'Piedade' escancara destruição do meio-ambiente no Brasil
Com Fernanda Montenegro, longa traz debate atual sobre o capitalismo desenfreado, as novas tecnologias e a devastação da natureza
Desde os seus tempos de militância cultural como ator e cineclubista em Caruaru, Pernambuco, o diretor Cláudio Assis já sonhava em retratar os mais pobres, os marginalizados pela sociedade. Foi assim desde o seu primeiro longa-metragem, Amarelo Manga (2002), e segue até hoje com Piedade, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (5).
Com elenco composto por grandes nomes como Fernanda Montenegro, Matheus Nachtergaele, Irandhir Santos, Cauã Reymond e Gabriel Leone, o filme retrata o conflito entre uma grande petroleira e uma comunidade tradicional no litoral de Pernambuco, nos arredores do Complexo Portuário de Suape. Desde sua construção no final dos anos 80, a região tem sofrido com a degradação de seu ambiente natural, a contaminação das águas e o aumento da presença de tubarões, que costumam seguir as embarcações e, muitas vezes, chegam a atacar moradores e turistas.
Para construir Piedade, o diretor uniu essa história com outro caso real que aconteceu em sua própria família: o roubo de um irmão ainda na maternidade. De maneira brilhante, Fernanda Montenegro dá vida a essa mãe sofrida, que passou a vida inteira em busca de seu filho (Cauã Reymond) e, agora, precisa lidar com os avanços de uma grande corporação que quer comprar seu terreno. Ali funciona o bar Paraíso do Mar, que viu sua clientela esvaziar após a chegada da empresa e a consequente inutilização das praias da região.
"Minha mãe é uma guerreira que lutou a vida inteira para encontrar esse filho. Busquei unir essa história familiar com os problemas causados pelo Porto de Suape, trazendo temas que são cruciais para a sociedade neste momento", explica Assis.
A resistência da comunidade ganha voz por meio de uma interpretação emocionante de Irandhir Santos - coincidentemente ou não, o ator havia vivido um empresário ganancioso na novela Amor de Mãe e, agora, ganha o papel do ativista ambiental.
O vilão da história, neste caso, é interpretado pelo ator Matheus Nachtergaele, um representante da Petrogreen que tenta convencer os moradores a vender seus terrenos. Um homem frio, calculista e dominado pelo sistema capitalista, mas que esconde muitos segredos íntimos. "O meu personagem nesse filme é um pouco aquilo que eu poderia ter sido se eu não tivesse escapado das garras da burguesia, da minha família paulista. Um protobolsonarista, que faz tudo para subir na vida, tudo por dinheiro, que tem uma relação mentirosa com a mãe e uma sexualidade dentro do armário", conta o ator.
Para ele, o lançamento do filme no momento atual que vivemos no Brasil é de extrema importância para alertar a população. "É um filme de presságio. Para quem gosta de cinema e está incomodado com o rumo que tomamos no Brasil, esse é um grande filme para ser assistido nessa volta aos cinemas", diz.
O Terra conversou com o diretor Cláudio Assis e o ator Matheus Nachtergaele sobre as expectativas para o lançamento do filme, os desafios na construção dos personagens e o futuro do cinema nacional. Confira no vídeo: