Partido Comunista. "Na face de atrocidades como as que ocorrem nesses campos, companhias não podem mais tomar decisões de complacência, apenas de cumplicidade. A Netflix deveria reconsiderar seriamente as consequências de dar uma plataforma ao sr. Liu", diz o texto dos senadores.
Em resposta, a plataforma de streaming foi clara. Disse que não concorda com as opiniões de Liu sobre os campos de concentração e repetiu três vezes que ele não está envolvido na produção.
"O Sr. Liu é autor dos livros, não criador da série. Os comentários do Sr. Liu não refletem as opiniões da Netflix, ou dos criadores da série, e não são parte da trama ou dos temas da história", declarou a Netflix.
A resposta da plataforma ainda destacou que a Netflix "julga cada projeto proposto por seu time criativo nos méritos próprios".
O comunicado foi assinado por Dean Garfield, vice-presidente de políticas públicas globais da empresa.