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Selton Mello mira Hollywood: "já tem gente querendo me conhecer"

26 nov 2012 - 13h40
(atualizado às 13h51)
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Marina Azaredo
Direto de São Paulo

Quando Ticiane Pinheiro entrou no espaço da Livraria da Vila do shopping JK Iguatemi, em São Paulo, reservado para o lançamento do livro de Selton Mello todos os flashes se voltaram para ela. A sessão de autógrafos ainda não havia começado e Ticiane não estava nem sabendo do lançamento de

O ator e diretor lançou o livro 'O Palhaço' em São Paulo
O ator e diretor lançou o livro 'O Palhaço' em São Paulo
Foto: Edson Lopes Jr / Terra
O Palhaço

, livro que conta histórias e bastidores do filme de mesmo nome, escrito, dirigido e protagonizado por Selton. Mas, ao tomar conhecimento do evento recheado de fotógrafos durante um passeio com a filha Rafaella, a mulher de Roberto Justus não perdeu tempo: foi até o local, pediu um autógrafo, posou para fotos e ainda chamou o ator-diretor-escritor de "lindo".

Simpático, Selton agradeceu o elogio da filha da "eterna Garota de Ipanema", autografou um exemplar, olhou para um fotógrafo, olhou para outro, para mais um, distribuiu sorrisos comedidos, até que foi interrompido pela assessora. Havia, ainda, um grupo de jornalistas aguardando para entrevistá-lo. E ele precisava atender todos antes das 19h, horário marcado para o início da sessão de autógrafos e que a apresentadora Eliana - dona da Master Books, editora responsável pela publicação do livro - fazia questão que fosse cumprido à risca. Já passava das 18h30.

Naquela segunda-feira, 12 de novembro, Selton deu entrevistas para a TV, para rádios e para a internet. E, apesar da fama de não ser lá muito simpático, respondeu a todas as perguntas dos repórteres - muitas delas repetidas - sem demonstrar cansaço ou impaciência. Quando faltavam apenas cinco minutos para as 19h, o ator foi apresentado à reportagem do Terra. Em pé, depois de mais um bombardeio de flashes - dessa vez, com a apresentadora Maria Cândida, que havia acabado de entrevistá-lo -, ele ainda fez um pedido para a assessora antes de começar a entrevista.

"Tá vendo aquela menina ali da fila, de bota? Ela é atriz do Sessão de Terapia (seriado que vai ao ar no GNT, dirigido por Selton), é a Bianca Muller. Se der para tirar ela da fila e trazer aqui para umas fotos, acho que seria legal", sugere ele. A essa hora, uma longa fila de fãs, admiradores e curiosos já se formava na espera por um autógrafo do ator.

Depois de arrumar um lugar para sentar e se certificar de que essa era a primeira vez com a repórter - "já nos conhecemos de outra ocasião, não?" - Selton começa, enfim, a entrevista. Ele responde a perguntas sobre o livro que está lançando, o filme, a possibilidade de concorrer ao Oscar, a vontade de ter uma carreira no exterior, o seriado do GNT e até sobre um possível retorno às novelas. E faz uma revelação: foi cotado para integrar o elenco de Avenida Brasil. Selton seria Tufão? "Não sei, não havia um personagem específico, apenas um namoro", garantiu.

A sessão de autógrafos começou atrasada, apesar da presença de Eliana. Às 21h40, quando ainda havia uma longa fila e uma voz nos alto-falantes avisou que o shopping encerraria suas atividades em 20 minutos, Selton gritou: "daqui eu não saio!". Mais cedo, ele havia comentado com um funcionário da livraria que não sabia muito bem como funcionava essa coisa de lançar livro, já que esse era seu primeiro. Pelo visto, gostou da coisa.

Confira a seguir a entrevista.

Como surgiu a ideia de fazer o livro?

Eu tinha o sonho de ter um livro que fosse uma ramificação desse filme tão iluminado. Ele foi muito bem recebido pela crítica, fez mais de 1,5 milhão de espectadores e agora é o representante brasileiro para tentar chegar entre os cinco no Oscar. Aí encontrei a Eliana, que tem a editora Master Books, que basicamente faz livros de arte, e ela curtiu a ideia. O livro conta os bastidores, um pouco das minhas inspirações e, ao mesmo tempo, também tem textos bem sólidos sobre o circo no Brasil. É um documento bem consistente. E foi esse encontro com a Eliana que fez tudo isso acontecer. Sou muito grato a ela e ao esforço pessoal que ela fez para esse livro acontecer. E ficou um belo livro, tenho orgulho dele.

O preço do livro - R$ 39,90 - é uma exigência sua. Por quê?

Porque às vezes os livros são lindos, mas ficam para um público muito restrito. E, como esse filme foi um filme muito visto, muito querido, eu queria que essas pessoas tivessem acesso, queria que o público que curtiu o filme lesse também o livro. Então daí a ideia de ser um preço razoável.

