‘Baile’ invoca ocupação de espaços de poder por mulheres
Possível candidato brasileiro ao Oscar, curta-metragem de ficção em live-action fala sobre falta de diversidade no poder
Apenas 24 horas de um dia e tantas reflexões. Baile instiga o debate sobre a falta de diversidade em espaços de poder enquanto acompanha a jornada agridoce de Andréa, uma menina de 10 anos, negra e periférica, que mora com a mãe e a bisavó, que sofre de Alzheimer.
Um passeio escolar à Assembleia Legislativa de Santa Catarina a expõe para a realidade do país (e também do mundo): uma parede de quadros estampam os rostos de ex-presidentes, todos homens brancos. “Sempre fiquei na cabeça que precisava fazer algo com essa cena”, conta Cíntia Domit Bittar, diretora do curta. “Quis construir uma história para o público alvo infanto-juvenil, em que a protagonista fosse uma garota e que proporcionasse essa reflexão de que devemos ocupar esse espaço de política institucional”.
O curta explora também o cotidiano familiar dessa família preta, formada só de mulheres, que vive as consequências dessa falta de representatividade. Enquanto assiste à mãe no seu ofício, Andréa observa não só o cuidado que a matriarca tem com idosos, ao mesmo tempo em que recebe uma carga de responsabilidade que muitas meninas da sua idade não teriam. “Gosto muito de falar dos idosos, esse medo da impermanência, acho que é um tema que também acaba tocando as pessoas”.
Ao lado de Umbrella, de Helena Hilario e Mario Pece, qualificado na categoria de curta-metragem de animação, de Carne, de Camila Kater, que disputa uma vaga no melhor curta-metragem documental, e Babenco, de Bárbara Paz, escolhido para representar o país no Oscar, Baile pode disputar a estatueta de curta-metragem de ficção em live-action. “Costumo falar que quando vemos filmes brasileiros se destacando, principalmente filmes feitos por mulheres, eu falo que isso é o encontro das políticas públicas com os talentos do setor. O cinema brasileiro, nossa potência, tanto artística quanto econômica, ela prova que política pública para cultura é um excelente negócio”.
Cíntia não acredita que a qualificação para o Oscar seja possível. “As chances são remotas”, diz. Mesmo assim, o holofote serviu de ferramenta para ampliar o debate. “Nós sentimos a necessidade de conversar com as pessoas sobre como a política institucional influencia o cotidiano de nossas vidas, sem mesmo que a gente perceba”, finaliza.