Para viver Renato Russo, ator muda para DF e supera medo de cantar
Thiago Mendonça disse que não tinha coragem de cantar quando foi convidado para protagonizar 'Somos Tão Jovens'
"Coragem para cantar, eu não tinha". A declaração do ator Thiago Mendonça chega a ser inimaginável após a exibição do filme Somos Tão Jovens para a imprensa.
Intérprete de Renato Russo, ele mesmo cantou no longa-metragem que mostra a trajetória do músico (morto em 1996 em decorrência de complicações provocadas pela aids), desde a adolescência, em suas "aulinhas de inglês", os momentos de curtição com sua turma - entre os amigos estavam músicos que futuramente formariam Capital Inicial e Paralamas do Sucesso - e sua busca por integrantes para compor uma banda, que começa com Aborto Elétrico e vai até o primeiro show da Legião Urbana no Circo Voador, Rio de Janeiro, em 1982."Fazendo esse filme, percebo que é muito mais corajoso (cantar), porque vem de dentro mesmo e precisa muita coragem para você encarar uma plateia, uma audiência. Poxa, esses rock stars são heróis para mim. Essa coragem eu acho que me faltava, uma segurança, além de toda técnica também, que chegou depois", disse em entrevista ao Terra, durante o 4º Encontro do Cinema Nacional, em Jurerê Internacional, Florianópolis (SC).
Esta não foi a primeira vez que Thiago viveu um cantor no cinema. Em Dois Filhos de Francisco, ele interpretou o sertanejo Luciano, da dupla com Zezé Di Camargo, mas o personagem não exigia que ele cantasse. "Agora já vim com esse desafio de agregar ao atuar o cantar", afirmou.
Apesar do receio, o dom musical foi algo que o surpreendeu logo nos primeiros ensaios. "Nós estávamos começando a ensaiar Ainda é Cedo e dei o microfone para o Thiago. Sem ele saber, eu gravei. A gente tocou e tal e, sem falar nada, dei play. Vocês precisam ver a expressão dele se ouvindo cantar, que nunca tinha se ouvido cantar. "Sou eu? Isso foi gravado agora?", perguntou. Ele ficou muito espantado. Foi maravilhoso presenciar uma pessoa tão talentosa descobrir a música", lembrou o diretor musical Carlos Trilha.
A ideia de não usar playback partiu de Trilha, que usou a mesma técnica para gravação de DVD de show para rodar o longa. "Misturamos técnica de cinema com gravação de show e deu muito certo. O maior desafio foi a sincronização, que poderia dar um efeito errado de playback. Para quem estava acostumado com áudio de DVD, foi relativamente simples a gravação", afirmou o diretor.
Para encarar o desafio, o protagonista Thiago Mendonça mudou-se para Brasília por três meses e mergulhou na história de Renato Russo. "Me desloquei da minha vida totalmente. Fiquei três meses filmando, distanciado das minhas coisas, sem voltar para a minha casa. Voltando para o meu quarto de hotel, que também estava envolto de coisas do Renato, vivendo isso o tempo todo. Então, acho que toda essa coisa passa a ser muito orgânica, e natural", disse o ator, para em seguida lembrar que não conseguiu imitar o músico em uma reunião recente com amigos no Rio de Janeiro. "Não era uma coisa consciente. Hoje, se eu tentar, talvez nem consiga repetir", acrescentou.
O convite para Thiago assumir o papel foi feito três anos antes do início das filmagens, em 2011. Desde então, "um alerta já ficou ligado para tudo o que dizia a respeito do Renato". Focado no trabalho, o ator nunca temeu a aceitação dos milhares de fãs da Legião Urbana. "Eu tinha esse contato com fãs, mas isso nunca foi uma preocupação. Se fosse, poderia me medrar, porque é uma responsabilidade imensa, não só por eles, mas também um compromisso de retratar uma pessoa como ela merece ser retratada. O Renato era um ser muito especial. Teve essa passagem rápida e tudo mais, mas de tão especial está aí até hoje. Eu até brincava com o (Carlos) Trilha: "pô, será que, se o Renato me conhecesse, iria gostar desta escolha?", disse.
De tão envolvido com o projeto, o diretor Antonio Carlos da Fontoura contou que só chamava Thiago Mendonça de Renato no set e a atriz Laila Zaid, que interpretou Ana Cláudia, amiga de Renato Russo na trama, comentou: "eu brinco que só conheci o Thiago depois. Você entrava no quarto dele do hotel, entrava no mundo de Renato". "Devia ser o terror das camareiras. Era espelho rabiscado, pôsteres pendurados. Elas só entravam e arrumavam a cama", completou o ator. O diretor ainda brincou: "ele custou a virar o Thiago. Depois de três meses do filme, ainda era o Renato".
Fontoura pouco conhecia sobre Renato Russo, antes de dirigir o longa. Ele conversou com o vocalista da Legião Urbana apenas em um brunch e o admirava musicalmente quando escutava suas músicas no rádio, mas "não era um cultor dele". "Eu aprendi a amar Renato Russo através do Thiago. O outro eu mal conheci. Então, para mim, o Renato Russo é ele (Thiago Mendonça). Tão simples", explicou ele, orgulhoso do intérprete do cantor.
Somos Tão Jovens estreia nos cinemas brasileiros no dia 3 de maio.
*A repórter viajou a convite da Imagem Filmes.