Como foi o processo de fazer o livro? Qual foi exatamente a sua participação?

Todo o desenho gráfico foi feito pela Hardy Design, que é um grupo de Belo Horizonte que trabalha sempre comigo. A minha colaboração foi oferecer conteúdo, ideias e sugestões de ordem - "podia começar assim, daqui a pouco ser isso, daqui a pouco ter isso". Mas fizemos juntos, conversando, experimentando e chegamos num resultado que agradasse a todos.

Como está a expectativa para o Oscar?

Grande, mas ao mesmo tempo é uma loteria. São 71 filmes para cinco vagas. Vamos ver. O filme tem força, pode comover os votantes da academia, mas não dá para saber. Eu vou para lá semana que vem fazer uma campanha, mostrar o filme para formadores de opinião, para a crítica, para pessoas da indústria. E isso é uma coisa muito legal, porque simplesmente esse fato já é incrível. Eu vou poder mostrar o meu trabalho para muita gente que nem sabia quem eu era. Isso é um prazer enorme. Se a gente conseguir ir além, vai ser uma alegria gigante.

Quais são as qualidades do filme em relação aos concorrentes?

Acho que é um tema universal: um indivíduo que está se questionando se deve continuar fazendo aquilo que ele faz, se é realmente talentoso naquilo que faz ou se está simplesmente seguindo o que o pai faz. Isso é absolutamente universal, só que pelo ponto de vista de um palhaço, com uma atmosfera circense. Então visualmente ele é muito rico, é um filme que enche os olhos. E eu acho que um outro ponto positivo, que pode chamar a atenção lá nos Estados Unidos, é o fato de ele não oferecer nenhum clichê que se espera da gente: Carnaval, favela, violência, Rio de Janeiro, samba, miséria, sertão. Nenhum deles está no filme. É uma história lírica, um palhaço com crise existencial, e ao mesmo tempo é divertido, com um humor muito non sense, muito peculiar. É um filme doce, que faz sonhar, acho que é aí que está a força dele. Mas gente compete com filmes caríssimos. O filme da Dinamarca tem um orçamento de 40 milhões de euros, é uma super produção. A força de O Palhaço é a simplicidade, e é aí que ele pode surpreender. É uma loteria grande, mas vamos tentar.

Você está cada vez mais focado na direção. Tem algum plano de parar de atuar?

Não, vou continuar sempre fazendo um pouco das duas coisas. Às vezes juntando as duas coisas, como aconteceu em O Palhaço, e às vezes não, como aconteceu no Sessão de Terapia, em que eu quis ficar só atrás das câmeras mesmo. Dirigir é uma chance de eu poder me expressar de uma maneira mais ampla.

E novela? Você elogiou Avenida Brasil recentemente. Pensa em voltar a fazer novela?

Avenida Brasil foi o máximo. Eu fui mais um dos que elogiaram a novela. Pretendo fazer novela, sim. Com a própria Avenida Brasil tive um namoro, mas aí não deu por vários motivos. Mas tenho vontade, sim. Novela é um fenômeno brasileiro, que ainda tem espaço, mesmo com internet, com TV fechada. Ainda existe um grande público que curte muito ver as nossas novelas. É muito legal.

Você teria feito que personagem em Avenida Brasil?

Não teve um especial. Teve um namoro assim de quem sabe um ou outro. Estava bem aberto, na verdade.

E a experiência no Sessão de Terapia?

Foi maravilhosa, uma bela experiência. Foi um seriado que deu super certo para o que a gente se propunha, ele mais do que triplicou audiência do horário no GNT. É um seriado que vicia,p orque é muito humano. Você fica querendo ver onde aquelas pessoas vão parar com os dramas delas, onde aquilo vai chegar, é muito bem engendrado. Foi um trabalho que me deu um grande prazer. Trabalhei com grandes atores, gente nova, gente mais velha. Pude trabalhar como diretor de uma maneira bem ampla, bem forte.

Você pensa em tentar carreira internacional?

Penso, mas sem fazer com que as coisas parem aqui. Na verdade, o que eu sempre imaginei como uma possível carreira no exterior é mais ou menos o que está acontecendo agora. Eu nunca pensei "vou parar tudo, vou para lá, vou ficar tentando, vou começar do zero". Eu sempre pensei "se eu fizer alguma coisa que seja forte o suficiente e que ecoe, que passe em algum festival, que faça algum barulho e isso gere uma carreira internacional, aí sim". E é o que está acontecendo com o O Palhaço. É um filme que me abriu as portas lá fora, que deixou gente interessada no meu trabalho. Com essa história do Oscar, já tem pessoas que querem me conhecer, porque estão curiosas pra saber quem é esse cara que escreveu, dirigiu, atuou no filme que é o representante brasileiro. E isso já abre boas portas lá. Então quem sabe, né?

Fonte: Terra
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