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Os desafios do grande prêmio do cinema na 92.ª edição

Cerimônia deve consolidar a força dos estúdios contra o streaming e reafirmar o recuo na maior participação de mulheres

9 fev 2020 - 03h11
(atualizado às 19h50)
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LOS ANGELES - A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood festeja, neste domingo, 9, a 92.ª edição da entrega do Oscar com um desafio e muitas explicações a dar. O desafio dos exatos 8.469 votantes é o de se impor diante do avassalador crescimento da indústria do streaming (só a Netflix tem 24 indicações) e reservar os principais prêmios para produções concebidas principalmente para as salas de cinema. Já explicações buscam difíceis argumentos para o recuo da participação de outros gêneros (que não só o masculino) e outras raças (que não apenas a branca) nas principais categorias.

Foto: SpinOff

Afinal, os números apontam para uma efetiva mudança: em 2019, mulheres e negros figuraram mais proeminentemente em filmes populares que em qualquer outro ano medido, segundo relatórios divulgados na semana passada. Uma pesquisa da Universidade do Sul da Califórnia revelou que 31 dos 100 filmes mais importantes de 2019 apresentaram um ator ou um coadjuvante negro. A cifra supera os 27 de 2018, que já era um recorde.

Já as mulheres também estabeleceram uma nova marca: foram protagonistas ou coadjuvantes em 43 dos 100 filmes, ante 39 em 2018. Para completar, as mulheres nunca estiveram tão presentes nas indicações para o Oscar, somando 65 dos 209 candidatos. Mesmo assim, as principais categorias destacaram atores brancos.

"É claro que Hollywood está tomando medidas para criar histórias mais inclusivas e que esses filmes estão se conectando com o público", disse ao New York Times a pesquisadora Stacy L. Smith, que organiza a pesquisa do sul da Califórnia. "No entanto, há também uma desconexão muito óbvia entre o que vende ingressos e o que ganha pontos de premiação."

A evidência está na lista ao lado: entre os indicados para melhor direção, os críticos (especialmente as mulheres) reclamaram da ausência da cineasta Greta Gerwig, pelo belo trabalho em Adoráveis Mulheres. Nem precisa ser muito rigoroso no exame da lista para perceber que oito dos nove filmes (menos Parasita) que disputam a principal estatueta são sobre pessoas brancas. Mais: excetuando Adoráveis Mulheres e o protagonismo de Scarlett Johansson em História de um Casamento, as demais tramas são sobre homens brancos.

Na verdade, um jogo de referências fechadas, como observou Ann Hornaday, do jornal The Washington Post - olhando em conjunto, Era Uma Vez... em Hollywood, Parasita, Coringa e O Irlandês muitas vezes se parecem como um círculo de autocongratulação de riffs e referências mútuas, com o sul-coreano Bong Joon-ho citando Quentin Tarantino, que vive se referindo a outros, e o diretor de Coringa, Todd Phillips, mencionando Martin Scorsese, que adora citar a si mesmo. O resultado, segundo Ann, é um circuito fechado de menções cinematográficas, acenos de cabeça e homenagens, que é muito menos convincente quando se observa de fora.

Nesse jogo de bons companheiros, está fora 1917, de Sam Mendes, o grande candidato ao Oscar de melhor filme. É também a grande cartada de Hollywood contra o avanço das produções financiadas por empresas de streaming. Afinal, o longa sobre a tensa missão reservada a dois soldados é mais bem desfrutado em uma sala grande, com som potente. Condições necessárias para entender de fato esse audacioso exercício cinematográfico, em que a história parece contada em tempo real graças à prodigiosa direção de Mendes, que dá a impressão de ter rodado uma única e longa cena.

Os filmes 1917, com produção da Universal, e Era Uma Vez..., da Sony, estão na linha de frente de produtos sofisticados oferecidos pela indústria do cinema, sugerindo que os grandes estúdios de Hollywood estão dispostos a investir em originalidade e visão de direção, e não apenas em super-heróis e desenhos animados.

Tal linha de conduta abre caminho também para produtos estrangeiros de qualidade, o que torna a nova categoria de filme internacional cada vez mais importante. "Essa categoria traz a voz global", disse, na noite de quinta-feira, o roteirista Larry Karaszewski, que faz parte do grupo que seleciona os longas dessa área. "O que comprova que cinema traz uma linguagem universal."

Com isso, pavimenta-se cada vez mais o caminho para o sul-coreano Parasita, a sensação da temporada, conquistar o que parece ser impossível: o Oscar de melhor filme, honraria que jamais foi concedida a um estrangeiro. No encontro dos diretores de filmes internacionais, na quinta, Bong Joon-ho foi o mais festejado pela plateia formada por fãs. Ele preferiu cortejar o espanhol Pedro Almodóvar e, questionado sobre o segredo do sucesso, foi lacônico: "Vivemos em uma mesma sociedade, apesar das diferenças linguísticas e sociais. Daí os problemas serem praticamente os mesmos".

Sobre a cerimônia, alguns detalhes ainda não foram revelados, mas são aguardadas homenagens a Kobe Bryant, ex-jogador de basquete que levou o Oscar de curta de animação no ano passado, por Dear Basketball, e ao veterano ator Kirk Douglas.

Hollywood se prepara para o Oscar:
Estadão
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