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'O Menino do Pijama Listrado': Por que o filme não é recomendado por estudiosos do Holocausto?

Livro campeão de vendas e filme homônimo lançado em 2008 são sucesso, mas historiadores contestam importância.

6 set 2024 - 05h00
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'O Menino do Pijama Listrado' conta amizade de um menino judeu e um alemão durante a Segunda Guerra
'O Menino do Pijama Listrado' conta amizade de um menino judeu e um alemão durante a Segunda Guerra
Foto: Reprodução/IMDb

É possível que você tenha se emocionado com o livro ou com o filme de "O Menino do Pijama Listrado", quando ambos foram lançados --respectivamente em 2006 e 2008. A história de duas crianças separadas por uma cerca que formam uma amizade na Alemanha nazista, sem se darem conta de que são separados por um campo de concentração e por uma guerra, encantou muita gente e foi o primeiro grande trabalho de Asa Butterfield, da série "Sex Education". Mas é possível também que você não soubesse que, embora arranque muitas lágrimas, essa história passa bem longe de ser uma representação ideal do holocausto.

Considerado um best-seller, o livro do escritor John Boyne já vendeu 11 milhões de cópias mundialmente, e costuma ser usado para explicar o que é o holocausto para crianças em idade escolar, mas a prática não é recomendada por historiadores e estudiosos da Segunda Guerra Mundial. Um estudo publicado em 2016 pela Universidade de Londres trouxe à tona as preocupações da influência do livro, no quanto os jovens e crianças conseguiam entender das complexidades do nazismo. 

O Menino do Pijama Listrado é inspirado em uma história real?

'O Menino do Pijama Listrado' conta amizade de um menino judeu e um alemão durante a Segunda Guerra
'O Menino do Pijama Listrado' conta amizade de um menino judeu e um alemão durante a Segunda Guerra
Foto: Reprodução/IMDb

No livro e no filme, o público acompanha a história de Bruno (Asa Butterfield), um garoto de nove anos cuja família sai de Berlim para morar próximo ao campo de concentração de Auschwitz, do qual seu pai acaba de se tornar comandante. Solitário, Bruno começa a explorar os arredores da casa e acaba encontrando Shmuel (Jack Scanlon), um menino judeu de sua idade. Separados por uma cerca de arame farpado, eles acabam formando uma amizade proibida. 

Embora muitos acreditem que a trama é inspirada em eventos reais, toda a narrativa de "O Menino do Pijama Listrado" é inteiramente fictícia. A pesquisadora Hannah Randall, chefe de pesquisa do Holocaust Centre North na Inglaterra, reforça que os eventos retratados na história jamais poderiam ter acontecido na realidade. Para ela, são justamente as incongruências e as imprecisões históricas que perpetuam estereótipos problemáticos.

Quais são os problemas na história de O Menino do Pijama Listrado?

'O Menino do Pijama Listrado' conta amizade de um menino judeu e um alemão durante a Segunda Guerra
'O Menino do Pijama Listrado' conta amizade de um menino judeu e um alemão durante a Segunda Guerra
Foto: Reprodução/IMDb

Durante a primeira metade da narrativa, Bruno é retratado como um menino que não sabe o que é o nazismo, nunca ouviu falar de campos de concentração e desconhece os judeus ou o judaísmo. 

O primeiro problema disso é que se trata de um equívoco histórico, pois Bruno teria sido obrigado, por lei, a participar da Juventude Hitlerista. Na escola, ele precisaria constantemente prestar juramento a Hitler, e cabe salientar que a propaganda antissemita fazia parte do currículo escolar na ocasião. 

É possível que o leitor argumente que se trata apenas de uma história de ficção sem um compromisso obrigatório com a realidade, mas o que historiadores argumentam é que esta caracterização ajuda a perpetuar uma ideia incorreta de que a maioria da população desconhecia o que acontecia nos campos de concentração. Seria até possível que os pais tentassem proteger Bruno da realidade dentro de casa, mas o mesmo não poderia acontecer na escola e com suas obrigações civis com o 3º Reich.

Já Shmuel, o menino judeu que faz amizade com Bruno pela cerca, acaba sendo apenas isso na história. Pouco é dito sobre sua história e sua origem durante o filme e no curso do livro, o que torna mais difícil para o público criar uma conexão com ele na mesma intensidade em que se conecta, por exemplo, com Bruno. 

'O Menino do Pijama Listrado' conta amizade de um menino judeu e um alemão durante a Segunda Guerra
'O Menino do Pijama Listrado' conta amizade de um menino judeu e um alemão durante a Segunda Guerra
Foto: Reprodução/IMDb

Final é considerado problemático

No final da história (com óbvios spoilers a seguir), Bruno atravessa para dentro do campo de concentração por um buraco que as duas crianças fazem por baixo da cerca. A ideia dos dois é ir em busca do pai desaparecido de Shmuel, e eles são colocados junto a um grupo de prisioneiro enviados para a câmara de gás. 

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Hannah Randall argumenta:

"Como o foco da história permanece na família de Bruno, o livro não se envolve com a principal tragédia do Holocausto: que nenhuma das pessoas na câmara de gás deveria estar lá. Devido à maneira como o personagem de Shmuel é retratado no romance, seu personagem não envolve a simpatia do leitor da maneira que Bruno faz. Shmuel representa 1,5 milhão de crianças assassinadas pelo regime nazista em Auschwitz-Birkenau, nos campos de extermínio da Europa ocupada e nos campos de extermínio onde milhões de civis foram baleados em valas comuns, mas a simpatia do leitor é direcionada a um comandante de campo de concentração nazista e sua família."

O que o autor diz sobre as críticas?

'O Menino do Pijama Listrado' conta amizade de um menino judeu e um alemão durante a Segunda Guerra
'O Menino do Pijama Listrado' conta amizade de um menino judeu e um alemão durante a Segunda Guerra
Foto: Reprodução/IMDb

Em entrevista concedida à rádio BBC 4 este ano, John Boyne se manifestou sobre as constantes críticas que ouve em relação ao livro, que incluem até mesmo o Museu do Holocausto pedindo às pessoas que evitem a leitura. 

"Minha visão sobre o livro –e eu ouvi muitas das críticas, as absorvi, e algumas eu entendo, outras não– é que é um romance, é uma fábula, uma história de ficção com uma moral no centro. Nunca fingi que era mais do que isso. Se você quiser saber os fatos sobre o Holocausto, não leia um romance, leia um livro de não-ficção."

“Os historiadores diziam: ‘Bem, você sabe, isso não deveria ser usado como uma ferramenta no estudo do Holocausto.’ Claro, não deveria ser”, continuou. “É um romance, se você estiver estudando, use uma ampla gama de coisas, leia não-ficção. Novamente, eu não escrevi um livro didático.”

Em 2022, Boyne lançou uma continuação para "O Menino do Pijama Listrado", intitulado "All the Broken Places" ("Todos os Lugares Despedaçados", em tradução livre), que recebeu críticas mistas. O livro conta a história de Gretel Fernsby, uma mulher de 91 anos que mora em Londres e evita falar de seu passado, quando escapou da Alemanha nazista aos 12 anos. 

Fonte: Redação Entre Telas
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