Samuel L. Jackson sobre bastidores de Django: "bebidas e música"
Samuel L. Jackson tem fama de ser um dos atores que mais trabalha duro em Hollywood e é fácil comprovar isso. É só ver a lista interminável dos 148 filmes nos quais ele já atuou, durante 40 anos de carreira. Só em 2012, estrelou seis produções, e essa tem sido a média do ator, que passeia no universo dos super-heróis, das histórias em outras galáxias e no particular mundo polêmico e nada unânime do diretor Quentin Tarantino. Nesta sexta-feira (18), estreia no Brasil o quinto filme dessa parceria: Django Livre. O longa traz toda a violência e o sarcasmo, marcas de Tarantino, com Samuel Jackson no papel de puxa-saco de Leonardo DiCaprio.
Jackson e Tarantino trabalharam juntos anteriormente em Bastardos Inglórios (apenas voz), Kill Bill: Vol.2, Jackie Browne e Pulp Fiction. Mas a coleção de filmes e até clássicos estrelados por ele vão além: Parque dos Dinossauros, Star Wars 1,2 e 3, Homem de Ferro, Os Vingadores, Duro de Matar, Despertar de um Pesadelo e por aí vai.
Incansável aos 64 anos, a lista do que está por vir também é extensa: está gravando Robocop, do diretor brasileiro José Padilha, Tarzan e Turbo. Na sequência, devem vir ainda Capitão América 2, Os Vingadores e um filme temático sobre seu mais repetido personagem: o superespião e agente de elite da S.H.I.E.L.D, Nick Fury, do Universo Marvel.
Nessa entrevista em Los Angeles, Jackson contou como foi atuar em mais um filme de Tarantino, como compôs seu personagem Stephen, o mais antigo escravo de propriedade do fazendeiro Calvin Candie (DiCaprio), e a alegria que é trabalhar com Tarantino, sempre regada com liberdade criativa e muita bebida alcóolica.
Confira a entrevista completa:
Terra - Você pode nos dizer o que o atraiu para fazer Django Livre?
Samuel L. Jackson
- Quentin Tarantino.Terra - Poderia ter sido qualquer roteiro, qualquer história?
Samuel L. Jackson - Fiz cinco filmes com ele. Ele chama e eu digo: "ok, legal."
Terra - Você acha que Tarantino sempre tem você em mente, como ator, já que fizeram tantos trabalhos juntos?
Samuel L. Jackson - Aparentemente, não. Em Bastardos Inglórios, por exemplo, fiz apenas um narrador. Levou um tempo para ele dizer "ok, eu vou usar a sua voz". Perguntei se poderia ser o garoto negro na França, mas ele me perguntou se eu falava francês e eu disse: "bem, não. Será que isso importa?".
Terra - Mudou alguma coisa no relacionamento de vocês depois de trabalharem juntos em tantos filmes?
Samuel L. Jackson - Não. É praticamente o mesmo. É como se emendássemos um filme no outro. Vamos ao set de gravação, nos divertimos muito, rimos muito, trabalhamos muito e ele dá muita liberdade para criar, que é o que eu preciso. Eu acho que o maior problema que tive neste filme foi tentando descobrir como deveria ser o meu personagem, Stephen. Assim que descobri, tudo foi muito bacana.
Terra - Como você descreveria o seu personagem?
Samuel L. Jackson - Ele é velho, negro e um escravo. Pertence a Leonardo DiCaprio. Stephen tem mais liberdade do que qualquer outro escravo na plantação. Eu sou o cara que dirige a plantação, mesmo quando o mestre está lá. Tenho um monte de liberdade e poder, por ser o mais antigo e mais velho escravo. Sei onde todos os esqueletos estão enterrados e tudo.
Terra - Teve que pesquisar sobre a escravidão nos Estados Unidos para fazer esse papel?
Samuel L. Jackson - Eu não acho que o ator tenha que aprender tudo como foi, nem pesquisar como fazer um personagem assim ou assado. Você tem que descobrir sua relação com os outros personagens do roteiro e a partir daí descobrir seu caminho dentro da história.
Terra - Você ficou surpreso de o Tarantino abordar um assunto como a escravidão? Como reagiu quando ele falou sobre esse roteiro?
Samuel L. Jackson - Não mais surpreso do que fiquei quando ele falou que iria abordar a Segunda Guerra Mundial ou quando disse que uma menina branca iria para o Japão aprender a usar uma espada. Quentin tem uma mistura interessante de fatos históricos e 'fatos Tarantinicos'. Tudo funciona e é divertido.
Terra - O que você prefere, super-heróis ou faroestes?
Samuel L. Jackson - Eu acho que, se tivesse que fazer uma escolha, escolheria faroestes. Cresci assistindo a filmes de faroeste. Cresci com Gene Autry, Roy Rogers, Lash LeRoux e assistindo a séries como Have Gun - Will Travel e Wanted Dead or Alive. Faroestes costumavam ser a coisa mais importante do cinema e da televisão aqui nos Estados Unidos. Ganhava armas de brinquedo todo Natal e eu e meus amigos brincávamos de cowboy e índio. Então, sempre gostei de filmes de faroeste.
Terra - No set de filmagens, qual particularidade de Quentin Tarantino deixa ele diferente de outros diretores?
Samuel L. Jackson - Ele serve bebidas alcóolicas e sempre tem música.
Terra - Isso é verdade.?
Samuel L. Jackson - É.
Terra - O que ele serve?
Samuel L. Jackson - Tequila alguns dias, outros bourbon, Moonshine (whisky de milho), margaritas, saquê. São dias para beber bastante.
Terra - Qual você acha que é o melhor filme de Tarantino?
Samuel L. Jackson - Jackie Brown.
Terra - Por que?
Samuel L. Jackson - É uma história maravilhosa, um filme muito bem feito, grandes personagens. É um filme bem adulto sobre um monte de gente na encruzilhada tentando tomar decisões sobre o que fazer com suas vidas.
Terra - Você notou nesse tempo que trabalham juntos alguma diferença na forma do Tarantino trabalhar?
Samuel L. Jackson - Não, sempre foi o mesmo. É muito divertido.
Terra - Mas agora ele tem mais dinheiro para fazer um filme...
Samuel L. Jackson - Dinheiro, grandes gruas e outros apetrechos, um monte de coisas. Mas sempre houve música e temos sempre o Quentin sentado ao lado do monitor rindo no meio das gravações ou reagindo a uma cena, e a gente não consegue nem terminar. Ele não mudou. O mesmo entusiasmo, a mesma alegria, a mesma liberdade criativa. É simplesmente maravilhoso. É um ambiente maravilhoso para trabalhar.
Terra - Qual foi o maior desafio da produção de Django Livre, para você?
Samuel L. Jackson - Maior desafio da produção foi o calor de Nova Orleans e mosquitos à noite.
Terra - Você espera que o filme seja controverso tanto quanto os outros filmes de Tarantino?
Samuel L. Jackson - É um filme de Quentin Tarantino. Como não pode ser? E não importa o assunto. Algumas pessoas ficaram incomodadas com Bastardos Inglórios porque ele mudou a história ou porque ele fez isso ou aquilo. Quando fizemos Jackie Brown ficaram chateados com a linguagem e por aí vai. As pessoas acham muitas coisas, que é demasiadamente violento ou é muito isso ou é muito aquilo. Mas isso é Quentin Tarantino.